Evaporar


“Nenhuma palavra dói mais do que a ausência de palavras. Você não é tolo e sabe muito bem disso. Você me impunha um silêncio devastador. Sumia, não dava notícias, fazia de propósito, queria me ver chegar perto da morte, paralisada, sem forças. Eu esperava o telefone tocar, ele não tocava. (…) Esperava o apito do meu computador avisando a chegada de um novo e-mail, ele não apitava. Esperava uma carta, um sinal de fumaça, uma mensagem no celular, esperava que você aparecesse e trouxesse consigo alguma palavra. Esperava e esperava e esperava. E você não vinha. Você me deixava a sós com esse silêncio que dói mais do que um grito arranhado, do que um corte profundo na carne, que dói mais do que a palavra dor”.
(A chave da casa, Tatiana Salem Levy)



Chove. Chove como em quase todas as tardes de verão. E eu, seca por dentro. Seca como o Sertão que de tanto esperar, morre lentamente.  A morte mais dolorida, a morte que tem telespectadores à distância, a esperança. Chove. E eu que detesto a praia, fiz dela o meu reduto. Não me ardem os braços e as pernas, vermelhos, mais que os olhos, também vermelhos. Descobri que não há males que o mar não cure e que o concreto das cidades não cutuque novamente. Eu que não gosto do Sol, fui inundada por ele, e levada a agradecer a Deus por tê-lo criado. O mar é um carinho de Deus para corações partidos, doloridos e para os olhos cansados de tanta verdade fria.

Passei tardes inteiras sentada, num bar à beira mar, pedindo latas e latas de refri, espiando o movimento dos bombeiros, descobrindo a dor de amor do garçom. E quem diria, Reginaldo Rossi, que os garçons também sofrem? E que escondem as lágrimas, porque não podem beber em serviço. Eu que tenho a quem me ame, e não quero amá-lo. Eu sozinha como sempre, porque mesmo quando ele estava comigo, me sentia só. Eu que descobri que amor é voz, mais que letra. Eu que descobri que amor não existe fora da gente. Eu que descobri que numa relação amor recíproco não é tudo. Eu que descobri que sinto falta do pouco que tive. Eu que prefriro continuar com nada que ter pouco e me contentar. Que me desculpem todas as minhas teorias sobre o amor ser uma escolha, o mar não é uma escolha, o Sol não é. Tudo que é infinito e criado por Deus, simplesmente é e não depende de mim para existir.

Amor, exista! É uma ordem, uma dor imperativa. Exista, que eu não mergulharei em ti, como não mergulho no mar. Exista, que o experimentarei somente no raso, molharei meus pés. Exista que me protegerei de ti como do Sol, até no inverno. Exista. Assim como Deus a quem eu não vejo, às vezes não sinto, mas sei empiricamente está comigo. O vento que vem do mar seca a chuva que o céu derrama. Evaporar.


Luana Gabriela 
26/01/2011
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