Com você

Me pega em teus braços. Me abraça bem forte, faz aquela massagem que só você sabe. Uma massagem quase completa com o calor de tuas mãos quem sabe me ajude. Sua presença é terapêutica, aliás tua existência é. Me desculpa vai? Por não valorizar teu esforço em me fazer feliz, sem deixar que isso te deixe triste. Eu te disse que eu era egoísta, eu avisei que não era boa, que eu só parecia. É pode ser isso mesmo que você disse, a gente se apaixonou porque achamos que éramos bons, e permanecemos juntos quando vimos o lado ruim do outro. Pode ser, acho que você tem razão, só pra variar. Eu sei, também te amo. Não, isso eu já não sei responder. Eu já te disse que amor não é merecimento, que sou dramática, poética e tenho um humor ácido na maioria das vezes e que talvez eu coma tanto doce porque sou muito amarga.

Você sabia que eu te detestava há quatro anos? E que há 3 anos e meio eu me torturava por sonhar beijar você, te abraçar e que agora, este tempo todo depois, só me torturo por não termos nos dado chance naquela época, eu teria evitado tanto sofrimento, você sabe. Quer dizer sabe o que eu deixei você saber. Não quero conhecer teu passado, quem passou pelos teus braços antes de eu chegar, não quero saber quem ocupou teu lado direito no cinema, não quero saber quem andou se cobrindo com seu edredom azul que eu adoro.

Eu não te conto nada e você não me conta. Mas é que eu esqueci mesmo muito do que já passou e eu ouvi uma música que diz assim: Não me lembro como eu era antes de você, então, juro, eu não me lembro. Com quem eu ia ao cinema, para quem eu ligava nas horas boas e ruins, para quem eu respondia como foi meu dia, e para quem eu perguntava se estava tudo bem. Eu não me lembro. Minha terapeuta disse mesmo que eu tenho isso de apagar as memórias tristes, então, eu não me lembro como eu era antes de você.

Eu vou parar de falar agora, antes que eu me perca (mais ainda) de tudo que eu tinha em mente. Me desculpe por não querer ter filhos, mas querer casar logo. Me desculpe essa necessidade de espaço que eu tenho e me desculpa por não respeitar direito a sua necessidade. E, bom acho mesmo que preciso parar, mas não antes de dizer que eu precisava de alguém exatamente como você. Com essa falta de jeito pra amar, com esse brilho de medo e amor no olhar, com esta perna tremendo antes de entrar na minha casa, conhecer minha família, eu precisava de alguém que me protegesse de mim, que me fizesse dizer não aos meus medos e desejos, ambos tão intensos, eu precisava e tinha que ser você.

Tinha que ser você com esse jeito bruto e amoroso ao mesmo tempo, de dizer que me ama, mas que não vai fazer o que eu quero, e depois fazer mais do que eu esperava. Eu precisava disso, de alguém que me avisasse das poças na rua, que realizasse em um só dia meus três pedidos: cama quente, filme e beijo na chuva. Eu precisava de alguém que me dissesse pra tomar menos café e mais refri. Eu precisava de alguém que fosse o oposto do que eu sou, e admirasse esse ser ruim que eu sou. E acho, que você também precisava de alguém como eu. Que te ama e não pede nada em troca, que ouve uma frase bonita e te retribui com um abraço. Alguém que quer te cuidar, eu andei lavando suas roupas, comprando suas meias, eu andei pensando em fazer isso pra sempre. E mais, eu só preciso que você me ame, exatamente como você faz.

Eu estava errada esse tempo todo eu não precisava de alguém com as mesmas convicções e paixões que eu, seu mundo completa o meu e o meu o seu. Está tudo bem agora que os monstros dos nossos medos dormem embalados pelos sons dos nossos beijos. Dorme amor, eu vou ficar aqui olhando pra você, como você não gosta que eu faça. Dorme, que eu vou ficar sonhando acordada.

Luana Gabriela
29/09/2010

Não deixe seu café esfriar

Para escrever, preciso de um café fumacento. O primeiro surge pela manhã, e então é como se recebesse um abraço caloroso quando o líquido preto invade com graça os vãozinhos horizontais tão brancos do copo de plástico. Em casa, quem tem vez são xícaras de alças grandes. Dia desses reparei que tenho uma coleção delas. Há uma do meu time preferido – a essa altura do campeonato não vale a pena mencionar qual é –, estreita. Outra é verde por fora e azul por dentro. Feia essa, quase não uso. Uma outra, toda preta, é marota e esconde o perigo. É que, súbito, o café se confunde com o interior do recipiente: penso que há menos e queimo a boca; sinto que há mais e não há nada. Tenho de olhar para o fundo para conferir se o vazio já chegou. No meio do processo, porém, os óculos embaçam. E então realmente não distinguo uma coisa da outra.

O fato é que constatei e estou pronto para assumir: tenho um vício. Pois sim. Terríveis, insuportáveis, malditos, são os feriados em que trabalho no jornal. Não pelo dia em si – claro que preferiria estar em uma praia a escrever algumas mal-traçadas, mas o fato é que adoro o que faço –, e sim pela ausência insubstituível daquela garrafa corpulenta, que estampa em letras convidativas: “café amargo”.
 
Já aconteceu, em plantões de feriados ou de finais de semana, de levantar em busca do líquido renovador, sagrado, e dar de cara com uma mesa triste e vazia, em que só o açucareiro e a toalhinha são testemunhas. Nessas horas viro uma espécie de sonâmbulo desperto. Imagine alguém com os braços esticados em direção à mesa sobre a qual deveria (deveria!) estar o café.
 
Deve ter acontecido também o seguinte. Sentar-me em frente ao computador e, ato-reflexo, esticar o braço direito em busca do copo fumegante. O café tem seu cantinho, como não. Fica ali, entre a divisória de madeira e o mouse. Tudo planejadinho.
 
E, veja, alguns copos se rebelam. Não sei se porque os ignoramos frente às tarefas do dia. Notei: os cafés que fogem do copo são sempre os frios. E aí dói. É uma lástima vê-lo ganhar vida rapidamente e acompanhar seu percurso por toda a extensão da mesa, enegrecendo papéis, se infiltrando devagarinho por debaixo do teclado, deixando marcas, cheiros. O conselho é: nunca deixe seu café esfriar.
 
Também noto suas alterações de humor. Há algumas quartas-feiras, Ele (a essa altura já cabe uma distinção), estava fraco. Como se tivesse sido coado duas vezes, o pobre. Não sei. Percebi logo pela cor. Era um preto turvo, indefinido. Sem graça. Tomei rápido, antes que esfriasse.
 
Mas, como desse a volta por cima, numa sexta-feira pra lá de corrida Ele surgiu portentoso, em seu melhor traje. Parecia até feito daqueles grãos especiais, limitados, cheios de tabelinhas e nove horas. O copo, coloquei no cantinho propício – arrumei a papelada para evitar maiores problemas –, e Ele me acompanhou, firme, durante uma matéria inteira. Nesse mesmo dia foram mais dois copos. Na verdade um, porque os encho pela metade. Agora a xícara toda preta me olha e o café vai esfriando, em silêncio traiçoeiro. Melhor acabar logo com isso.

Texto de Cristiano Castilho - Publicado na Gazeta do Povo Online

Sabe? Não.

Porque eu sei. Sei que não há motivos para estarmos juntos, aparentemente. Sei que cada palavra importa, que cada silêncio incomoda, que meu desejo fere o teu. Sei que não sabia mais sonhar, hoje já não faço outra coisa. Sei que penso em ter uma casa bem pequena, pra que eu possa sentir teu cheiro mesmo quando estivermos em cômodos diferentes. Sei que sinto falta do calor de tuas mãos, do teu abraço de corpo inteiro, do teu peito como travesseiro, do teu olhar invadindo o meu. Sei que é isso tudo que eu sinto, e achei que não saberia mais sentir.

Também sei que pra você não é diferente. A gente briga, fala o que não devia falar, ama sabendo que não deveria amar. A gente continua junto, sabendo que o melhor talvez fosse terminar. Eu não consigo, a palavra final vem até o meio da garganta e eu engulo com um beijo seu. Não dá pra falar, “Acabou”, não é tão fácil quanto achei que seria, não fui tão forte quanto imaginei. Eu era inteira amor, mesmo quando cinza. Este texto meu não diz nada de novo, o amor é que é novo. Sempre e a cada dia. Eu poderia reproduzir versos musicais que cabem perfeitamente no que eu queria te dizer, algo como “Estou aprendendo também”.

Sei que você acha que não serve pra namorar, eu confesso que também achava que isso de namorar não era pra mim. Somos dois independentes, doidos porque agora dependemos um do outro e desse sentimento que toma conta da gente. Sei que nada mais importa, só sua voz, seu cheiro, seu amor, seu beijo, cada momento que a gente se descobre mais apaixonado do que imaginávamos. Difícil, né? Eu sei. Melhor, eu não sei. Não sei mais nada, você mudou meu modo de ver o mundo, de me ver, de entender o amor. Eu não sei mais nada. Não sei porque te amo, não sei porque me ama. Sei que amar é não saber.

Luana Gabriela
24/09/2010

Boyfriend

"Só de me encontrar
Em seu olharJá muda tudo
Posso respirar você
É namorar na almofada E dormir bem"
Seu Jorge

Te liguei só pra dar Bom dia.- Te escrevi pra comentar aquele dia.- Te amei porque já não tive escolha.Assim como quem não quer nada, ele chega e desarruma a minha casa, meu coração. Veio pra descumprir as regras, e amar, amar e amar. Sem o medo do fim, sem o medo do início. Se começar que bom, se terminar antes disso, que bom. Que bom é isso, amar e fingir que não é nada. Tentar acordar e não pensar nele, tentar ir dormir sem pensar nele. Tentar almoçar, escrever, tocar sem pensar nele. Que bom é isso de conseguir disfarçar para todos, menos pra ele. Que bom é isso. Ouvir uma frase que denuncia o ciúme. Poder tocá-lo e receber no outro dia o mesmo toque. Que bom é isso, confundir o que é amigo e o que amante. Que bom é isso, de ser distraído. Se há alguém que confunde tudo sou eu. Se há alguém que ama minha confusão é ele. Que bom! Eu prometo que hoje eu não falo mais do que passou, e você vai ver que dos outros já nada restou. E eu não vou mais expressar o meu ciúme, vou deixar isso pra você. E hoje faz meses e hoje é só mais um dia que eu te queria e você sabe, sempre há um jeito de comemorar o que não se viveu, e você sabe poderia ter sido ontem. Que bom isso, de não precisar mudar nunca, de eu não precisar esperar. Que bom é você. Sempre me dizendo coisas sem dizer, pra só depois me cobrar que não entendi. Que bom é isso. Que bom é amar, amar e ainda sermos amigos.



Luana Gabriela

Ouça

São nestes dias cinza, que dentro de mim o sol brilha. Aquele sol que me faz pensar em mandar um sms e dizer que fim, acabou, quero voltar a ser sozinha. Pensar só em mim, fazer só as minhas vontades, assistir o filme que eu quiser, no cinema e no horário que eu escolher. Quero sair com meus amigos sem ter de dar explicação do porquê ele não está junto.



Nestes dias que tenho vontade de ligar pra um amigo e dizer pra passar lá em casa, tomar um café e buscar minhas coisas, estou de mudança para um quarto no AP de uma amiga no centro. Deixar um bilhete: Mãe fui administrar uma casa do jeito que eu acho certo. Aliás, fui administrar minha vida do jeito que acho certo. Não quero mais ter filhos, não quero ser assunto na sessão de terapia de ninguém. Ter filhos é egoísmo. Não ter também.



São nestes dias que dá vontade de pegar o violão e inventar uma música com acordes dissonantes, um poema em um idioma que não existe. E tudo fazer sentido, ao menos pra mim, que não faço sentido nenhum. Esses dias são dias de ir ao mercado comprar os salgados mais gordurosos e os biscoitos integrais favoritos. De dizer não quando vê algo que lembra ele e deseja comprar. Chega de agradá-lo, alguém tem que pensar em mim, nem que seja eu.



Dá vontade de chegar em casa e falar para irmã mais nova: Vamos querida, a vida não é só balada e ficação, você tem que pensar no futuro ou trabalha ou não come mais. Duro? Sim, mas por que ser maleável com a vida dos outros se a minha nunca foi? Macio em mim só a pela e à base de muito hidratante comprado com meu dinheirinho suado. Dá pra entender? Essas olheiras que disfarço com base e pó de uma linha de maquiagem cara (friso meu), são de trabalhar mais de 18 horas por dia, enquanto você fica aí com a pele boa, curtindo um bom papo no MSN o dia inteiro. Sem preocupação, sem rugas. Essas unhas tão perfeitinhas então, são de quem não entende nada de música, que não tem os dedos calejados pelas cordas do baixo e do violão, unhas enormes de quem não gasta seu tempo fazendo nada além de...nada!



Ah! São nestes dias que eu me permito andar pelas ruas fazendo muito barulho com salto agulha, com a cara feia de quem diz pro vento: Que foi, nunca me viu? Mas também é preciso ser realista. O sol pode sair amanhã, e aí eu vou ver tudo mais claro, e por dentro eu volto a ficar escura e nublada, quem sabe até a chover. Depende da direção do vento, depende do que ele soprar em meu ouvido.



Luana Gabriela
21/092010

Silêncio

Quando estou muito quieta por fora, é que dentro de mim alguma coisa grita e eu preciso me ouvir.

Luana Gabriela
16/09/2010

Silêncio

Quando estou muito quieta por fora, é que dentro de mim alguma coisa grita e eu preciso me ouvir.

Luana Gabriela
16/09/2010

O que você vê aqui? Amor - respondeu

Quando eu vi já estava segura em teus braços. Quando vi já me admirava refletida em teus olhos. Quando vi precisava do teu ar pra respirar. Quando vi era teu calor que derretia o gelo que eu era. Quando vi era tua voz que eu escutava, mesmo quando não era você quem falava. Quando vi me perdi no caminho de casa e fui parar no teu portão. Quando vi já não tocava mais mpb, só aquela música que você canta pra mim. Quando vi eu já não tinha fome, eu me alimento das tuas palavras. Quando vi eu já não tinha sede (matando a sede na saliva), quando vi eu não existia sem você. Quando vi você secava minhas lágrimas com beijos. Quando vi eu já estava, completamente entregue, apaixonada. E desde então, não vi mais nada.

Luana Gabriela
14/09/2010

Pra você guardei o amor que nunca soube dar ...(Nando Reis)

Que te dizer? Repetir as palavras de Caio e dizer que você cresceu em mim de um jeito insuspeitado? Que você aos poucos me obrigou a abrir as cortinas, as janelas, as portas, o coração? Que te dizer neste dia especial, que marca desde quando todos os outros dias passaram a ser especiais? Que te dizer além de que "você é tudo que eu pediria se eu me conhecesse o suficiente para saber o que é melhor pra mim", não são bem estas as palavras que uma autora contemporânea escreveu em um de seus best-sellers, mas é isso que tenho pra te dizer. Que adoro seus sorriso, que adoro seus dentes, seu cheiro, seu abraço, e o modo como você não é nem um pouco parecido com o que eu esperava. Dizer que acho estranho e lindo você admirar em mim as coisas que menos gosto em mim? Dizer que medo é uma palavra que não existe quando estou com você? Que de tudo que já disse e tudo que posso vir a dizer o que fica de lição pra mim é você me ensinou o que é o amor. Te dizer que isso que sinto hoje nem de longe é o que já senti por alguém algum dia, que atravessar a porta da minha casa com você a primeira vez foi um dos sentimentos mais lindos, e ter você num domingo qualquer só pra mim é o que faz todo o resto da semana valer a pena. E ter você por todos estes meses, faz com que toda a vida valha a pena. Eu amo você.

Luana Gabriela
13/09/2010

Eu sou

Martha Medeiros me instigou com seu texto Quem sou eu?. Vou responder, por mim. Eu sou mais crônica que poesia, mais a objetividade do Twitter que o fuça-fuça do orkut. Eu sou mais discrição e menos descrição. Eu sou cabelo liso, escuro e curto. Eu sou jeans e all star nos fins de semana e camisa e scarpin de segunda a sexta. Eu sou esmalte vermelho, eu sou aliança no dedo indicador, eu sou parágrafos longos com frases curtas. Eu sou um poema não concluído, uma música com acordes fáceis, mas com ponte que muda de tom e complica. Eu sou alguém que ama apressado e rapidamente desama. Eu sou romances clássicos e crônicas modernas. Eu sou isso que você vê. Eu sou aquilo tudo que você não vê. Eu sou factual. Eu sou meu prato favorito, sou comida agridoce, sou salada com molhos nada ligths, sou fastfood com grelhado. Eu sou um paradoxo. Eu sou café, bolo, chá com gengibre. Eu sou muitas certezas e uma dúvida: minhas certezas estão certas? Eu sou um cd com o melhor do Cazuza, com os clássicos da música brasileira interpretados pelo mais novo cantor de mpb do país. Eu sou o caderno cultural dos jornais, eu sou uma pós incompleta, um mestrado com medo, eu sou uma filha desatenta, uma namorada esquecida, uma irmã calma, uma funcionária quieta. Sou mais inverso, sou banho quente, sou hidrantes, perfumes, vários travesseiros pra dormir. Sou edredon até no verão. Eu sou sono de manhã e disposição à noite. Sou quarto bagunçado. Sou quarto com estante, sala sem sofá, almofadas pelo chão. Sou filmes não muito comerciais, sou shows quase vazios. Eu sou da solidão, não de multidão. Sou memória curta. Sou post it´s e agendas. Sou cadernos, livros, bolsas, blusas e canetas. Sou mais cama que sofá. Sou mais eu que ele. Sou mais razão que emoção, há quem discorde. Eu sou mais tempo nublado. Sou mais perguntas que respostas. Mais poesia que jornalismo. Mais música que dança. Mais teatro que cinema. Sou paredes sem quadros, com adesivos. Eu sou mais a letra J que a letra L, há quem entenda. Eu sou uma amiga com preguiça de ser amiga, uma pessoa egoísta, eu sou um pouco do que não gostaria de ser, e um outro tanto do que eu exatamente gostaria de ser. Eu sou mais sincera do que suportam, menos observadora que deveria, sou mais crítica do que meu conhecimento me embasa. Eu sou assim, um texto todo, sem parágrafos internos. Eu, quando apaixonada, sou mais mpb, quando triste, mais rock n' roll. Eu sou mais violão que contrabaixo (confesso). Eu sou aliás, um monte de confissões não feitas. Sou o amor que declarei cedo demais, sou o amor incondicional que acabou assim que eu descobri que ele não me amava. Eu sou uma ligação não feita, uma carta não escrita, um email lindo na caixa de rascunho. Eu sou uma pessoa incerta, doida e compreensiva. Só não compreendo a mim mesma. Só não suporto a incerteza alheia, só me permito a doidera contida. Eu sou um monte de proibições que inventei: chocolate só de manhã, ligar para ele só uma vez por semana, faltar à aula só uma vez a cada dois meses, dizer que amo nem sempre que eu sentir vontade. Eu sou um monte de regras que não cumpro. Eu sou e isso basta. Eu sou citações de Clarice, Caio Fernando, Martha Medeiros, Machado de Assis, Adélia Prado e Carpinejar. Sou Los Hermanos, Muse, Oasis, Square, Gadu, Luiza Possi, Seu Jorge, o novo cd da Sandy. Eu sou uma entrevista não respondida, uma matéria sem fonte, um vídeo sem edição. Sou os amores que não tive. Sou o amor que tenho. Sou os nãos que já disse, os nãos que já ouvi. Eu sou incompleta na minha completude. Eu sou. Eu me permito ser nada do que meus pais esperavam, melhor que o meu namorado esperava, menos do que meus amigos queriam, melhor do que o mundo merece. Eu me permito ser exatamente como sou. Eu sou uma permissão, uma concessão, uma chance. Eu sou uma tentativa, um sucesso, um fracasso, eu sou um monte de palavras desconexas que para alguns fazem todo sentido. Eu sou e sinto o que sou. O segredo não é só ser é sentir quem se é. Eu me sinto, da mesma forma que sinto o outro. Eu sou concreta, embora abstrata, eu sou confusa embora saiba me explicar, eu sou sozinha quando acompanhada e acompanhada quando só. Eu sou mais reticências que ponto final. Eu sou mais aspas que travessão. Eu sou uma força frágil. Eu sou um doce amargo no final. Eu não canso de falar de mim, eu não canso de me descobrir. Eu sempre tenho algo a mais pra dizer, pra sentir, pra ser. Aqui estou eu em outro texto falando de mim, é que ultimamente eu sou meu assunto favorito. Eu sou.


Luana Gabriela
10/06/2010

Com a palavra Eu

Eu e as palavras. Eu já é uma palavra. Mas eu não é igual a meu nome e a mim. Embora eu toda seja composta de palavras, nem todas são minhas, nem todas. Eu fico pensando em algumas palavras e como eu não as uso. Saudade é uma delas. Eu nunca dizia: Saudade. Eu falava “quanto tempo” e “sinto sua falta”, nunca saudade. Saudade é palavra única, como sabemos. Mas na verdade todas as outras o são. Eu também. Eu é palavra única. Eu sou única também. Quem me dera parecer com alguém a quem admiro, Clarice, Fabrício, Jesus. Estou longe, muito longe de parecer-me ainda que um milímetro de pele, ou um fio de cabelo, ou uma vírgula de uma frase, estou longe de lembrar qualquer um deles. Não são ídolos, são referências. Refiro-me às palavras. As palavras que me vêm às vezes sem querer e às vezes não me vêm propositalmente. Eu fico olhando para alguém, com alguma frase que não sei bem presa à garganta e meus olhos fixos em algo, parece que vai sair e não sai. Às vezes eu ia dizer: Eu te amo. Às vezes eu ia dizer: Não. Às vezes eu ia simplesmente e não vou. E não digo.

Gosto das palavras, mas em geral são meus silêncios que me definem. Porque através do silêncio é que os outros descobrem nas entrelinhas o que penso e o que sinto. E dá certo. Esses dias mesmo numa reunião, eu não abri a boca, a não ser pra rir. Depois me cobraram, disseram que ando muito quieta. Eu expliquei em poucas palavras, se fico quieta é porque não concordo. Questionaram: então você não tem concordado com nada? Me calei e ri. Às vezes o silêncio é nossa melhor resposta, mesmo pra nós que amamos escrever, ou como eu que sonho em viver das palavras, embora já viva delas, mas não como gostaria. (Silêncio... que é mesmo que eu gostaria, com que mesmo eu sonhava quando comecei a me reconhecer como gente?)

Não sei ao certo. Sei que sempre, sempre foi através das palavras que me expressei. Às vezes em prosa, às vezes em poesia, tenho até versos cantados com belas melodias, mas ainda assim eles não são eu. Eu sou esse silêncio. Essa voz que não se ouve. Esse abraço que não se deu. Essa mentira que não se contou. Essa verdade que não se quis ouvir. Eu sou tudo isso que se esconde, atrás de palavras tantas, que se perdem e se encontram e se salvam e sucumbem. Escrever é o mesmo que tomar remédios de farinha e açúcar. É seco, doce e parece que melhora, mas na verdade não melhora nada. A dor continua ali. Eu, eu continuo aqui,  eu.

Luana Gabriela
06/09/2010


Incompetência nas entrelinhas

É uma incompetência minha: nunca consegui usar na mesma frase as palavras amor e dignidade.

Luana Gabriela
06/09/2010

Incompetência nas entrelinhas

É uma incompetência minha: nunca consegui usar na mesma frase as palavras amor e dignidade.

Luana Gabriela
06/09/2010

Perdida e Salva

Cansada daqueles que só amavam o que ela oferecia de bom, e que dela só conheciam as coisas boas. Ela estava cansada. Ele chegou conhecendo também apenas o que ela permitia. Amando-a no entanto, foi descobrindo o que de ruim possuía, por dentro. Ser feio por dentro é pior que ser feio por fora, embora seja mais fácil esconder a feiura interna. Efeito placebo, tentar controlar os sentimentos. Ele é capaz de amá-la em seus piores momentos, quando ela sente as piores coisas e quando não se aguenta e fala o que não deveria falar. Ele a ama, não com a complacência de um pai displicente, mas com a rigidez de quem corrige para o bem. Ele a cuida não com dengos e mimos, embora ela precise disso às vezes e tenha sim suas necessidades saciadas, ele a cuida e a protege dela mesma. Do descontrole dos sentimentos, das ações, do medo, da pressa, do choro sem sentido, da tristeza criada, da felicidade desprotegida e fulgaz. Ele a salva dela mesma. Quem diria, logo ela que achou que seria a salvação dele.

Luana Gabriela
06/09/2010

Do mesmo

Eu queria te escrever. Embora não saiba exatamente o quê. Quem sabe te contar que não tenho comido, mas que o café já acabou. Que não tenho sentido muito aquelas borboletas do início, em compensação tuas palavras ainda ardem em meu peito, minha face. Não houve lágrimas, também não houve sorrisos. Não houve gritos, mas silêncios também machucam.

É que eu sou isso tudo que te disse desde o início, e você não acreditou. Queres que eu seja menos dramática, consequentemente serei menos poética. Te expliquei que poesia e dramaticidade fazem parte de um todo só: eu = sensibilidade. Tanto o humor, que você  aprecia, quanto a poesia que eu aprecio, nascem do exagero, dos excessos.

O amor também, nasce e morre dos excessos. Nasce do excesso da falta. E morre do mesmo mal.

Luana Gabriela
05/08/2010


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