Eu tinha mais de 16. A idade
certa não sei dizer. Sei que ele era mais velho. Sei que o via apenas uma vez
ao ano, na casa de praia dos meus avós.
Ele residia na cidade litorânea, mas mantinha sua pela clara, que
indicava sua descendência europeia, assim como seus olhos claros. Indicava
também sua tendência à reclusão social. O que me encantava. Era mais velho, nó máximo 20.
Forte. Com um sorriso que me tirava o chão e me jogava em qualquer lugar.
Ele
foi uma daquelas paixões que eu nunca esqueci. Guardei por anos a pulseira que
ele me deu, encharcada com seu perfume. Ele foi uma daquelas paixões secretas.
Não foi a primeira e nem a última, mas com certeza uma das mais marcantes. A
galera depois do almoço se juntava lá na vó para ir à praia. Ele era amigo do
meu irmão. A gente fugia da praia e passava a tarde jogando vídeo game. Eu
fazia o café. A gente ia pro truco. Eu não me lembro de quase nada da vida dele,
mas recordo cada coisa que ele me fez sentir.
Quando
a galera chegava da praia eu já tinha tomado banho e ele já tinha ido embora.
Depois do banho, à noite, antes que todo mundo ficasse pronto, ele me chamava e
íamos antes de todos à praia. Eu nem sei dizer com quantas mãos eu percorri
aquele caminho anos depois, mas o caminho segurando as mãos dele era diferente.
Qualquer
garota de 16, 17 anos se encantaria por ele. Ele tinha mistério na voz, no
olhar. Era o amigo do meu irmão(Análise?). E era segredo o que a gente tinha. E
era do momento. E era bom. Talvez ele tenha me ensinado isso: bons momentos não
são pra sempre. Não é preciso ser amor pra ser feliz. Ele nunca soube o quanto
me fez bem. Claro que nos vimos, mais alguns verões. Eu já namorando – sem
ninguém saber – como quase sempre fiz – ele já morando com alguém.
Lembro
dele hoje com uma nostalgia boa, leio o “Pra ser sincero” do Gessinger e
recordo aquela voz rouca, cantando pra mim enquanto penduro a toalha de banho
no varal, com o cabelo molhado, zero produção – tudo natural – “(Lu) Ana, teus
lábios são labirintos, (Lu)Ana/Que atraem os meus instintos mais sacanas/ teu
olhar sempre distante sempre me engana”. Aquele olhar, aquela voz. Eu me sentia
a garota mais importante do mundo.
Ele
era meu Humberto. Ficávamos horas falando sobre a vida, os sentimentos. Depois
dele poucos me interessaram como seres completos. Ele era intenso sem ser
irracional. Foi por pouco tempo. Não foi nada sério, mas me feliz. Me
influenciou. Eu nunca consegui retribuir a música, a pulseira, mas lembrá-lo
com o carinho que sinto, é uma boa coisa.
No
labirinto das nossas vidas e dos muitos lábios que vieram depois, ele
certamente seria o meu refrão. Pra onde a música sempre volta. O ponto alto. O
que a gente nunca esquece. E cantarola no volante. Na estrada. Ao passar o arco
de boas-vindas da cidade litorânea.