15 quase amores


Fernando, não foi meu primeiro amor, mas foi com ele que comecei a cometer loucuras. Quinta série, eu e uma amiga seguíamos até a casa dele, para eu descobrir onde ele morava e começar a deixar cartas de amor anônimas. Mesmo assim ele (seria um gênio, ou eu não sei (sabia) disfarçar sentimentos?) descobriu que era eu e em uma visita à fábrica das barrinhas de cereal Nutri, nos beijamos, uma relação ligth, que acabou ali, gostosa, nutritiva, pequena. Na sexta série meu amor foi outro. Mas antes desse, é preciso dizer: minhas paixões não sobreviviam à distância das férias, eu sempre arrumava outra paquera na praia, e em geral eles eram de longe, o mais marcante foi um corinthiano com nome de anjo que morava em São Caetano. Tenho a pulseira dele que ganhei na despedida, até hoje.


LEIA O TEXTO COMPLETO NO BLOG MARGINÁLIAS (ANTIGO NÃO QUERO FALAR DISSO)

15 quase amores


Fernando, não foi meu primeiro amor, mas foi com ele que comecei a cometer loucuras. Quinta série, eu e uma amiga seguíamos até a casa dele, para eu descobrir onde ele morava e começar a deixar cartas de amor anônimas. Mesmo assim ele (seria um gênio, ou eu não sei (sabia) disfarçar sentimentos?) descobriu que era eu e em uma visita à fábrica das barrinhas de cereal Nutri, nos beijamos, uma relação ligth, que acabou ali, gostosa, nutritiva, pequena. Na sexta série meu amor foi outro. Mas antes desse, é preciso dizer: minhas paixões não sobreviviam à distância das férias, eu sempre arrumava outra paquera na praia, e em geral eles eram de longe, o mais marcante foi um corinthiano com nome de anjo que morava em São Caetano. Tenho a pulseira dele que ganhei na despedida, até hoje.

Mas meu primeiro amor “recíproco” (na sexta série), que eu só descobri 8 anos depois, foi Henrique. Já há meses sufocando meu sentimento, resisti a ele na festa de 15 anos de duas das minhas melhores amigas. Sucumbi à pele morena, aos olhos verdes, e aos dentes lindos e brancos durante uma tarde no colégio fazendo um trabalho. Nossos amigos nos trancaram na sala de artes, nosso primeiro beijo foi embaixo da mesa com metade da sala ouvindo e espiando atrás da porta. Foi nosso primeiro e último beijo. Embora ainda tenhamos protagonizados cenas épicas como eu brigando com uma outra guria por ciúme dele, ele passando em frente ao meu condomínio gritando meu nome e que me amava. Ele casou, teve um filho. Seis anos depois disso, me acha nos sites de relacionamento e me pergunta: Porque você não quis namorar comigo? Desabafei, que quem não quis foi ele e ainda mais ele tinha ficado com a loira nojenta que eu detestava. Ele me chamou pra ir no cinema, eu disse que sim, mas que ele levasse a mulher e filho. E ele nunca mais apareceu.

Eu já no ensino médio. Apaixonada por um jogador de basquete. Que só me valorizou dois anos depois e eu me arrependi imensamente de ter dado chance a ele. Foi por ele que eu não quis namorar Paulo. Amigo do meu irmão mais velho, que eu conheci na praia num dia de muita chuva e luzes apagadas. Passamos um mês convivendo na mesma casa, almoçando, tomando café da manhã e quase dormindo juntos. Não fosse pela separação dos quartos, meninas no quarto da frente, meninos no de trás. Eu lembro de todas as coisas que ele despertou em mim, que ninguém antes tinha despertado. Talvez tesão seja a palavra certa. Voltamos da praia e ele ia me buscar no colégio, me levou pra conhecer a avó dele, me dava presentes. Me pediu em namoro, eu disse não. Um mês depois apareceu Rafael, bem mais novo que eu. Meu novo vizinho, não me lembro bem como e porque ficamos juntos, mas ele também me pediu em namoro e eu disse não, ainda por causa do jogador de basquete. Que de verdade não valia a pinga de um real que eu tomei antes de ficar com ele numa festa. 

No último ano do colégio, André. Paixão incitada pela minha professora de português. Eu sempre dividia o livro com ele, recitava poemas, escrevia frases. Idas ao médico, ao cinema, à biblioteca. Vivíamos juntos, mas nada rolava. Até que comecei o cursinho e conheci Gustavo. Mais velho, com namorada, fumante. Cheiroso como nenhum outro homem era, sedutor como ninguém havia sido, foi com quem eu fiquei por mais tempo. Até que decidi colocar André contra a parede, ele fez uma exigência, eu não aceitei. Cansei de Rafael e de André, fiquei sozinha.

Viva a faculdade. Muita gente nova pra conhecer. A grata surpresa: Lucas. O riso mais contagiante e o pacto de não pegação. Melhores amigos e só. Me apaixonei é óbvio e claro, ele só nos deu uma chance anos depois. Mas dele eu nunca me arrependi. O beijo mais quente, e ter cuidado dele o dia que ele não tava bem, como ele já cuidou de mim tantas vezes. O respeito, o carinho, e o silêncio. Não tocamos nunca mais no assunto: até hoje melhores amigos. Meus amores nunca souberam dele, os dele nunca souberam de mim. Ainda penso nele e muito, como o meu pedaço de paraíso aqui. A gente se entende, a gente sente a dor, a gente ri muito junto. A gente é a gente e não há como ser isso que a gente é sem ele.

Pra esquecer Lucas me aproximei de um homônimo, também baixista e roqueiro, embora não indie, mais pro lado do metal. Tenho o cheiro dele guardado na memória ainda hoje. Pra esquecer Lucas (2), me aproximei de outro. Bem diferente. Bruno, um amigo, carinhoso, atencioso, não demorou três meses estávamos namorando. Não demorou 15 dias terminamos. Não era bem o que a gente pensava.

Anos se passaram até que eu me abrisse novamente. E eu me apaixonei a primeira vista. Um baterista. Sentado, tocando o instrumento, um boné, um sorriso. E eu sofrendo um ano, porque ele estava apenas visitando a família, não morava aqui. Ele veio morar aqui, logo quando eu conheci outro baixista, perfeito, segundo meus sonhos adolescentes. Moderno, roqueiro, músico, gostava das bobeiras que eu escrevo – escrevia-, só tinha um defeito: canalhice. Enrolar duas ao mesmo tempo. Assumi minha parcela de culpa, o perdoei pela parcela de culpa dele. E me abri novamente. Entre o amor à primeira vista, e esse amor musical, havia um terceiro elemento: ele, o oposto de tudo que eu era. Ele, palmeirense, petista, metaleiro, desligado da moda, atleticano, era tesão também. Mas não passava pela minha cabeça me envolver com ele. Dois anos e ele reaparece. A gente sai, e se apaixona. A gente começa a namorar, a gente briga, discute, termina. A gente não volta. Foi mais um quase amor, aqueles que o Cazuza cantou – quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu. Ninguém dessa história realmente existiu. Eu inventei pra me distrair.

Luana Gabriela
23/02/2011

Não sabemos namorar

 
 
Confio que há gente que não saiba namorar. Não sabe namorar, e pronto. Supõe que é instintivo, natural, que é beijar, abraçar e os oceanos transportam a espuma. Que basta amar e as relações funcionam. 

Há gente que jura que namorar é cumprir um expediente depois do expediente: jantar, conversar e transar. Há gente que não quer namorar, e sim uma amizade para dividir o que se é. Sem tensão. Sem cobrança. Sem nervosismo. 

Que tudo está definido e seguro para o final do ano, que não pode ser perdido no próximo minuto. Eu acabei de perder o próximo minuto. 

Namoro é ambição. É um final de semana a cada dia. É uma delicadeza insuportável, antecipar os movimentos e agradar quando não se espera. Gentileza em cima de gentileza, infindável. Um cuidado para não magoar com aviso e pergunta, com aquela educação concedida a gestantes e idosos. 

Namorar requer uma atenção absoluta. E não reclame: amar pode ser para toda a vida quando oferecemos toda a nossa vida. 

Tem que se preparar, ceder, abrir espaço, oferecer, renunciar. A inquietação nasce da paciência. A criatividade nasce de uma porta fechada. 

No namoro, não existe como ser egoísta. Egoísmo se deixa no JK. É pensar pelo outro, com o outro, como o outro. 

É ter uma lista de compra de mercado na ponta da língua, junto com o chiclete de melancia: qual a pasta de dente que ela usa, o xampu, o condicionador, o azeite, o leite que toma, o suco... Desconhecer a geladeira da namorada é passagem direta para o congelador. 

É entrar numa livraria e pensar no livro que ela vai gostar, é entrar numa loja e pensar um vaso que combinaria com sua sala, é entrar no cemitério e sonhar com um mausoléu para a família, sim, planejar a morte junto - nada mais romântico. 

Trechos de Não sabemos namorar de Fabrício Carpinejar em Mulher Perdigueira.



Sem mais para o momento: Nós, meu bem, não soubemos namorar. 






O futuro

No fim do ano passado, acompanhei a filha de uma prima em seu último dia de aula. A garota estava completando a 3ª série, embora não saiba ler direito. O que eu considero absurdo as professoras acham super normal. Não sei se o problema é com a criança, com a escola (pública), com as professoras ou com a mãe da criança. 

Porém, para minha surpresa, alguns menininhos me abordaram no corredor, me perguntando se eu gostaria de ganhar um livro deles. Não exitei, curiosa que sou. Li os livrinhos assim que cheguei em casa. Material surpreendente com capa, título, nome do autor e do ilustrador. (Subestimei os alunos?) Os dois textos que vou publicar aqui são de autoria de Elias José, e foram publicados no livro (feito manualmente): Quem lê com pressa tropeça. Ambos me chamaram a atenção porque revelam duas situações e verdades sociais muito comuns atualmente, e não só a linguagem, mas à percepção de uma criança de aproximadamente 8 anos dessas situações, me surpreendeu. As imagens estão com qualidade ruim, por isso logo após a foto transcrevo os textos. 

A Ana Banana 
tão bacana
 namora e gama
toda semana.
A semana que a Ana 
não gama
vira um drama.


O prefeito moço 
prometeu ovo 
muito ovo 
pro povo,
e quando ganhou ,
o prefeito novo 
deu banana pro povo.


Acho que não é preciso que eu diga mais nada. Ainda há esperança.

Luana Gabriela
2011

Que seja real, doce e eterno



Que seja tudo que ainda não veio, não foi. Embora as cenas se repitam, mãos dadas, beijos escondidos, namoro escondido – é muito cedo pra alguém saber – que seja tudo que os outros não foram. Real que eu possa tocar, que seja concreto como o substantivo Deus, e que seja eterno. Que os dias passem lentos, os anos rápidos, que nós dois não passemos nunca.

Que seja doce, não como o chocolate da páscoa, mas como aquela última bala esquecida no bolso. Doce, surpreendente e raro. Não importa como, importa que seja. Abraços doces e macios como marshmallows. Beijos doces e viciantes como café com creme.

Que seja eterno, como hoje já quase nada é. Somos. Seremos juntos, a eternidade nos segundos de abrigo, a eternidade revelada no nosso amor fazendo eco, preenchendo esse vazio da humanidade, a eternidade dentro e fora da nossa casa. Que seja real, doce e eterno como só Deus, que é amor, consegue ser.


Luana Gabriela
20/02/2011

Musical

Sexta -feira é sempre um dia musical. Então fica aqui minha sugestão de dois grupos que descobri hoje. 


O primeiro Lemoskine (para ouvir clique aqui)- Projeto de Rodrigo Lemos (ex-Poléxia). Me encantei desde as letras, mas especialmente pelo som, que conheço pouca coisa parecida, especialmente aqui de Curitiba. 

A segunda descoberta Apanhador Só - de longe me lembrou Los Hermanos e Gram (a do gatinho).

Segue a letra do dia, tô nessa vibe!



No muro lá da rua, a gente já não pode mais pintar
No meu varal, há muito tempo, não tem roupa pra secar
O pessoal tá ocupado, o trago é sempre pra amanhã
No meio lá da rua, ninguém brinca mais de rolimã
A coisa tá ficando preta
O céu já vai perdendo o azul
Vai lá, destampa essa panela
E passa a tranca na janela
Hoje eu não quero me arriscar
Eu tô zerado há mais de mês, já não tenho nenhum tostão
No meu quintal parou de dar maracujá, uva e limão
No bar da esquina, não nos deixam a cachaça pendurar
Mas com um beijo da Maria tudo vai se ajeitar

Quando a maturidade bateu à porta, eu pulei a janela

Me desculpe. Não foi uma atitude madura ter saído de casa e deixado apenas um post-it rosa, com “Até Logo” escrito, e mais nenhuma explicação. Estive na casa de uma amiga. Não se preocupe não era uma das amigas baladeiras, que me levariam você bem sabe onde pra tentar te esquecer. Fui na casa de uma das amigas casadas e com filho. Você pode pensar que ela me diria: Não se assuste, no início é assim, mas seja mulher e volte para sua casa, para sua nova família. Na verdade, acho que eu inconscientemente, ou nem tanto, também estava esperando que ela dissesse isso. Mas ela não disse.

Eu saí de casa sem levar roupa alguma, apenas a bolsa do dia a dia, com o mínimo de maquiagem, o livro que eu estava lendo, e um cartão de crédito. Levei o celular, embora eu o tenha deixado desligado todos estes dias. Não sei nem se voltarei a ligá-lo. Não quero saber quantos contatos profissionais deixei de fazer, quem deixei de socorrer para uma ida à farmácia, ou uma dúvida na grafia de palavras, nem quero saber quantas vezes você me ligou, se deixou recado, ou pior, se não me ligou. Eu saí, deixando tudo que era meu, mas me levei embora. Aquele seu casaco, eu peguei também. Era ele que você usava quando a gente brigou pela primeira vez. Você todo nervoso, levantando o zíper até cobrir todo seu pescoço, exatamente do jeito que eu adoro. Fazendo com que minha raiva se esvaísse em um sorriso de segundas intenções.

Ela me deixou ficar lá, integrando aquela família. Eu brincava com o filho dela, eu falava sobre futebol e empresariado com o marido, eu falava sobre dietas e produtos de beleza com ela. Eu tinha momentos sozinha também, ficava sentada no sofá horas lendo meu livro, inventava receitas, cuidava da casa. E eu não entendia porque isso era tão atordoante na nossa casa. Você o dia todo fora, eu em casa, recolhendo a roupa antes da chuva, tirando o pó, escolhendo que música tocar enquanto eu recolho o lixo, enquanto faço as unhas, enquanto tomo banho e faço uma omelete pro jantar. Tudo que eu fazia antes de você, tudo que eu fazia com você, tudo que eu faço agora, depois de você. Embora o depois seja precipitado, eu disse Até Logo e não Adeus.

Jamais voltaria pra casa da minha mãe, que sempre foi a casa da minha mãe, nunca a minha casa. Eu deixei no nosso apartamento minha estante de livros, é a garantia de que eu vou voltar nem que seja pra buscá-los, e pra ouvir você gritar. Essa rotina é que cansa, não você. Se não fosse loucura minha eu te pediria pra gente mudar o jeito, mudar a casa, pintar as paredes, comprar uma geladeira antiga, nos desfazermos do sofá. Eu quero uma família, mas não tão igual às famílias que nos cercam. Afinal nós não somos iguais.

Eu vou voltar. Só não sei se é pra você, pra nossa casa, ou pra quem eu era antes de você. O pior é saber que ainda não estou pronta para te dizer nada disso. Meu telefone continua mudo. E meu silêncio ainda é um até logo. O seu é um “tudo bem” ou um “você que sabe”?

Luana Gabriela
14/02/2011

Passado

"Lembro que sempre sonhei viver de amor e palavra."

Herbert Vianna

Eu não sou nenhum Roberto, mas às vezes chego perto (Cássia Eller)

(...)

Comecei a ficar mais atenta às verdadeiras razões dos meus choros, que, aliás, costumam ser raros. Já aconteceu de eu quase chorar por ter tropeçado na rua, por uma coisa à-toa. É que, dependendo da dor que você traz dentro, dá mesmo vontade de aproveitar a ocasião para sentar no fio da calçada e chorar como se tivéssemos sofrido uma fratura exposta.

Qualquer coisa pode servir de motivo. Chorar porque fomos multados, porque a empregada não veio, porque o zíper arrebentou bem na hora de sairmos pra festa. Que festa, cara-pálida? Por dentro, estamos em pleno velório de nós mesmos, chorando nossa miséria existencial, isso sim. Não pretendo soar melodramática, mas é que tem dias em que a gente inventa de se investigar, de lembrar dos sonhos da adolescência, de questionar nossas escolhas, e descobre que muita coisa deu certo, e outras não. Resolve pesar na balança o que foi privilegiado e o que foi descartado, e sente saudades do que descartou. Normal, normalíssimo. São aqueles momentos em que estamos nublados, um pouco mais sensíveis do que gostaríamos, constatando a passagem do tempo. Então a gente se pergunta: o que é que estou fazendo da minha vida? Vá que tudo isso passe pela sua cabeça enquanto você está trabalhando no computador. De repente, a conexão cai, e em vez de desabafar com um simples palavrão, você faz o quê? Cai no berreiro. Evidente.

Eu sorrio muito mais do que choro, razões não me faltam para ser alegre, mas chorar faz bem, dizem. Eu não gosto. Meu rosto fica inchado e o alívio prometido não vem. Em público, então, sinto a maior vergonha, é como se estivesse sendo pega em flagrante delito. O delito de estar emocionada. Mas emocionar-se não é uma felicidade? Neste admirável mundo de contradições em que a gente vive, podemos até não gostar de chorar, mas trata-se apenas da nossa humanidade se manifestando: a conexão do computador, às vezes, cai; por outro lado, a conexão conosco mesmo, às vezes, se dá.

Sendo assim, sou obrigada a reconhecer: chorar faz bem, não importa o álibi. É sempre a dor do crescimento.
 
Martha Medeiros em Coisas da Vida 

***************
Textos meus no Marginálias.

O que tem pra hoje

Ao invés de dizer o que não sente eu canto o que eu vivo. Viver é melhor que sentir. Viver é ação, sentir passa com o vento. Eu vivo você, mesmo quando não te sinto aqui. 
Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias
A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez
Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.
Temos que consertar o despertador
E separar todas as ferramentas
Que a mudança grande chegou
Com o fogão e a geladeira e a televisão
Não precisamos dormir no chão
Até que é bom, mas a cama chegou na terça
E na quinta chegou o som
Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo
E até que é fácil acostumar-se com meu jeito
Agora que temos nossa casa
é a chave que sempre esqueço
Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo
Temos a semana inteira pela frente
Você me conta como foi seu dia
E a gente diz um pro outro:
- Estou com sono, vamos dormir!
Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você
Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor
 
 
 
Escolhi o vídeo porque é tão simples e puro quanto ao que estou vivendo independente do que estou sentindo.

Gosto de ver você dormir


“O mundo anda tão complicado, que hoje eu quero fazer tudo por você”, cantava o trio em cima de um pequeno palco qualquer, num bar qualquer dessa cidade. Rodeada de amigos, com os papos mais divertidos e cabeça ao mesmo tempo, o refrão ecoava em minha mente, com a tua voz. Com tua voz de domingo de manhã, com teu hálito e hábito de beijo escova de dente. Essa foi a cena de quando eu disse: Gosto muito de você.

Foi pouco. Depois de tanto mimo, cuidado, carinho, você queria (merecia?) ouvir mesmo era um Eu te amo, bem espaçado para não confundir, para você não imaginar que era sonho. É pouco? Mas é tudo e é completamente. Eu gosto tanto de você que não há em mim espaço para gostar de outros olhos, de outros beijos, de outros dedos, de outra voz, de outros acordes, de outro. Eu gosto de você e é tanto que suporto teus rock’s antigos, teu cabelo mais comprido que o meu, é tanto que aguento você me oferecendo chá, sabendo da minha paixão por café. Gosto de você e é tanto que não importo de você vestir camisetas tão velhas e desbotadas e nem com seu all star tão surrado, quanto seu coração.

Gosto. E é tanto que quero aprender a cozinhar teu prato favorito de surpresa, e preparar num domingo qualquer. Gosto tanto que acompanho as notícias de teu time, mesmo sendo um grande rival do meu. Gosto. Gosto desse perfume, mesmo sendo igual ao do ex, em ti é diferente. Gosto da sua maneira bruta de atender ao telefone, e do modo doce de não querer desligar. Eu gosto. Gosto de teu sotaque diferente, da tua pinta no braço, da tatuagem escondida nas costas, gosto mesmo. Pode ser pouco. Mas pra mim já é tanto.

Você sabe minhas histórias, aquela frase dita precocemente, virou uma grande mentira. Não me diga eu te peço, e às vezes é mesmo para não me sentir na obrigação de responder Eu também, como você supôs. Eu nunca te pedi pra ligar, me apresentar aos seus pais, eu nunca exigi nada, apenas peço que não diga. A palavra dita não volta. Ela chega ao coração cria raízes e pra arrancar, dói muito. Meu coração é de novo um solo fértil, não diga nada.

Me basta dividir os dias, completar as frases, cantar os mesmos refrões, me basta amar e não dizer. Você cruza a porta, cumprimenta todo mundo, chega minha vez, sua voz rouca, sussurra: “Quero ouvir uma canção de amor /Que fale da minha situação/De quem deixou a segurança de seu mundo/Por amor. Isso é tudo. O silêncio que vem depois é a frase que tanto calamos. Gosto muito disso.

Luana Gabriela
13/02/2011  

Aviso

Aos leitores: este blog agora se destina à outra abordagem da vida. Os textos poéticos que antes eram daqui estão no Marginálias acesse e continue acompanhando!

Obrigada!

De pernas para o ar

A ampla reverberação do "é impossível ser feliz sozinho", faz com que mulheres bem sucedidas, bonitas, inteligentes, cultas, divertidas exponham-se a ter menos do que merecem só para não ficar sem nada. Toda mulher sonha mesmo em ter filhos, marido, casa para cuidar? (Não sou contra, tenho às vezes essas ideias também), mas precisamos generalizar? Para ser boa no trabalho, tem de se negligenciar a família? Para cuidar bem da família é preciso deixar de trabalhar? E para ter um homem ao seu lado - mesmo que só para não estar só - é necessário diminuir-se? 

Leia texto completo com base na análise do filme De pernas para o ar no blog: Não quero Falar disso!   (O blog voltou, mas com outra abordagem, linguagem e objetivo.)

De pernas para o ar

Cinema nacional: Palavrão/ sexo/ violência/ homem e mulher trocando de corpo. Este é um resumo e tanto do cinema nacional, alguns podem dizer. Contudo, é possível ter gratas surpresas. Abril despedaçado é uma delas. Sem violência, sem favela, sem muito palavrão, um dos filmes nacionais que eu mais gostei, dos que eu já vi, claro. E isso que gosto de violência - entram na minha lista de filmes nacionais "queridos" O bicho de sete cabeças, Carandiru e Tropa de Elite II. Mas a grata surpresa da semana é um filme bem menos pretensioso, ou não. 

Informação importante: Não sou crítica de cinema, e nem pretendo. Tudo que ler aqui são impressões em mim despertadas após assistir ao tal filme. Que filme? De pernas pro ar. Já no nome abre brechas para reflexões, talvez nem tão profundas, talvez sim. O título pode fazer referência tanto a inversão de papéis entre homem e mulher numa relação amorosa, quanto ao ato físico: pernas pro ar. No longa, o marido reclama que a mulher não lhe dá atenção, e a mulher é quem só pensa em trabalho. Deixando claro: não era esse o filme que eu queria ver, mas não me arrependi. 

A protagonista Marcela, trabalha em uma loja de brinquedos no departamento de marketing tem um relacionamento "seguro", um filho, e nas palavras dela: viajamos duas vezes por ano ao exterior, tenho uma vida ótima. Até que ela recebe uma indicação para ser promovida na empresa, o marido sai de casa e por um erro é demitida. A vida de pernas pro ar. Encontra uma vizinha com ares bem diferentes do dela.  Com o tempo, após julgamento mútuo de ambas, elas tornam-se amigas. Mas os pontos que me parecem interessantes são: Mulher bem sucedida perde um pouco da feminilidade (relacionada diretamente à emoção); liberação sexual feminina (ainda não muito aceita pelos homens) e o clichê "é impossível ser feliz sozinho". 

Todos os pontos são verdade socialmente difundidas. Conheço mulheres de 40 anos, empresárias, bem sucedidas nos seus respectivos campos de atuação, só uma delas tem realmente um jeito mais duro, menos emocional. As outras deixam-se aflorar. Cantam enquanto trabalham, separam horários para ser mulher, mãe. Não sei se coicidentemente, mas esta menos emocional também é a única solteira. Não que as outras sejam casadas. Mas aí vou pular para o terceiro ponto. As outras que não são solteiras submetem-se à situações desagradabilíssimas só para ter alguém. Não que elas amem seus companheiros, amor é palavra forte e mal empregada. Em geral eles são menos cultos e ganham menos que elas. Me atirem pedras, mas considero isso importante. Igualdade, estabilidade. A questão é que eles não contribuem em nada para a vida delas, e sei que elas estariam melhor sem eles, como já estiveram. 

A ampla reverberação do "é impossível ser feliz sozinho", faz com que mulheres bem sucedidas, bonitas, inteligentes, cultas, divertidas exponham-se a ter menos do que merecem só para não ficar sem nada. Toda mulher sonha mesmo em ter filhos, marido, casa para cuidar? (Não sou contra, tenho às vezes essas ideias também), mas precisamos generalizar? Para ser boa no trabalho, tem de se negligenciar a família? Para cuidar bem da família é preciso deixar de trabalhar? E para ter um homem ao seu lado - mesmo que só para não estar só - é necessário diminuir-se? Acho que não! E por final o último assunto: a liberação sexual feminina. Após ser demitida Marcela - a protagonista- torna-se sócia da vizinha em uma loja de sex shop. Ela tem temor de contar isso ao marido. Ele acaba encontrando a mulher em uma feira erótica, divulgando seu negócio. Ela aparece com brinquedinhos, ele estranha. Se fosse ele, tudo bem!

Uma das últimas frases do filme (adaptada conforme minha memória): Talvez sucesso não seja conquistar grandes prêmios, mas ter alguém com quem compartilhar as conquistas. A mulher já conseguiu se libertar de muita coisa, já conquistou muitos direitos. Acho que tá na hora de se libertar do mito de ser um ser incompleto que precisa de outro para ser feliz e mais tá na hora de conquistar o direito de escolher ser feliz sozinha, ou com alguém, o direito de escolher e ponto.

Luana Gabriela
Fevereiro 2011

Não sei se eu falei...

Não sei se eu falei, me amaro no rei, adoro ler biografias,
Viciada em café, cabelos em pé, tenho uma guitarra verde limão.

 Chalala - BlueBell


Uma das grandes descobertas da minha semana! Tá aí um clipe que me emocinou, uma música que me leu!

Pra fechar uma frase de Bukowski:

O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.
Charles Bukowski

Mais do mesmo

Este blog tem o nome do meu antigo blog!
Mas espero fazer dele algo bem diferente.
Este blog é produto do tédio de uma jornalista desempregada (vivendo de freelas), de uma pessoa doida para trabalhar com literatura, por música, Jesus, e coisas modernas (quando eu digo modernas entendam - Retrô!).
Quero uma geladeira vermelha na minha cozinha, versos adesivados nas minhas paredes, e gravados pra sempre na minha pele.
Tem gente que me conhece mais do que eu me conheço.
Amo minha mãe, meu pai e minhas irmãs, são os 4 "objetos" das minhas preocupações eternas!
Deus me dê paciência.
Vai um café, aí?

Depois


Me irrita sua mania de desligar esse celular. Você gritou. E começou então uma longa e filosófica discussão sobre como sou uma pessoa antissocial, imatura, que não sabe dizer não. Você está certo. Eu acrescentaria ainda o fato de ser apaixonada por solidão e ter um amor impossível com uma companhia imaginária de um amor que não virá. Você não falou disso nessa nossa discussão, mas não me poupou nas seguintes.

Nunca entendi esses casais que discutem diariamente e fazem as pazes diariamente, e hoje não me entendo. Todos os dias me pergunto como, porque, onde, pra quê? Aguento e suporto isso tudo, se analisando bem nada vale a paz que você me tirava. Na verdade, também nada vale a paz que você me dava.

Assistindo a um filme, você faz um comentário, eu discordo. De repente. Eu apoiando minha cabeça em teu colo, você fazendo pequenos nós em meus cabelos... e um comentário tudo muda. Levanto a cabeça enfurecida, não posso nem expor minhas ideias. Eu aceito as suas. Aceito tudo que nos é diferente, e tudo nos difere, e talvez fosse essa diferença que nos aproximasse.

Com o tempo veio o cansaço, físico, emocional. Cada vez que brigávamos eu não comia, eu não dormia até que fizéssemos as pazes e às vezes demorava mais de um dia. Até que eu cansada, fui deixando de me importar em dar minha opinião, de expor meu querer, deixei de dizer que sentia sua falta, ouso dizer que não sentia mais sua falta. 

Dias e dias sem se ver, sem motivos. Não foi a agenda de nós dois que nos afastou, foi a distância emocional que você me impôs. Não me tocam suas palavras bonitas, você disse. E elas eram o melhor de mim. Eu com você, não era eu. Era quem você gostaria que eu fosse, assim você foi quem eu quis por algum tempo. O tempo não acaba com o amor, o tempo destrói a paixão, a ilusão, a irracionalidade do início.

Com você eu descobri que o amor é o que vem depois. Depois de você. 

Luana Gabriela
2011

Please, don´t stop the rain (James Morrison)


Senta aqui, comigo. Olha pra mim, eu completamente de cara limpa, exatamente como aquele dia que a gente se beijou pela primeira vez. Eu estava tão de saco cheio daquele compromisso, que nem me arrumava mais. Era preguiça de tentar esconder meus defeitos. E foi quando você os viu que não resistiu. E quem sou eu para resistir a quem me quer apesar de como eu sou?

Fica aqui comigo, a tarde está pedindo por nós dois nesse sofá. E já não importa o que passa na TV, meus olhos fixos no seu, e isso é tudo. Fica aqui, lindo, em silêncio dizendo que me adora, com essa sua respiração ritmada, com essa alegria calada que me invade, me transborda. Faz com que eu não caiba mais em mim mesma, e tenha de me dividir contigo.

Olha só, o vidro da janela embaçado, a chuva lavando todo lugar. Fica aqui, a gente pega o violão, faz um café, descobre um pouco mais um do outro, e de nós dois juntos. Fala um pouco do tempo, da vida, do amor, sorri. Sorri como sempre fazemos juntos, como vai ser a vida inteira, eu em teus braços, me esquentando no teu moletom mais antigo, pra ficar com teu cheiro nos dedos, pra deixar você gravado em mim como uma tatuagem. Sorri, deixa teus olhos pequeninhos, isso sé tão lindo. Acho que foi aí que me apaixonei, no seu abraço, no seu sorriso largo com os olhos pequenos, no seu cheiro tão delicado que eu preciso ficar muito perto pra sentir. Foi por todo estes detalhes, que ninguém mais teve oportunidade de descobri.

Fica aqui, pra sempre. Assim, como estamos agora, tão entregues, inertes nessa atmosfera de carinho, amizade, alegria, me cerca de atenção, e eu vou pedir pra chuva não parar. Que já não importa o que dissemos há tanto tempo atrás, importa agora esse silêncio de cumplicidade, esse olhar castanho refletido no meu, você se vê em mim, eu em ti, meu espelho. Meu quase amor. Fica aqui, só por hoje. O amanhã também será hoje. Fica aqui, deixa-me ser seu abrigo até a chuva passar, e “Please, don´t stop de rain”, I pray, silenciosamente. 

Luana Gabriela
03/02/2011

Pedido


Não pense que eu não desejei
não diga que eu não quis
é só que eu me assustei
ao me ver tão feliz
Agridoce- Romeu

Eu me vi sorrindo. Foi através de teus olhos, tão próximo estava seu rosto do meu. Eu me vi através de ti, e eu estava muito mais bonita. É que a seu lado não há nada que fique feio, nem os dias chuvosos. Você é aquele que jamais me fará chorar, é perigoso dizer, mas eu arrisco. Eu me arrisco em teus braços, eu me jogo, me lanço. E depois eu fujo. E te deixo meio confuso. Tudo bem, é que eu estou confusa também. Há tempos recusando-me a rir com alguém, só rindo então de mim, pra não chorar.

Não é que eu não quis, não é que eu não queira, é que me assusto: estou contente de novo.  Não há só maus sentimentos em mim, você me faz sentir algo bom, mesmo que não seja amor. Eu sumo, para você vir atrás. Você some, me faz te querer mais. E esse jogo de esconde-esconde, o que nossos olhos e sorrisos revelam, me anima. É tua voz que me desperta todo dia, é tua risada que embala meu sono. Mais que amigo. Uma parte do mundo que não desiste de mim. A parte do mundo que me aceita, nas crises, nas besteiras, na preguiça e até no egoísmo. A parte de mim que me aceita como sou, fora de mim.

Eu te encontrei. Eu te quis. Eu te encontro quase sempre, e te desejo como nunca. Se eu sumo, é porque tenho medo, de resumir o que vivemos, de pular etapas, e também de arrastar conversas. Tenho medo dos silêncios, geralmente precedidos do seu “Cuide-se”. Tenho medo de responder: “Me cuido, mas só pra você”. Eu escrevendo novamente, você me lendo novamente. Parece que é assim mesmo, eu pra você, você pra mim. Por mais que a gente fuja, que tenham passado outras pessoas em nossos passados, mesmo com tudo isso, a minha rua atravessa a sua. O meu sorriso refletido em teus olhos, me conduz ao caminho para encontrar a felicidade de novo. A felicidade é teus braços me segurando, me impedindo de partir. A felicidade é tua risada me fazendo rir, a felicidade é ter você domingo à tarde no meu sofá, felicidade é tomar café da tarde contigo numa quarta-feira sem par, felicidade é você existir e me fazer sentir viva de novo. Não me assusta mais, que eu pulo em teus braços, e a gente pode cair.

Luana Gabriela
30/01/2011
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