- sobre estar só, eu sei -

Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambigüidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos. Lya Luft

- i miss you -

Já sentiu falta de algo que nunca teve? (...) Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações. Talvez apenas alguns goles (...). Clarice Lispector

- ele venceu pelo cansaço-

"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer". Clarice Lispector
Tudo o que eu queria ouvir: - Você não está sozinha! Eu estou aqui! Um dia. Dia de tristezas, de separações, de brigas, frustrações. Dia de ser a força pra alguém, consolar quem chora e estar morrendo por dentro. Dia de parecer forte. Dia de parecer feliz. Dia pra se querer esquecer. Se pudesse no próximo ano eu pularia o mês de maio, não há uma lembrança boa. Este não parece querer ser diferente dos últimos anos. Dia de sonhar e acordar pra realidade. Dia de desistir do amor, porque ele não me trouxe nada de bom. Dia de cansar de esperar. Um telefonema, uma palavra carinhosa, uma companhia especial. Dia triste. Dia igualzinho ao ontem. Que vai se repetir amanhã. Hoje foi só mais um dia. Em que não puder viver o que quis, que não puder segurar as lágrimas, dia de andar no parque pra esquecer os problemas, dia de lembrar de tudo. É só mais uma dor. É só mais uma perda. É só mais uma amor não vivido. É só a vida, minha querida. L.G.

- outra pessoa não servirá -

Pensando bem, eu gosto mesmo de você
Pensando bem, quero dizer
Que amo ter te conhecido
Nada melhor que eu deixar você saber
Pois é tão triste esconder
Um sentimento tão bonito
;)

- Bon jour -

Bom dia, Olha as flores que eu trouxe pra você, amor São pra comemorar aquele dia Que passei a viver do teu lado Eu me lembro, entre nós não havia quase nada E agora é só você que me faz cantar É só você que me faz cantar Havia Mil motivos pra eu não estar naquele show Mas o nosso destino foi escrito sob o som de uma banda qualquer Eu me lembro, em novembro E agora é só você que me faz cantar Los Hermanos - Bom dia!

- enquanto ainda existir a dúvida, a minha incerteza, e o seu medo. -

Não recrimino
a loucura de esperar
uma ligação
e culpar os que
ligam pelo
simples
fato de não
serem ele
e ainda ocupar
a linha.

- pouco sei de tudo isso -

Deixa tudo que eu não disse, mas você sabia Deixa o que você calou e eu tanto precisava Deixa o que era inexistente, mas eu pensei que havia (Oswaldo Montenegro) Me deixaste morrendo de culpa, sentindo necessidade de pedir perdão e dizer-te: não foi minha intenção. ele é importante também, mas não mais que você. Passo o dia pensando nisso e em como te fazer entender. Quando será que conseguiremos falar sobre isso de novo? Porque nunca mais falamos de amor? Porque eu ainda insisto em te esperar, se já percebi que pra você não há nada? Parece que pra ti foi tudo brincadeira. Passo o dia a rever nossos encontros, a imaginar como te surpreender e o que você espera de mim, eu não tenho como saber. Estou cansando, nenhum bem querer suporta tanta indecisão, tanta ausência, tanto "tanto faz". E eu só queria repetir aquele momento, poucos segundo que eu esperei por dias inteiros. Eu só queria falar da gente! Eu só queria que a gente se entendesse, seja lá o que isso signifique! Eu não queria desistir. "Sei que desistir é ainda aguardar, que ( afastar-se) não é abandonar quem amamos."

- preciso de você aqui -

"E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando o verdadeiro amor. " Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas. Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para falar, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão. No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um caminho. Esse, simples, mas proibido agora: o de tocar no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós. Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios - que importa? (Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio - viria? virá? - e minto não, já não preciso.) Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor...Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço. Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã. C.F.A.

- o amor não existe -

Está esquecendo toda a generosidade que envolve o amor. A doação. O esvaziamento dos preconceitos intelectuais. A necessidade de mudar os costumes ou enobrecê-los. A partir dele, saímos dos próprios condicionamentos. Caso não goste de jazz, ela poderá ensinar o quanto é bom. Caso ela não goste de futebol, de repente estará torcendo como se fizesse parte da torcida organizada. Exato: só nos aceitamos quando o outro nos ensina o que somos. Nossa complacência, nossa tolerância não permite a transparência. Nos perdoamos porque estamos acostumados a fazer sempre igual. Como o amor, o igual é diferente. O igual é observado com atenção e minúcia. O igual é assistido. O amor é tão cheio de sentido e fúria, que parece sem sentido quando queremos defini-lo. F.C.
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