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De pernas para o ar

A ampla reverberação do "é impossível ser feliz sozinho", faz com que mulheres bem sucedidas, bonitas, inteligentes, cultas, divertidas exponham-se a ter menos do que merecem só para não ficar sem nada. Toda mulher sonha mesmo em ter filhos, marido, casa para cuidar? (Não sou contra, tenho às vezes essas ideias também), mas precisamos generalizar? Para ser boa no trabalho, tem de se negligenciar a família? Para cuidar bem da família é preciso deixar de trabalhar? E para ter um homem ao seu lado - mesmo que só para não estar só - é necessário diminuir-se? 

Leia texto completo com base na análise do filme De pernas para o ar no blog: Não quero Falar disso!   (O blog voltou, mas com outra abordagem, linguagem e objetivo.)

De pernas para o ar

Cinema nacional: Palavrão/ sexo/ violência/ homem e mulher trocando de corpo. Este é um resumo e tanto do cinema nacional, alguns podem dizer. Contudo, é possível ter gratas surpresas. Abril despedaçado é uma delas. Sem violência, sem favela, sem muito palavrão, um dos filmes nacionais que eu mais gostei, dos que eu já vi, claro. E isso que gosto de violência - entram na minha lista de filmes nacionais "queridos" O bicho de sete cabeças, Carandiru e Tropa de Elite II. Mas a grata surpresa da semana é um filme bem menos pretensioso, ou não. 

Informação importante: Não sou crítica de cinema, e nem pretendo. Tudo que ler aqui são impressões em mim despertadas após assistir ao tal filme. Que filme? De pernas pro ar. Já no nome abre brechas para reflexões, talvez nem tão profundas, talvez sim. O título pode fazer referência tanto a inversão de papéis entre homem e mulher numa relação amorosa, quanto ao ato físico: pernas pro ar. No longa, o marido reclama que a mulher não lhe dá atenção, e a mulher é quem só pensa em trabalho. Deixando claro: não era esse o filme que eu queria ver, mas não me arrependi. 

A protagonista Marcela, trabalha em uma loja de brinquedos no departamento de marketing tem um relacionamento "seguro", um filho, e nas palavras dela: viajamos duas vezes por ano ao exterior, tenho uma vida ótima. Até que ela recebe uma indicação para ser promovida na empresa, o marido sai de casa e por um erro é demitida. A vida de pernas pro ar. Encontra uma vizinha com ares bem diferentes do dela.  Com o tempo, após julgamento mútuo de ambas, elas tornam-se amigas. Mas os pontos que me parecem interessantes são: Mulher bem sucedida perde um pouco da feminilidade (relacionada diretamente à emoção); liberação sexual feminina (ainda não muito aceita pelos homens) e o clichê "é impossível ser feliz sozinho". 

Todos os pontos são verdade socialmente difundidas. Conheço mulheres de 40 anos, empresárias, bem sucedidas nos seus respectivos campos de atuação, só uma delas tem realmente um jeito mais duro, menos emocional. As outras deixam-se aflorar. Cantam enquanto trabalham, separam horários para ser mulher, mãe. Não sei se coicidentemente, mas esta menos emocional também é a única solteira. Não que as outras sejam casadas. Mas aí vou pular para o terceiro ponto. As outras que não são solteiras submetem-se à situações desagradabilíssimas só para ter alguém. Não que elas amem seus companheiros, amor é palavra forte e mal empregada. Em geral eles são menos cultos e ganham menos que elas. Me atirem pedras, mas considero isso importante. Igualdade, estabilidade. A questão é que eles não contribuem em nada para a vida delas, e sei que elas estariam melhor sem eles, como já estiveram. 

A ampla reverberação do "é impossível ser feliz sozinho", faz com que mulheres bem sucedidas, bonitas, inteligentes, cultas, divertidas exponham-se a ter menos do que merecem só para não ficar sem nada. Toda mulher sonha mesmo em ter filhos, marido, casa para cuidar? (Não sou contra, tenho às vezes essas ideias também), mas precisamos generalizar? Para ser boa no trabalho, tem de se negligenciar a família? Para cuidar bem da família é preciso deixar de trabalhar? E para ter um homem ao seu lado - mesmo que só para não estar só - é necessário diminuir-se? Acho que não! E por final o último assunto: a liberação sexual feminina. Após ser demitida Marcela - a protagonista- torna-se sócia da vizinha em uma loja de sex shop. Ela tem temor de contar isso ao marido. Ele acaba encontrando a mulher em uma feira erótica, divulgando seu negócio. Ela aparece com brinquedinhos, ele estranha. Se fosse ele, tudo bem!

Uma das últimas frases do filme (adaptada conforme minha memória): Talvez sucesso não seja conquistar grandes prêmios, mas ter alguém com quem compartilhar as conquistas. A mulher já conseguiu se libertar de muita coisa, já conquistou muitos direitos. Acho que tá na hora de se libertar do mito de ser um ser incompleto que precisa de outro para ser feliz e mais tá na hora de conquistar o direito de escolher ser feliz sozinha, ou com alguém, o direito de escolher e ponto.

Luana Gabriela
Fevereiro 2011
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