Conectados

Eu ando querendo tanto me desconectar do mundo e me conectar mais a você.

Por uma tarde de sábado




Eu te acho lindo. Fico aqui sentada no sofá, te olhando no vão da porta da cozinha.  Me perguntando como pode alguém ser tão perfeitamente imperfeito. Teus defeitos se encaixam nas minhas qualidades, e meus defeitos se encaixam na curva no teu ombro direito.

Seu nome que rima com o meu, o tom da tua voz em harmonia com o toque dos meus dedos naquele teclado velho que você comprou pra gente ensaiar algumas do Esteban. Eu queria te ouvir chamar meu nome, ainda que eu não me chame Sophia.

Eu fico deitada esperando seu café, sentindo teu cheiro no edredom, eu não sei muito o que te dizer, você chega e eu sussurro um obrigada, obrigada por este sábado à tarde, obrigada por que desde a sua chegada todos os dias são como sábados de inverno, um café doce, um abraço quente, e lá fora as árvores em sinfonia com o vento. 



Me diz









Para ler ao som de Stand by me, Oasis.

Então, qual o problema? Eu fiquei aqui por anos esperando você me notar e ver que o que eu sentia ia além daquelas noites de você na sala e eu no seu quarto. Ia além da segurança que eu sentia quando ouvia sua voz, quando te encontrava com uma nova namorada que, aliás, eu nunca gostei.

Você tem de admitir que tentar nunca pareceu um erro.  Nesses meses em que dividimos o sofá e o quarto, e todo o resto que já era nosso, essa história ficou mais confusa do que esperávamos. Temos de lidar com o fracasso de algo que parecia inquebrável, eterno. Tem algum jeito de lidar com isso enquanto dividimos uma mesa de bar tentando entender como isso se tornou tão pesado?

Fica comigo, ainda tem uma garrafa daquele seu vinho favorito na geladeira, vamos acabar esse domingo com ele, pra ver se ele acaba com esse frio que nos faz tremer quando estamos frente a frente. Ninguém precisa saber que o fim chegou, só aperte minha mão embaixo da mesa, procure meus pés mais uma vez embaixo do edredom. Eu poderia prometer que te esquentaria se não estivesse tão frio. Mas eu prometo te acompanhar naquela do Oasis, que é a sua favorita.

Vamos deixar pra amanhã esse fim inevitável, por hoje você é meu melhor amigo me ouvindo sentir o fim de um amor. Você acha que eu posso fazer algo para mudar isso? Você acha que ele ainda me ama?

Quanto tempo dura um amor? Nesse tempo a gente pode incluir o tempo em que amou sozinho? Me diz e canta aquela sua nova pra mim. 


I miss you


Eu não estou mais aguentando sentir a sua falta

Um lar além da casa



Oi, amigo. Te escrevo com a certeza de que só escrever pode salvar. De que cada palavra é um momento em que volto à superfície para respirar. Estou cheia de palavras e me afundo. Vou te escrever e tentar ficar mais leve, boiar e ficar por cima dessa água toda que me submerge.

Temos uma vida inteira e não sabemos o que fazer com ela. Já dançamos, brincamos, cantamos, tocamos, amamos, gritamos, brigamos, e agora quê mais se pode fazer? Você sabe que digo isso com o peito ferido de quem perdeu-se no caminho que trilhou. Esse caminho de tentar de tudo quanto fosse possível para não caminhar sozinho. Levou-me onde? Nessa estrada em que tudo me irrita. E nada me acalma.

Não fique com dó, que eu não durmo. Tenha raiva, mas não tenha dó. Há quanto tempo desejando pequenos momentos a sós, vinho e pizza, sem ninguém para julgar? Horas de liberdade. Até que os monstros que nos assustam chegam, e mesmo que nos assustem ainda os amamos, é o jogo social. Amamos o que temos, tememos perdê-los, embora nos doam. Você, mais do que ninguém, consegue me compreender.

E não adianta me jogar na cara aquele convite pra morar contigo há dois anos que não aceitei. Sendo hoje eu também não aceitaria. É aí que tá. O problema não é a companhia, é que morar sozinha é um sonho, que já completa 12 anos. E veja só não tenho perspectiva alguma de alcançar isso nos próximos anos.

Não ri. Hoje cogitei a ideia de ainda estar aqui aos 30. Imagina só, continuar por mais seis anos a não me sentir em casa se não dentro do meu quarto rodeada de livros e boa música. Veja que não é que não amo, é que para continuar amando eu queria compreensão e respeito, parece que duas palavras que não se conhece por aqui.

Mas, não se preocupe, pretendo atinar-me em tarefas tantas que por aqui virei só para dormir. Talvez me vicie em algum relaxante muscular, tomei um ontem que me deixou tão zonza que em 10 minutos desmaiei. Viva o relaxante, o sono, o sonho, a cama, o edredom. Viva o que não acontece enquanto estamos dormindo!

Já que não vamos dividir a casa, divide comigo essa agonia, e a busca por uma solidão mais vazia. As pessoas não entendem e argumentam que me sentirei muito sozinha numa casa só minha, elas não entendem que já me sinto só, só que não estou. 

Aquela coisa clichê




Vai embora, some! Eu pedi em um tom educado e sufocando um por favor, não me deixe aqui sozinha com o pior de mim. Eu preciso do teu colo pra me aguentar. Seria o pedido mais injusto, contudo o mais sincero e importante que eu teria feito. Eu amava a solidão antes de você.

O inverno tá chegando eu não vou aguentar meu frio de dentro sem tuas mãos pra me aquecer. Não deixe meu coração hibernar de novo. Fica, eu pensei enquanto batia a porta. Fui dormir aos prantos pensando se algum dia eu teria coragem dizer o que sinto sem ter medo de ouvir que você também sente ou que sente muito e não é nada disso.

Não importa o que eu disser daqui pra frente, eu já te pedi pra ir embora, como se fosse realmente o que eu queria. Eu só queria que você tivesse se imposto e dito que iria ficar, que era evidente que eu precisava de você, que iria me fazer um chá, ou um café, quem sabe abrir um vinho e me ouvir falar.

Eu só queria que você tivesse dito alguma algo, e que o barulho da porta batendo não fosse um eco insistente nos meus ouvidos. Me perdoa eu não sei dizer, fazer, sentir. Eu tenho que aprender tudo de novo e não é justo te pedir pra me ajudar a superar dificuldades que não foi você quem causou.

Mas é que hoje eu não consigo dormir sem aquele remédio que você me dava, e me acalmava, e me fazia dormir sorrindo, mesmo depois de tantas lágrimas. Eu não sei o que fazer sem você. 

Vai garota



Vai garota, coloque seus discos para tocar. Vá de Roberto Carlos a Kings of Leon. Ande pela casa de meia branca, abra aquela garrafa que você quer abrir há tanto tempo. Você merece. Feche todas as cortinas e dance, feche as janelas e cante não deixe escapar para quem não merece o lindo som da sua voz sem fôlego de tanta pular. Solte o cabelo.

Vai garota o céu está azul, coloque seu suéter cinza e vá comprar mais vinho. Não chame ninguém você hoje é sua melhor companhia. Coloque seus discos para tocar. Pule no sofá sua mãe nunca irá saber. Deixe a louça pra depois, hoje você precisa lavar a alma. Vá atrás daquele seu sonho que ninguém mais acredita.

Desate os nós da sua garganta e cante Lenine, Los Hermanos, Cássia Eller, Ana Carolina, recite Oasis e grite aquela do Foo Figthers. Não demore pra acordar, são todas as horas pra você passar com você. Nenhum compromisso te espera, hoje deixe aquela garota sempre cheia de razão de lado. Coloque seus discos pra tocar.

Vamos, se algum vizinho tocar a campainha pedindo pra baixar o volume o convide pra entrar, ofereça o café e o chame pra dançar. Deixe-o ser seu par. Não tire o pijama, desligue o celular, hoje atenta apenas suas próprias vontades. Você sabe, o que você quer mesmo é colocar seus discos para tocar, suar sem ser na academia, suar de alegria, se libertar. Não é preciso que ninguém mais veja você se vê por dentro.

Vamos garota, os discos estão empoeirados, quando cansar de dançar, vá tomar um banho e continue cantando. Seu quarto precisa ser arrumado? Cante aquela da sua boy band favorita, hoje você não tem compromissos profissionais, é uma garota cantando a sua música favorita, limpando o quarto, organizando tudo por dentro.

Vamos garota, coloque seus discos para tocar, me diga qual é a sua música favorita, eu espero que você alcance seus sonhos, hoje é tempo de sonhar acordada. Amanhã, mesmo que seja cinza, terá sol exalando de ti, luz e calor pro mundo tempestuoso lá de fora. Vamos garota, os discos não podem esperar.

Livremente inspirado na música Put your records on de Corinne Bailey
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