Não é fácil... Concordo.




Não é fácil, é o que ele sempre diz. 

Ele diz que ela é dramática demais. Que é inconstante. Imediatista. Concordo. Ela também é sincera demais, com ela e com os outros. Ele é ele. Ela sou eu. Não vou mentir que sinto o que não sinto. Não vou mentir nem para mim, nem para ele, nem para ninguém. Não direi: sinto saudade. Eu nunca digo isso, se não for verdade. Saudade é além de sentir falta. Saudade dói. E hoje em dia nada dói. Eu sinto falta. Se ele não liga, se ele não escreve, fico triste quando ele não lê. Mas não sinto saudade. Não sinto porque saudade é palavra única, sentimento ímpar. Que acho que não sei sentir.



Também não digo que amo. Amor também é palavra única. Preciso de tempo, um tempo com e um tempo sem, para concluir amo ou não. Sinto saudade ou não. Posso sentir saudade estando ao lado, afinal nunca somos os mesmos. Eu mudou meu olhar, ele muda o sorriso, é fácil definir se é de feliz ou de nervoso. Não choro quando estou triste. Quando estou triste fico quieta, sumo. Ele já entendeu que meu silêncio é tristeza. Que quando brigo também é que estou triste. É capaz de dizer que tenho transtorno bipolar. Concordo. Vou da alegria à tristeza num segundo, depende apenas do modo como ele me abraça. Se fraco eu me irrito, se forte eu me entrego. Eu me sinto muito bem com tudo isso. Eu amo quando ele me liga, eu amo o que ele me diz, eu amo quando ele me escreve, eu amo pensar nele em minha vida daqui a 10 anos, mas sou sincera. Eu ainda não o amo.



Eu ainda gostaria que ele fosse mais sensível, que admirasse meu jeito de provocar, e não que se irritasse, apesar de que amo quando ele se irrita comigo e grita: Você vai me deixar loco. Você é louca e quer que eu fique também. Eu sempre rio, o amor é uma loucura. Nessa hora penso que estamos quase lá. Às vezes imagino quando conseguirei destravar as duas palavrinhas, trancadas aqui. Acho que vai ser num dia assim que seja podre, que dê tudo errado, em que ele não me atenda, não tenha tempo pra mim. Vou sair do trabalho correr para a casa dele, bater lá e dizer.. Então, amo. Ele não vai entender o porque. Ele não entende quase nada mesmo, mas aí eu vou explicar.



Amo quando você estende a vogal do meu nome, quando combina o meu nome com o seu inventando nome para nossos filhos. Amo quando você diz que gosta dos meus amigos. Amo quando briga comigo porque eu brigo com todo mundo. Amo quando contorna minha sobrancelha com seus dedos e beija minha testa. Amo quando escolhe meu chocolate preferido antes do cinema, amo quando advinha o filme que quero ver. Amo quando discute comigo por causa do futebol, da Fórmula 1, de música.



Eu amo a loucura de gostar de ser louca com você. De criar as minhas cenas, de ser dramática e ser madura dependendo do dia. Às vezes quero ficar em casa sozinha, mas amo quando você insiste e aparece de pantufas, como um convite para se trancar comigo. Eu te aceito porque você aceita meu silêncio. Por favor, espere, eu sei que vou te amar. E chego a pensar que pode ser por toda a minha vida. Mas eu ainda não amo. E não acredito que me ame, mas temos tempo. É impossível que o amor nasça em meses, dias, mas vem com o tempo. Eu arriscaria a dizer que com os anos. O amor vem. Carpinejar diz que o amor esquece de começar, eu quero que o nosso esqueça de terminar. Sou louca. Mas não o suficiente para dizer que amo o que não amo. Ou para amar sem dizer. Assim que eu sentir, vou aparecer na sua porta pra dizer: Então, amo. Ou talvez seja só um texto, como esse, chegando no seu email. Depois de um sábado inteiro em que não pude estar com você, quando senti saudade.. talvez seja um email, com um texto desses, escrito: Então, amo. Porque dizer, não é fácil. É o que você sempre diz.




Luana Gabriela
29/05/2010
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