Insaciável

Chove. É domingo. E não sei exatamente o que sentir. Toca “she will be loved”, você está na cozinha preparando algo para o almoço. Eu na sala, lendo Gabito Nunes. Você e ele me despertam apetites e fomes insaciáveis. Ele de literatura contemporânea, você de algo muito mais complexo.

Eu sinto fome de olhares desconcertantes, de brincar de brigar, de cenas dramáticas nas nossas despedidas, de beijos doces, do seu calor no meu sofá. Leio Gabito e penso que você não é assim. E eu sou demais. Muito lirismo pra pouco sentimento, eu penso. Faz quanto tempo? Seis meses, e nenhuma vez pronunciamos a palavra amor. E suas derivadas frases: eu te amo, amo você, meu amor. De fora talvez pensem que somos mais conveniência sentimental que qualquer outra coisa.

De fora. Porque aqui dentro uma avalanche de emoções me sufoca, eu tento me levantar e me recuperar do impacto de ter caído tão fundo e tão rápido no teu abraço. Mas eu não me recupero. Estou cada vez mais sufocada por teu perfume entorpecente, por teu peito que me abriga, por teus lábios que me secam as lágrimas, por tua boca que me alimenta. Tão intenso é isso, que te olho de longe, experimentando o tempero do molho, e tenho vontade de correr pra qualquer lugar que seja longe o distante de você, que eu não consiga experimentar a sensação de querer e ter. Estranho, eu sei.

Já falei de avalanches, temperos, e nada diz exatamente o que eu queria dizer. Que sinto falta do teu beijo, da tua voz em meu ouvido, de teus dedos me dedilhando, de teu braço me protegendo, de teu peito como travesseiro, de ter você no meu sofá, enquanto me arrumo pra mudar de casa, e morar em você. Eu sinto cada vez mais fome do que você me dá. Se existe obesidade sentimental, me coloquem na fila do SUS para a cirurgia de redução, estou morbidamente insaciável de você.

Luana Gabriela
15/05/2011
<< >>