O coração dentro do peito





São quase meia-noite. E lembrar de você me fez entender a superfície emocional que eu tenho vivido desde o meu primeiro namorado. Eu sou blasé. O sentimento é profundo, a vontade grande, mas fica tudo entre a boca e o estômago. Eu engoli muito mais do que falei. 

Eu quis aceitar aquele colo, aquele beijo, aquele anel. Eu quis ver todos os dias, viajar juntos na primeira semana, eu quis atender cada telefonema. Eu quis dizer 'eu te amo' no primeiro mês. Mas meu discurso sempre tão racional não pode contradizer os meus atos. Não dá pra nos vermos todo dia, tem trabalho, faculdade, amigos, família. Não dá pra dizer que amo assim, em tão pouco tempo. Não dá pra dizer sim, sem ter um plano pra concretizar. 

Era como se eu não fosse eu a partir do início da relação. Eu viro alguém que poda as próprias vontades, seus desejos, alguém calculista: ligar uma vez por dia, sms só duas, mais que isso vira dependência. Se ver? Só um dia no fim de semana. Como eu consigo ser tão fria? 

Só que analisando não as relações, mais aqueles com quem namorei, acho mesmo que o problema não sou eu. Nunca me senti segura, nunca me senti nós. Me lembro de ter dito várias vezes pra um deles: eu me sinto solteira. E ele argumentar: Mas não está. O que eu sentia não importava, importava o status nas redes sociais. 

Não é à toa que não preciso esconder que estou com alguém, é que na verdade parece mesmo que não estou. Os olhos não brilham, as mãos balançam ao lado do corpo. Os dedos vazios de outros dedos. O coração dentro do peito e não na boca.   
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