[ e se eu disser que já não sinto nada ]

Não me pergunte hoje como vai o dia. Não me pergunte se tenho novidades. Não tenho mais nada. O que restou são destroços de uma vida que eu não construí, e já estou desconstruindo. Não que isso seja triste, é apenas uma processo doloroso. Achar que sou alguém e sirvo para tal coisa e depois ver que não sou ninguém e não sirvo pra nada. Ou ainda não sei bem certo pra que. Estou desconstruindo sonhos, planos, projetos. Começo com a carreira, a profissão escolhida, passo pelos sonhos da adolescência, do início da juventude, termino desconstruindo as ilusões sobre o verdadeiro amor e desconfiando da fé. Derrubar os muros que me cercavam, o muro da certeza e segurança profissional, muro da fé em si mesmo, muro do reconhecimento social, tudo colocado a baixo. Este é o primeiro passo, para construir uma nova vida. Mas o maior problema não é ver tudo em que se acreditou e tudo para o que se dedicou durante anos dar em nada, o maior problema é já não ter forças pra começar a construir novas coisas. Na verdade nem saber o que deve ser construído. Que sonhos sonhar? O que fazer? Pra onde ir? Sem ninguém pra recorrer, pelo contrário a sina de ser a força, de ser quem ouve e aconselha não mudou. Nada muda. Até quando? Eu preciso dizer que não agüento mais, que todos os dias choro um pouco e às vezes nem sei bem porque. Não sei dizer se ainda acredito que o amanhã me reserva algo novo, todos os dias são tão iguais. Às vezes surge uma dor nova, uma outra dúvida, um pouquinho a menos de fé... um pouco mais de realismo. Uma luta aqui, outra ali e nada se resolve pelo contrário tudo parece piorar. Como ignorar a dor dos outros e me deixar viver a minha própria, que ninguém vê? Se estou sempre sorrindo não quer dizer que eu esteja sempre feliz. Hoje tudo que eu consigo ver é um monte de sonhos frustrados, um monte de boas intenções que não passaram disso, de cicatrizes escondidas, que só eu vejo. E o que ouço são as vozes me cobrando, fez isso, fez aquilo, “você tem que acreditar” eles me dizem. Acreditar em que? Em vocês? Não acredito nem em mim. Eu espero que tudo mude, mas não vejo como isso pode acontecer. E depois de tudo isso dito, as coisas continuam exatamente como estavam. Como será amanhã? Não há resposta. “Hoje o dia começou de um jeito nada especial. Hoje o sol não acordou. E deixou tudo tão normal. Só um café bem forte pra acordar. Só com horário pra chegar. Hoje o tempo não passou e o dia nunca chega ao fim. Hoje ninguém se lembrou que não precisa ser assim. Não importa quão ruim que esteja você pode fazer com que seja um dia perfeito. Um dia perfeito você pode fazer. Hoje o dia começou de um jeito nada especial. Hoje a história não mudou, mas pode ter outro final.”

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