Quando a maturidade bateu à porta, eu pulei a janela

Me desculpe. Não foi uma atitude madura ter saído de casa e deixado apenas um post-it rosa, com “Até Logo” escrito, e mais nenhuma explicação. Estive na casa de uma amiga. Não se preocupe não era uma das amigas baladeiras, que me levariam você bem sabe onde pra tentar te esquecer. Fui na casa de uma das amigas casadas e com filho. Você pode pensar que ela me diria: Não se assuste, no início é assim, mas seja mulher e volte para sua casa, para sua nova família. Na verdade, acho que eu inconscientemente, ou nem tanto, também estava esperando que ela dissesse isso. Mas ela não disse.

Eu saí de casa sem levar roupa alguma, apenas a bolsa do dia a dia, com o mínimo de maquiagem, o livro que eu estava lendo, e um cartão de crédito. Levei o celular, embora eu o tenha deixado desligado todos estes dias. Não sei nem se voltarei a ligá-lo. Não quero saber quantos contatos profissionais deixei de fazer, quem deixei de socorrer para uma ida à farmácia, ou uma dúvida na grafia de palavras, nem quero saber quantas vezes você me ligou, se deixou recado, ou pior, se não me ligou. Eu saí, deixando tudo que era meu, mas me levei embora. Aquele seu casaco, eu peguei também. Era ele que você usava quando a gente brigou pela primeira vez. Você todo nervoso, levantando o zíper até cobrir todo seu pescoço, exatamente do jeito que eu adoro. Fazendo com que minha raiva se esvaísse em um sorriso de segundas intenções.

Ela me deixou ficar lá, integrando aquela família. Eu brincava com o filho dela, eu falava sobre futebol e empresariado com o marido, eu falava sobre dietas e produtos de beleza com ela. Eu tinha momentos sozinha também, ficava sentada no sofá horas lendo meu livro, inventava receitas, cuidava da casa. E eu não entendia porque isso era tão atordoante na nossa casa. Você o dia todo fora, eu em casa, recolhendo a roupa antes da chuva, tirando o pó, escolhendo que música tocar enquanto eu recolho o lixo, enquanto faço as unhas, enquanto tomo banho e faço uma omelete pro jantar. Tudo que eu fazia antes de você, tudo que eu fazia com você, tudo que eu faço agora, depois de você. Embora o depois seja precipitado, eu disse Até Logo e não Adeus.

Jamais voltaria pra casa da minha mãe, que sempre foi a casa da minha mãe, nunca a minha casa. Eu deixei no nosso apartamento minha estante de livros, é a garantia de que eu vou voltar nem que seja pra buscá-los, e pra ouvir você gritar. Essa rotina é que cansa, não você. Se não fosse loucura minha eu te pediria pra gente mudar o jeito, mudar a casa, pintar as paredes, comprar uma geladeira antiga, nos desfazermos do sofá. Eu quero uma família, mas não tão igual às famílias que nos cercam. Afinal nós não somos iguais.

Eu vou voltar. Só não sei se é pra você, pra nossa casa, ou pra quem eu era antes de você. O pior é saber que ainda não estou pronta para te dizer nada disso. Meu telefone continua mudo. E meu silêncio ainda é um até logo. O seu é um “tudo bem” ou um “você que sabe”?

Luana Gabriela
14/02/2011
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