Os outros

Não vou atender. Repito a cada toque. Passa da meia-noite, eu preciso dormir. E mesmo longe você vem me tirando o sono, hoje não. Já é quinta-feira, minhas olheiras estão enormes, assim como minha fome. Fome de tudo que não há no cardápio. Fome do que a vida não me serviu. Eu nem vou até o quarto, onde o celular toca. Quarenta minutos depois me ajeito para dormir e aí dou uma olhada, três chamadas suas. É instintivo: te ligo.

Você pede pra que eu pare de suspirar, mas está frio, e meu peito ainda dói. Eu acabei de ouvir Leoni, numa versão de " Os outros", e achei lindo. Lembrei de você. Não digo isso. Porque não pensei em você em todos estes dias, só agora, e se eu dissesse você ia achar que tenho pensando tanto em você, como quando era o início antes de tudo ocupar o seu lugar na minha vida, antes de qualquer coisa ocupar o meu lugar na sua vida.

Conversa banal. Pergunto como está todo mundo na sua casa, como está sua aula, "já está de férias?", sugere que façamos alguma coisa, eu digo que sim. Mas nem me passa pela cabeça o que poderíamos fazer sem soar estranho. Aliás, esta ligação é estranha. Pergunto da sua nova namorada, " e ela está bem?", penso em perguntar o porque ligou pra mim e não pra ela, desisto e pergunto apenas porque me ligou tantas vezes, "fiquei preocupada", diz que queria me acordar e me pergunta manhoso se eu estava dormindo. Não eu não estava e dessa vez não vou mentir pra te fazer feliz, respondo: "Eu estava assistindo a um filme", pergunta porque não atendi antes, só ouvi chamar uma vez, e não quis interromper o filme.

Meia verdade. A verdade inteira é que fiquei com medo. Foi mais ou menos nessa hora que você me ligou pra dizer que sentia-se acuado pelos seus sentimentos e que sua vontade era ficar comigo pra sempre, mas não dava. Não dava porque havia outra que te tirou o chão e eu era muito real. A possibilidade concreta de um amor pra vida toda, e você não estava preparado pra isso, 20 anos é cedo pra encontrar o amor da sua vida. Entendi, mas não quis ouvir mais nada. Deixei com que você partisse sem lutar por nós, porque nessa hora do fim é sempre hora de lutar por mim mesma. É hora de mostrar pra mim que o amor existe mesmo que seja fora, mesmo que seja longe.

Silêncio, é hora de desligar. Me deseja boa noite, pede pra eu me cuidar e diz que estará livre no sabado à noite. Digo que não vai dar, "outro compromisso". Entende como "há outro cara", digo que pode até ser, mas depois de você, os outros são os outros. Desligamos, e cantarolo a minha parte favorita da música:  a minha vida continua, mas é certo que eu seria sempre sua. Quem pode me entender.



Luana Gabriela

Amar é punk

Tem uma banda "punk" aqui de Curitiba que eu curto há muito tempo, e que canta "E que amar é punk, punk e rock'n roll". Sempre fui MUITO fã dessa frase. Porque acho que é isso mesmo, amar é punk, no pior e no melhor sentido da palavra. Aí eu tava no twitter hoje, quando a @LuxBrito posta no Tumblr dela um vídeo com o título, Amar é punk. Na hora fui conferir, não é que a crônica fala TUDO que eu penso sobre amor. Tudo que eu já pensei um dia? Depois disso, acho que vou ficar MUITO tempo sem escrever porque já disseram - o Pelebrói (a banda punk) e a Fernanda Mello (a autora do vídeo) tudo que poderia sre dito sobre o que é o amor pra mim. O amor veste all star e tem o rock como trilha sonora. O amor é trangressor e subversivo. A rebeldia em poesia.


Cinema e feminices

Como toda boa mulher se preze eu tenho lá o meu momento #mimimi, ou ainda , o de criticar os homens, falar de bolsas, sapatos, maquiagem, e gostar e muito de comprar. A questão é que de uns tempos pra cá - desde quando finalmente consegui trabalho recompensadores financeiramente - eu ando é gastando demais. Nenhuma dívida absurda (ainda). Mas resolvi pensar sobre o assunto quando percebi que não fico sem comprar roupa, sapato, maquiagem e livros (sou intelectual também hahaha) todos os meses há algum tempo. A sinceridade me impele a dizer : comprar faz a gente se sentir bem e é um investimento pessoal, sem dúvida. O problema é que há outros investimentos que também merecem atenção, que tal uma casa? Um carro? Uma viagem? Esses investimentos precisam de planejamento, e claro, que de um tempo poupando. 

Decidi assistir Os delírios de consumo de Becky Bloom, (filme velho, mas que eu ainda não tinha visto). Eu não conhecia nada a história simplesmente achei que pelo nome, algo ali iria me ajudar. O cinema, como a literatura, costumam ser bons conselheiros com suas frases de efeito. Lá fui eu alugar o filme - porque sou péssima pra achar coisas em download na web - e nesse feriado básico de friozinho, decidi assistir. 

Para minha surpresa a personagem principal é uma jornalista, insatisfeita com o trabalho, solteira e claro, consumista. ALOU, há algum preconceito contra jornalistas em Hollywood? São TANTOS filmes com essa caricatura de personagem que fiquei abismada. Na lista - só com a minhas primeiras lembranças - O Diabo veste Prada, Ele não está tão a fim de você, Como perder um homem em 10 dias, e por aí vai - o fato é: sempre estão insatisfeitas com o trabalho. Não no sentido ruim, mas estão trabalhando em algo, enquanto sonham em trabalhar em outro algo. E mais: geralmente têm problemas com moda ou com a vida sentimental, preconceitos. Aí Beck Bloom, não tem problemas com moda, tem com dinheiro. É super consumista, e percebi que graças a Deus estou longe desse nível de consumo, mas que poupar não é lá uma coisa de outro mundo. Me disseram um dia, que o Silvio Santos disse, (hauhauahuha) que dívida é sinônimo de progresso. Concordo com ele - se é que ele disse mesmo isso -, pouquíssimas pessoas nesse país conseguem comprar somenta à vista o que precisam. Cartão de crédito e empréstimos pessoais são recursos frequentes para acalmar um coração - e um bolso - consumistas mais desprovidos de money. Maneiras de escravizar um indivíduo legalmente.
Não é um caso isolado, li essa semana uma matéria que dizia, que as pessoas da minha cidade - os curitibanos - são os mais individados do país. Se fiquei supresa? Não tanto. Conheço tanta gente, e isso, na minha família é tão comum... mas sabe como é.. a gente tem exemplos ruins demais, e não pode ser tonga o suficiente pra repetir os erros dos outros. 

Não sei se a vida imita a arte, mas no meu caso a vida tá imitando quase direitinho, só tá faltando o Happy End. 


O movimento romântico

Decidi organizar um pouco a bagunça que é esse blog. Talvez começar a postar sobre um assunto por dia. Literatura, cinema, música, beleza, e não mais falar de tudo junto, que não tenho vibe de Latino - Tudo junto e misturado - eu sou muito mais chique que isso. Pode ser que essa atitude seja reflexo de eu finalmente estar organizando minha vida como um todo, demora mas a gente toma jeito. 

O primeiro assunto é o que eu mais gosto - na verdade eu nem sei mais se existe um assunto que eu goste mais do que todos os outros - eu gosto é de me expressar e contar sobre coisas boas. Então a primeira coisa boa a ser postada é sobre a leitura do livro O movimento romântico, de Alain de Botton. Primeiro fiquei sabendo da existência do livro eu nem me lembro mais como, sei que fui comprar e ele estava com as edições esgotadas em todas as livrarias desta minha cidade, que não é pequena. Decidi procurar em sebos, e em encontrei logo depois de alguns dias procurando. Acabada a busca, inicia-se a leitura. 

A personagem principal é Alice, com 23/24 ou 25 anos, além da idade, é bem parecida comigo na maneira como se relaciona com a mãe, com a irmã e com o amor. Ela é bem interrogativa, sempre instigando os outros a pensarem além das linhas do pensamento comum. Ela se relaciona com Eric, um cara frio e distante, mas que ela acredita piamente que gosta dela. (Será que me lembrei de mim há algum tempo atrás?) Sei que ela fica nesse relacionamento se doando ao máximo até conhecer Philip, um cara que gosta de coisas que ela gosta, que pede a opinião dela e a valoriza. Ela então começa a ficar distante no relacionamento com Eric, ele percebe e decide se doar um pouco. É tarde porque ela já não gosta mais dele. Então ela termina. E fica sozinha. Até encontrar Philip em um supermercado tempos depois do fim com Eric. Nesta ocasião ela e Philip decidem sair. Porém, Alice não aparece, ele fica com raiva e vai pra casa. Chega lá e está Alice a espera dele, lhe pedindo perdão dizendo-se assustada com tudo que estava sentindo. No fim decidem ficar juntos. (Confesso que eu espera um fim mais inovador, como todo o livro é, não sei ela podia se enjoar do homem perfeito, podia querer ficar sozinha, qualquer coisa menos o Happy End clássico). De qualquer forma, é uma história bem comum, contada de uma maneira bem diferente - o autor cita filosofia, e outras teorias. Os personagens podem ser facilmente encontrados nas esquinas brasileiras - a história se passa em Londres - é essa humanidade dos personagens fictícios que me atrai, mesmo que eles não sejam humanos tipo vampiros, e outras criaturas estranhas, ex: nerds! =D 

Seguem meus trechos favoritos do livro.

"Da mesma forma que o cinema lhe permitia livrar-se de uma sensação de isolamento, através da constatação de que "não sou a única a experimentar esta emoção, a ver esta rua, sentar neste café...", o amor lhe oferecia a esperança de encontrar alguém em cujos ouvidos pudesse sussurrar, "você também se sente da mesma forma? Que maravilha. É exatamente o que pensei quando..." - as dimensões de uma determinada alma, encontrando uma analogia suave com as de uma outra". (pág. 29)
"Alice disse à si própria e aos amigos que estava vivendo um "relacionamento maduro". É difícil dizer o que significava esta expressão. Mas sua definição refletia um preconceito de que um homem que recusa um convite para um cinema e reinvindica espaço é, de algum modo, mais maduro que um amante que considera cruel passar mais do que um instante longe do ser amado." (pág. 63)

"No amor o poder se traduz pela habilidade de não se deixar envolver. Alguém torna-se poderoso no terreno afetivo quando não dá ouvidos a uma frase gentil, desviando o assunto para a programação da tv. Ao contrário de outras esferas, o mais forte numa relação afetiva é aquele que não tem expectivas em relação ao outro, não deseja ou não precisa de nada. O amor tem como característica principal o envolvimento mútuo e a compreensão. Aquele que bloqueia o processo, mudando o rumo de uma conversa ou retornando uma ligação telefônica com duas horas de atraso, imediatamente e sem esforço exerce um poder assustador sobre o mais fraco, o mais confiável e mais carente". (pág. 139)

"Por mais agradável que fosse o entusiasmo do namorado, Alice não podia deixar de sentir uma ponta de mágoa ao constatar que Eric era sempre muito mais gentil com ela quando tudo corria bem. Nos seus momentos de fragilidade e carência afetiva, ela se ressentia da falta de interesse dele". (pág. 170)

"Alice identificava os pontos de tensão em seu relacionamento com Eric: se, por um lado, desejava ser o bebê dengoso, complexo, irracional e exigente, por outro, sabia que, para fazer pedurar a afeição do namorado, teria que bancar a mulher madura e responsável, atraente, sagaz e independente". (pág. 172)

"O desejo verdadeiro de Alice fosse o de encontrar espaço para expressar o que até então não tinha conseguido, ou seja: "me ame pelos meus medos, minhas inibições e neuroses, me ame pelo que sou quando não consigo lutar..." ". (pág. 174)
"Sabe qual é o seu problema, Alice? Você complica tudo. E pensa demais". (pág. 212)

"Alice amava para compensar suas próprias deficiências; ela procurava nos outros as qualidades que queria e respeitava, mas não possuía. Suas necessidades emocionais eram como quebra-cabeça incompleto sem as peças trazidas por outra pessoa, mas as dimensões da lacuna eram modificadas pelo autoconhecimento. Deste modo, uma peça que se encaixava quando tinha quinze anos não mais serviria quando chegasse aos trinta." (pág. 304)
"A dor provinha desses diferenciais de crescimento, da maneira pela qual duas pessoas que se encontram em uma fase compatível poderiam, com o tempo, descobrir que não estavam de fato tomando a mesma direção - a compatibilidade numa fase seria somente congruência fortuita ao longo de um caminho maior e divergente". (pág. 306)

"Necessidade de ter alguém que fosse gentil sem ser fraco, engraçado sem evitar a seriedade e respeitado por seu trabalho sem cobiçar apenas os sinais exteriores de sucesso. Alguém que fosse inteligente sem ser condenscendente. Um santo que não gritasse a despeito do número de tentativas que ela precissasse fazer para estacionar o carro". (pág. 307)

"Será que a declaração de amor não era simplesmente a reação reflexa de um homem ao perceber que passaria as noites sozinho e não teria ninguém para aguentar seu mau humor?" (pág. 301)

"Uma parte minha está tão ligada a ele - disse Alice a Suzy naquela tarde. - Mas sei que não é dele que sinto saudades na realidade. Que loucura!
- É do amor - suspirou a amiga." (pág. 311)


Via rápida


Eu não tenho mais medo de atravessar a rua. Eu mudei para um condomínio que fica numa via rápida, eu a atravesso todos os dias, várias vezes, fora da faixa, longe do sinal, e eu nem preciso mais sentir que tuas mãos estão comigo. Eu não olho para os dois lados, eu só tenho olhos pra você e cabeça para suas esquisitices. Eu vivia dizendo que eu queria alguém normal, até perceber que eu não sou tão normal quanto achei que fosse. Você é quem preenche minhas loucuras, a gente fica analisando a vida, o tempo, as despedidas das pessoas no shopping, os casais no cinema, as amigas no teatro, a gente sempre pensa coisas muito loucas a respeito dos outros, e a gente vive coisas esquisitas.

Eu revi com você filmes que tinha vista com quem já passou e tudo fez um sentido completamente diferente, eu nunca te deixaria como a menina do Apenas o fim. Se um dia eu te deixar aposto que vou escrever tanto sobre, até decidir ficar e terminar a nossa história com reticências. A gente adora praia no inverno e foge do sol para ficar sempre com a pele branquinha, e a gente gosta do contraste dos nossos cabelos pretos, das nossas olheiras porque passamos a noite procurando filmes independentes pra gente assistir. A gente lê junto, a gente interrompe a leitura um do outro para comentar a história alheia, como se não fôssemos trocar de história no final.

Eu não costumo te escrever, por trauma do passado, mas eu vivo você. Eu gosto da sua mania de nunca discordar absolutamente de mim e logo depois me provar que eu estava errada. Eu gosto do jeito delicado de você dizer que minhas paranóias vão além do que você pode suportar. Eu gosto quando você me chama, quando grita na minha janela pra abrir a porta do bloco, e o modo como isso não impede você de chegar à minha casa de surpresa e me ver enrolada num lençol colorido, e não rir disso, e achar isso normal e querer se enrolar comigo.

Eu adoro seu jeito estranho de escolher roupa, eu adoro suas roupas sempre azuis, brancas e pretas, eu adoro quando você admite que por mim vestiria até vermelho, no nosso casamento, que vai ser vermelho, preto e branco. Eu adoro você que se permite viver coisas e que me leva a viver outras tantas que jamais imaginei. Adoro sua disposição pra assistir filmes na Cinemateca, pra ver peças baseadas em autores que você nunca leu, para descobrir bandas “que eu vou adorar”, e eu gosto disso porque você me conhece tanto, porque somos tão iguais, porque somos dois, e quando a gente está junto a gente é um, e pede um café, e toma remédio para alergia, para ver se a gente acorda mais tarde, e fingimos que esquecemos aquele compromisso com teus primos.

Eu adoro quando você topa minhas loucuras, quando você me leva para casa, quando você me leva para casa e ainda me escreve perguntando se eu cheguei bem. Eu adoro como nunca esquece de me escrever, mesmo que eu não responda. Eu respondo bem baixinho, eu sussurro, eu me declaro em silêncio de noite, e você responde “eu te adoro também”. Eu me pergunto como você sabe, você diz que sabe interpretar os meus silêncios, os meus olhares, o meu não-sorriso. E você advinha quando eu quero ir embora dos lugares sem eu nunca precisar pedir. Você já decorou meu pedido naquele fast-food, e a gente pensa sempre igual, eu te compro uma revista, você me compra pó de café com hortelã. A gente vai pra casa experimentar o café e ler a revista, eu não preciso te pedir beijo na chuva, blusa pra me cobrir, toalha pra me secar, eu não preciso te pedir nada. 

Às vezes me pergunto com quantas será que você se envolveu antes de mim para desenvolver essa habilidade toda de adivinhar o que quer uma mulher? E você nunca me deu flores, e eu nunca falei de flores pra você. Eu não tenho mais medo de atravessar a calçada, de mudar nossos rótulos, eu não quero mais ser normal. Eu quero ser diferente com você que não é igual a ninguém mais.

Exceção

No que estou pensando

Não poderia esquecer o que disse a ela, na última conversa. Algo como "se um dia você conseguir perdoar um idiota, ligue pra mim". Não é fácil dizer esse tipo de coisa, a mais pura verdade. Eu fui idiota, sou ainda, quem sabe pra sempre. Coisa que pode ser vista como positiva, quando você se relaciona com um, drasticamente diminuem as chances de desapontamento. Ou seja, aquele papo de que todos têm seu lado bom, e talvez o meu seja esse. E talvez só esse.

Ela deve ter entendido bem o resumo que fiz de mim mesmo, porque me telefonou do escritório. Minhas pernas sambam involuntariamente quando ouço o timbre da sua voz. Não queria aquela como "A-Última-Conversa", possivelmente porque quem foi embora fui eu. Todas as mulheres que conheci não suportam a sensação de ser largada, mesmo que estafada pelo excesso de companhia ou pela escassez de encanto, aquele combustível que elas precisam pra terminar o dia bem. Faça um último favor a elas: seja abandonado e generoso, passe a palavra pra que ela possa dizer que acabou.

Bem, foi o que ela disse - acabou. Pronto, mais aliviada? Perguntou se eu ficaria bem e tal. Resmunguei alguma coisa. Dizem que quando você morre, seu corpo perde 21 gramas, mas o gozado é que senti subtraindo de mim uma vida inteira. Aí ela disse algo sobre o céu, do quanto ele é, na realidade, intocável. Existe um ponto na subida pra tocá-lo com a ponta dos dedos que você se perde, sabe? E quando vê, alcançou o vácuo, a escuridão, o vazio, aquele espaço onde as dúvidas não têm mais justificativas. Vocês concordam em ir longe, e acabam longe demais.

Ela disse que há tempos sabia que não tinha jeito, mas ia empurrando com a barriga mesmo assim. Eu, silêncio. Ela disse que poderia ser apenas um intervalo para reflexões, não sabia, acontece que o tempo falha e a culpa acaba caindo sobre nós - no amor não existe uso correto da vírgula. Eu, silêncio. Ela falou mais montes de coisas, das quais me lembro muito pouco, mas sei que nada fazia muito sentido. Eu, silêncio. E ela, vamos lá, me diga alguma coisa, no que você está pensando?

O que estou pensando? Bem, o que estou pensando. Pra variar, em coisas discrepantes com tudo que você fala sem parar. Estou pensando que essa conversa vai me render um câncer no cu daqui umas semanas. Pensando nas vezes que lambi os dedos do seu pé no escuro do edredom em noites esfomeadas. Pensando naquela vez que discutimos por conta daquele episódio de "Friends" que o Ross dorme com a garota do xerox e a Rachel descobre e fica puta, lembro da sua opinião poderando que eles realmente estavam dando um tempo e isso me deixou puto. Nas vezes que fiz você levantar ranzinza às sete das manhãs de sábado pra me abrir a porta.

No que estou pensando? Naquela interminável semana que sua menstruação falhou, e nas perguntas retóricas tipo "o que a gente vai fazer agora?" Pensando no dia que descobri que você curtia McFly e a minha decepção. Nos dias que não passávamos de amigos. Nas vezes que te deixei falando sozinha. Nos cheiros que você me dava no nariz, nos beijos que dei nos seus olhos. Nas suas sandálias pela casa, nas minhas toalhas molhadas sobre a cama. Em quando você prendia o lábio inferior com os dentes, tentando não sorrir porque achava que não devia estar sorrindo.

Dizem também que quando a gente morre, um filme atravessa seus olhos em poucos segundos e vai ver é por aí. Só estou pensando que a gente está deixando o amor escoar pelo esgoto, e essa conversa é uma espécie de azulejos claros, floridos e bonitos mascarando pra onde vai essa merda toda. Só estou pensando: por que mesmo um casal acaba?

Nada, nada, nada, nada, nada. Não estou pensando nada. Tenha uma vida boa. E não se sinta confortável em sair e entrar como se a casa ainda fosse sua, como se fosse difícil carregar tudo de uma só vez. O mais pesado você já levou.

Texto de Gabito Nunes, autor do blog @carascomoeu

Link para postagem original: No que estou pensando

Nem todo homem é objetivo

Em algum lugar nesta noite fria você decidiu que era hora de acabar comigo. Não acabar nosso relacionamento, que já teve fim há algum tempo. Decidiu que era hora mesmo de acabar com o que pouco que sobrou de quem eu era quando você me conheceu. Você decidiu pegar o telefone e discar pra mim. Atendi pensando que talvez fosse hora desse climão acabar, afinal amigos são pra sempre. Você não, você ligou e gritava em voz audível até para seu avô que é meio surdo e mora bem longe de mim poder escutar. Gritou que eu não sei o que sente um homem quando acredita no amor, mas vê tudo desmoronar. Disse que eu não sei o que se passa no peito masculino sufocado de dor, por tanto músculo, que não sei o que é não conseguir gritar de dor de amor.

Você disse que nunca saberei como você se sentiu ao constatar que eu não te amava, que não dávamos mais certo, e que jamais compreenderei a complexidade da sua decisão. Que por tanto gostar de mim decidiu que era hora de me deixar. Nesse momento senti um alívio, você estava são e sabia bem quem havia rompido com quem. Mas esse meu pensamento foi rapidamente interrompido por teus contínuos gritos de "eu odeio você, e o que você fez comigo?". Me acusou de ter te mostrado o que era amor, de ter lambuzado teus lábios de doce, mas de ter te deixado com fome de carinho e cuidado. Excluiu-se definitvamente da minha lista de ex, porque disse que não existe isso, que no fim a gente nunca fica igual ao que era, que fica sempre algo do outro na gente. E terminou dizendo que em ti ficou de mim, aquela coisa do começo "parece que o amor chegou aí", de mim ficou em ti aquilo de "o nosso amor a gente inventa". E me disse pra parar com isso de citações, e dizer por minhas próprias palavras tudo que eu achava que ainda deveria ser dito. Não disse nada. E antes de você desligar te ouvi dizer que mulher não entende nada mesmo, que é muito difícil pra homem admitir que estava errado. E me xingar. Entendi como um volta pra mim, amor. Só que eu não entendo nada do que sente um homem.

Luana Gabriela


Tem vida lá fora

É só procurar
Se homem até chora
Por que eu vou me preocupar
Não tem sempre que ter final feliz
O cheiro da chuva
Molhando o chão
Me lembra a história
Que eu não posso mudar
Não tem sempre que ter final feliz
Eu me calei

Quando tinha de falar
Eu esperei
Quando pude esperar
Eu já cansei
Agora vou dizer que não dá mais
Não da mais
Vou Dizer - Supertônica

O amor é remédio ou placebo? Curiosidades sobre os relacionamentos

Essa semana começou com estresse nas alturas, meu e dos meus clientes, então imaginem os atritos. Mas nada melhor pra desestressar que pensar/sentir sobre o amor. Ainda mais esta semana em que tudo cheira romance. Li algumas coisas interessantes sobre essa questão e vou postar aqui.

Homens dizem “eu te amo” primeiro

Ô cara grudento...

Na semana passada, a gente contou por aqui que, segundo cientistas americanos (e desafiando o senso comum), os homens são mais românticos do que as mulheres. Teve, como sempre, quem achasse a descoberta um tanto suspeita. Mas olha só: eis que apareceu um outro estudo para bater nessa tecla mais um pouquinho.

Confirmando e completando a tal constatação sobre todo o romantismo masculino, mais pesquisadores dos EUA, associados a um lá de Cingapura, observaram que, “embora pensemos que as mulheres são as primeiras a confessar o amor”, quando estão em um relacionamento sério, eles tendem a dizer “eu te amo” antes delas.

E tem mais: de acordo com os caras, que fizeram uma série de testes com cerca de 700 pessoas (de 18 a 69 anos), os homens ficam mais felizes e emocionados do que as mulheres quando ouvem um “eu te amo” vindo do outro lado.

Dá para conferir o trabalho na íntegra nesse link. E agora, todos convencidos?


Casais que falam como bebê são mais felizes


Doxinho de coco!


Ô, delixinha minha, toisinha mais totosa do mundo! É, voxêêê, voxê meeesmo, meu bebezinho. Vem cá com o seu amorzinho! Vamos ver um filmezinho hoje? Fofurinha! (Bilú, bilú.)

Sabe aqueles casais insuportáveis que falam desse jeito? Eles são mais felizes. Insuportavelmente mais felizes.

Em uma pesquisa feita nos EUA, 75% dos participantes assumiu usar o linguajar fofinho com o parceiro. E, segundo os pesquisadores, os casais que falavam nesse tatibitati para adultos demonstraram maior satisfação, intimidade e segurança no relacionamento, além de terem uma vida sexual mais movimentada.

A justificativa é que, ao abandonar o papel de “adulto normal”, assumindo seu lado bobão e romântico sem economia, a pessoa se permite criar um nível de intimidade mais elevado com a cara-metade. E isso, é claro, favorece o relacionamento.

Alguém comprova? Quem aí curte ser tratado como criancinha pelo amorzinho? Ah, que fofinho.

Para os solteiros (as) um alerta:
Comédias românticas estragam a sua vida

Pesquisadores da Universidade de Heriot-Watt, na Escócia, constataram (em um trabalho bem divertido) que assistir a comédias românticas deixa a gente com expectativas irreais – e potencialmente perigosas – quantos aos relacionamentos da vida real.

Analisando 40 sucessos do gênero (como “Enquanto Você Dormia”, com o casalzinho Sandra Bullock e Bill Pullman, e “Mensagem para Você”, com Meg Ryan e Tom Hanks), eles isolaram alguns dos elementos mais perigosos das histórias: os conceitos de que casais se apaixonam instantaneamente; que, no final, o destino sempre une as pessoas que se amam; e que há apenas um par perfeito para cada um. Além disso, nos filmes as traições e mancadas são superadas com muito mais facilidade do que na vida real.

Identificado o inimigo, os especialistas colocaram cerca de 100 voluntários para assistir a “Escrito nas Estrelas” – aquele filme fofinho com John Cusack e Kate Beckinsale. Outros 100, enquanto isso, assistiam a um drama de David Lynch.

Em um questionário feito após a sessão, quem viu a comédia romântica demonstrou convicções muito mais fortes nos conceitos românticos, como destino, do que os outros. Inocentes. “Se você acha que é assim que as coisas funcionam, pode se preparar para uma decepção”, aconselha o líder do estudo, Bjarne Holmes.


As informações e o texto são do blog Ciência Maluca com redação de Thiago Perin no site da revista Superinteressante (responsável por ter começado um dos meus relacionamentos mais longos, inteligência é atraente!!!) hheuheuheuh

;)

Boa semana, No stress, yes novel!



Possibilidades

Não sei exatamente como nascem as histórias de amor contemporâneas. Pela internet, já ouvi muitos contarem. Pela reaproximação, já vivi uma. Pelo nunca distanciamento, também. Não sei se as mulheres ainda esperam amores arrebatadores, com começos inimagináveis, mesmo depois de terem lido "O Amor Esquece de Começar", do Carpinejar. Mas eu, eu não espero mais nada, além de que o amor esqueça de terminar.

Eu já tão aberta a novas pessoas, novos ambientes, depois de um catastrófico fim, (tento me lembrar qual não foi, e fico sem resposta), eu ali conhecendo alguém por acaso, amigos em comum, gostos em comum. Mais nada em comum. Que jeito de falar, que gosto pra se vestir, que falta de noção de perigo é essa, que discrição. E aí Deus me manda uma possibilidade de amor. Aquela que o Caio F. falou, que o Antônio Prata bem lembrou, essa que eu achei que não ia mais existir. Claro, ambos me alertam para a sequência do texto: ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. Apressada, eu? Não me entendam mal, não é amor. É uma possibilidade de.

Ok. Sou apressada, duas semanas e aqui estou eu, não me aguentando, escrevendo, contando, criando, me iludindo. Mas às vezes eu preciso disso, entende? Essa alegria de vê-lo, essa vontade de que do nada apareça a janela dele me chamando no MSN, o celular apitando com ele pra me dar boa noite. Mesmo que não passe disso. E não passou. Uns sorrisos, umas brincadeiras, um início de papo sério. Pra falar bem a verdade, nem do nome dele eu lembro. E ele lembra o meu, e me chama toda hora. Invento um apelido para não ter de dizer - me desculpe esqueci seu nome, como é mesmo? - Não importa seu nome, se posso futuramente te chamar de amor. Hoje ele é a possibilidade de. Mas não é assim que nascem os amores? Como uma possibilidade? Uma ideia, que existe e não ter a menor pretensão de acontecer?

Luana Gabriela

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