[More words than I had ever heard] JM

“Venho te presenteando, eu tenho tentado presentear-te todo este ano. Procurando o que de melhor e mais valioso eu poderia te dar sem que me custasse muito, não encontrei nada. Porque me custa muito dar sem receber. Ainda que seja pouco, é muito. Não sei se pode me entender. O que há de mais valioso em mim só pode ser seu se você quiser. É um sentimento novo, que tomou conta dos meus dias este ano. Sem saber me deste força para continuar a lutar. A esperança em você foi meu alimento. Sem saber se vou mesmo te encaminhar mais estas palavras, como se não bastassem todas as outras que já te escrevi. Tantas palavras com destino certo. Rua João Tozin, nº 85. Ou seu coração. Você deve concordar comigo que ambos somos surpresa na vida do outro. Nem em meus melhores sonhos eu ousaria te imaginar. Porque tens até defeitos que me fazem rir. Mas nem tudo são flores. Ou até são. São rosas cheias de espinhos. O Pequeno Prínicipe, diz que as rosas são frágeis e indefesas por isso têm espinhos que servem para protegê-las. Eu não sou uma rosa. Estou mais para margarida. Sem espinhos, sem nada que a proteja totalmente exposta a dedos maldosos que me arrancam segundo a segundo pétalas, desfilando o bem-me-quer mal-me-quer.
Eu esperei você. Enquanto isso eu ia arrumando a minha vida, deixando-a pronta para te receber. Eu fui me desfazendo dos antigos amores, eu fui te dando um espaço que não querias preencher. Eu fui te presenteando com o que eu tinha de melhor. Preservando-te do meu pior. Tanto que às vezes acho que não me conheces. Se não foi capaz de amar o melhor que eu te dava, como te apresentar ao meu pior? Tive medo de perder o pouco que você me dava. Vivi este ano todo dos minutos que me concedias ao telefone, vivi imaginando encontros, futuro distante. Pode chamar-me de ansiosa e precipitada eu não concordo. Chamarei de disposta e sonhadora. Há algo de que ninguém poderá me acusar na vida, de não ter tentado. Com todas as minhas forças, meu autocontrole, eu não liguei sempre que quis ouvir sua voz, eu não escrevi sempre que quis te dizer o que eu não tinha coragem de falar, eu não te chamei para sair sempre que quis sua companhia. E mesmo assim me sinto, senti o ano todo, mais dando do que recebendo. Jamais te cobraria algo. Porque atenção e carinho ou são gratuitamente concedidos ou não terão qualidade. Com medo de dar a você mais amor do que poderia suportar simplesmente não te amei. Meu autocontrole obteve 100% de êxito ao conseguir estacionar este sentimento em “gosto de você”. Não que em silêncio eu não tenha me perguntado se isso já não teria virado amor faz tempo. Nunca ousei me responder. Deixava o silêncio trazer algo de ti, bom ou ruim, para eu enfim dormir.
Me senti feliz com você. Mesmo que depois daqueles telefonemas, eu apenas pensasse – não vale a pena. Depois de tanto tempo sem te ver, eu começava a me esquecer do teu olhar, do seu sorriso eu simplesmente achei que era hora de desistir. Mas desistir de você representava desistir dos sonhos que te encontrar haviam despertado em mim. Desistir de todo aquele futuro que eu havia imaginado e só você poderia habitar. Não era você na poltrona ao meu lado no cinema, foi por isso que chorei. Como é que eu fui deixar as coisas chegarem a este ponto? Eu chorando por quem só me fazia sorrir? E eu me questionei se valeria a pena te esperar. Com medo de apagar o sentimento que tinha eu não desisti. Acreditando que você também sentia algo eu prosseguindo tendo esperanças de um dia construir um amor com você. Porque eu aprendi que os casais mais felizes são aqueles que construíram a vida juntos. Com base naquele amor maior que conhecemos bem. O amor que não é egoísta, que é longânimo, etc. Porque eu aprendi que acima do amor um casal precisa alimentar o respeito e a confiança, porque só amor não basta. Quantos casais se amam e se separam por falta de confiança, que gera a falta de respeito?
E eu quis te ensinar a amar sem medo. Mas como eu poderia ensinar algo que nunca aprendi? Você me conhece o suficiente para saber que crio possibilidades para tudo. E há também a possibilidade de eu não pensar em possibilidade nenhuma. Muito me incomodam os teus silêncios, e quantos textos eu escrevi sobre isso e você nunca leu. Silêncio para mim é um não. Na verdade é pior que um não. Porque também não é um sim. Deixa aberta ambas possibilidades. O silêncio é a pior covardia. Você não sabe tudo que eu ouvia quando você simplesmente não dizia nada. E eu dizendo tudo. E a cena se repete agora. Eu vou estendendo minha esperança até onde posso. Mas ela não é elástica. Eu vou precisar de uma borracha quando tudo isso acabar, perceba que eu penso no fim, antes mesmo do começo. Mas o que houve de concreto entre nós? De real? Palavras apenas. Já que os sentimentos são substantivos abstratos. De verdade mesmo, não houve verbos (ação) nessa nossa relação. E o que poderemos contar do que vivemos? Nada. Será como se não houvesse passado. Porque não serás meu ex-namorado, ou amigo. Não tenho como apresentar-te ao meu futuro. Nunca te entendi.
Quando te reencontrei meu coração estava calmo, batia normal, meu pensamento transitava entre as idéias – te querer pra sempre e deixar de te querer agora. E ele nunca decidiu. E ele ainda não deveria dizer nada disso. E talvez eu não diga. Mas enquanto você não souber da possibilidade que havia de sermos felizes juntos, nunca vou me sentir livre. E todas as vezes que eu saía com algumas pessoas, você deve imaginar alguns nomes e eu acrescentaria mais alguns na sua lista, eu me sentia como que infiel a você. Até perceber que não havia porque sentir assim já que não tínhamos nada. Não tínhamos, não temos, não teremos. Que grandes covardes fomos nós. A felicidade arrombando nossa porta e a gente fugindo pela janela. Fabrício Carpinejar disse que o outro sempre é covarde quando não fez o que a gente queria. Sendo assim, você foi minha melhor covardia. Porque fui capaz de admirar sua cautela, sua demora, sua racionalidade. Até certo ponto concordava com você. Eu penso que também devo ter sido covarde pra você. Gostaria de te perguntar tantas coisas, mas já fiz tantas perguntas que nunca foram respondidas. Quero alguém que fale,ainda que seja demais, fale. Que não peque pelo silêncio. Mas acho que você se arrependeu do que disse no início por isso elaborou estes últimos silêncios. Há um quê de arrependimento em tudo que você não diz. E o presente que eu queria te dar, é o mesmo que eu quis receber. O seu estará guardado. Até quando não sei. " Luana Gabriela 09/12/2009 “Quis tanto dar, tanto receber.
Quis precisar sem exigências.
E sem solicitações, aceitar o que me era dado.
Sem ir além, compreende?
Não queria pedir mais do que você tinha,
assim como eu não daria mais do que dispunha,
por limitação humana.
Mas o que tinha era seu.” CFA
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