Trocando em miúdos


E senti vontade de pegar o violão, pela primeira vez desde que você partiu. Já era tarde da noite, eu dedilhando qualquer coisa, meio sem sentido, exatamente como andava minha vida. Sem rumo, sem ritmo, eu travava na troca de um acorde para outro, eu travava na hora de sorrir, eu havia esquecido. Sorrir é como tocar violão, a gente sabe, mas depois de um tempo sem fazer a gente trava até pegar o jeito novamente.

Aos poucos as músicas saíram, assim como os sorrisos. A primeira soou como um desabafo, “I use to loved her, but i have to kill her”, em algumas horas fui de Gun´s a John Mayer. Fui do ódio ao melancólico amor. Não o amor que ainda existe, o amor que já existiu e foi embora tão completamente a ponto de não trazer cheiros, desejos, gostos. Você sabe que um amor já foi embora quando consegue fechar os olhos e não lembrar do beijo. Fechei os olhos. E nada. Sua lembrança era tão vaga quanto a lembrança da fórmula de báskara. E eu nunca fui bom em matemática.

Você diria agressivamente, mesmo quando estávamos bem, que eu na verdade não sou bom em nada. Talvez, o amor não tenha ido embora quando você ainda sabe o que o outro diria. Afasto esse pensamento, não toco nenhuma daquelas músicas que eram nossas, não me permito. O que me incomoda no fim das relações são as músicas que não poderão mais tocar. Depois de você como ouvir, Please don´t stop the rain? Depois de nós dois, como cantarolar, de olhos fechados e com sorriso cúmplice, o refrão “I've found out a reason for me, to change who I used to be, a reason to start over new, and the reason is you”?

Depois de você eu só desejo um amor menos estrangeiro. Um amor pronunciado no mesmo idioma, um amor sem tradução. Um amor que saiba o que é saudade. Um amor que se deixe levar no dedilhado de alguma canção da bossa nova, embalado pelo timbre doce de Caetano, Vinicius, Jobim, Toquinho. Ela amarrando os cabelos, deixando a nuca à mostra, resmungando, para não sobrepor o som que vem do quarto “O meu amor tem um jeito manso que é só seu, que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos...”.  Depois de você, só quero um amor digno das canções de Chico Buarque. 


Luana Gabriela
Abril 2011

Vai por mim

Para ler ao som de Use Somebody (sugestão minha)


Texto de Gabito Nunes

Não, não fica bem aparecer por lá agora, ainda. Faz só uma semana.  Ele vai estar naquela fase em que o canto dos pássaros na janela não lembra música, só ruídos verde-escuros. Ele está bem, evidente que está. Tem trinta e dois dentes, barba, um amigo que outro, discos do Nirvana, quem não estaria? Não, não, chorando já é pedir demais. Outra? Duvido muito. Os primeiros dias, vinte ou dez, a gente se dá conta de que não tem mais ninguém pra se arrumar, perfumar, ficar pronto. Ele deve estar com aquela calça cinza de algodão, caminhando de meias pela casa, apoiando a testa no vidro da janela, de vez em quando. Tomando coragem de olhar pra rua e o que vem por aí, depois de você.

Não, não telefona. Me espera chegar. Do mesmo, de nada vai adiantar. Ele está justamente esperando por isso, testando as possibilidades, do fixo pro móvel, e vice-versa, pra checar mesmo se ambos estão cumprindo seu papel. E tá tudo em cima, funcionando, não vá estragar todo o processo de cura, os primeiros dias são elementares. Telefonar de bobeira pra ficar em silêncio do outro lado do mundo, enquanto ele espera que você diga "estou-arrependida-posso-voltar?". Pra quê? Ele até já ensaiou o timbre pra dizer, como vai desdenhar um pouco de início, depois apresentar seu disfarce em condições infantis, aquele jeito frágil querendo parecer forte só pra mostrar que pode te proteger num anoitecer de segunda-feira.

Você não terminou porque precisava de mais atenção? Então, criatura. Agora é o que ele mais precisa, depois de ouvir "não-dá-mais-vamos-terminar-isso-antes-que-alguém-se-machuque-mais". A não ser que você queira parecer louca, aí guardo suas costas, vá em frente. Se ele for realmente o Grande Amor da Sua Vida? Não é, vai por mim, a gente sempre sabe. Não pense maluquices. Ainda é cedo. O tempo pra surgir um novo amor leva uma eternidade, não se engane. Agora serão apenas uns casinhos sem importância, ele vai cultivar dois ou três, todos com a cor de cabelos, a voz e o cheiro bem diferentes dos seus. E mesmo que alguém apareça, o alarme dele não vai soar.

Não, você não é insubstituível. Mas também, o que você queria? Uma espécie de hipoteca amorosa? Um estepe sentimental? Não é assim. Ele é bacana, vai encontrar outrem um dia, vai conquistá-la com o mesmo mel que grudou você, ninguém perde a manha. Um pouco de ciúme é natural, poxa vida, você é gente, isso é parte integrante. E, fatalmente, vão se cruzar por aí. São tantas as esquinas. Vocês vão beber um café quente juntos, falar amenidades, sobre novos cortes de cabelo, você está bonita, e você mais maduro, como está sua mãe e tudo mais. Nos momentos de silêncio, baixarão o queixo, com medo de amarrar olhares e, talvez, voltar tudo aquilo outra vez. Mas vai ser só isso. Se existem outros caras legais por aí? Claro que sim. Vai por mim. 
 
Originalmente publicado em www.carascomoeu.com.br 
Grifos MEUS!

Eu ando com dificuldades de achar textos que me toquem, que mexam comigo, que me digam algo que eu não consigome dizer. E este é um deles!! FODA e eu não costumo dizer essa palavra, já disse AMO muito mais vezes!

Isso que descuidadamente chamamos de "minha vida"

Dois ou três almoços, uns silêncios.
Fragmentos disso que chamamos de "minha vida"




Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso - aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

(Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", 22/04/1986)


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Dois ou três almoços e alguém que parecia suuuper interessante prde a graça completamente, mas ainda é uma bela lembrança de uma possibilidade de amor. Que naquele momento era só o que eu estava disposta a aceitar e preparada para receber. A possibilidade, não a concretude de um sentimento. Eu quase paro de sentir fome. 

Luana Gabriela 

O óbvio utópico


Tenho pensando muito em você nestes últimos dias. Não com nostalgia, não com rancor, tão pouco saudade e amor. É que não há como negar o fato de tudo ter sido tão intenso e rápido, inclusive o fim. Nestes meses que se passaram eu fiz questão de esquecer tudo, mas agora enquanto busco uma xícara de café na cozinha, enquanto procuro um livro na estante, enquanto pinto as unhas, alguns flashs de nós dois me vêm à mente. De quando você me levou a sua casa pela primeira vez, de quando me mostrou onde ficam seus tesouros, de quando não havia medo, segredos, entre nós dois. Havia uma certeza de que eu não te magoaria e nem você o faria comigo.

Eu fico pensando em como tudo aconteceu. Se eu soubesse que era nosso último beijo, eu o teria guardado pra sempre. E não me lembro dele. Eu só lembro de caminhar contigo pela rua e dizer: pode ser a última vez que estamos nesse lugar, juntos. E foi. Há quase um ano, mas parece outra vida. Talvez eu não tenha culpa nenhuma, mas se te fiz sofrer, perdoa. Porque eu não queria ser alguém que aumenta sua dor, que coloca mais tijolos em sua barreira de proteção contra os perigos exteriores. Nossos perigos mais danosos estão dentro da gente. O veneno da mágoa, o veneno do medo de sofrer de novo. Eu não soube te amar de uma maneira ligth. Eu sou intensa. E eu achava mesmo que te amava, que tinha te escolhido, eu queria te cuidar, curar suas feridas interiores, quem sabe a gente pudesse curar juntos. A gente ria, a gente decorava cada cheiro, cada riso, cada centímetro dos nossos rostos, e hoje eu já não me lembro mais. Não houve uma foto nossa. Não houve uma música que marcasse. Não houve nada. Além dessa tentativa patética de misturar razão e emoção. Eu fui cedendo em meus princípios porque achava que você valia a pena. E hoje me encontro sem princípios definidos, muita culpa, e sem você.

Eu não sei como está agora. Tenho medo de te encontrar em algum shopping, algum, cinema, eu tenho medo, mas às vezes eu queria tanto isso. Para ver que reação meu coração vai ter. Que sentimento me trás, você de novo sob meu olhar. Eu não te quero pra mim. Eu nem mesmo sei porque estou pensando e escrevendo sobre tudo isso agora. Você nunca me leu. Em nenhuma das formas possíveis. Eu só queria te cuidar e descuidei de mim. Eu só queria te fazer feliz, me entristeci. Eu só queria te provar que você não era tão ruim, e você me fez crer que eu era muito pior que você. 

Luana Gabriela
Abril 2011

Mais uma lição

Acabei de assistir a um episódio de Friends que REALMENTE  me incomodou, no sentido de eu ver algo que está acontecendo/aconteceu comigo. 

Segue diálogo entre Phoebe e Mike.

Ele - Mas,você quer se casar?
Ela - Um dia. ... Eu nunca tive uma vida normal. E eu nunca achei que estava perdendo algo, mas agora é minha vez de ter um pouco de normalidade.
(...)
Ele -Vamso morar juntos. Você pode mudar de ideia.
Ela - Você pode mudar a sua?
Ele -Não
Ela -Nem eu. Eu preciso estar com alguém que queira o mesmo que eu. 
Ele -Mas eu não quero que acabe.
Ela -Nem eu.

FIM

Phoebe vai morar junto com Mike, mas ele deixa claro que não quer se casar, NUNCA. Ela, após conversar com Ross, vê as coisas de maneira mais clara e diz, mais ou menos com essas palavras: Nunca tive uma vida normal, mas é minha vez de ter uma vida normal. E esta sou eu. Realmente normalidade não é uma coisa comum na minha vida, por vários motivos que não cabe dizer aqui, e que não necessariamente são ruins! =D

Tem amigos que me dizem que não combina comigo mesmo essa história de casar, ter filhos, e essa vida tradicional. Que caras normais não comnbinam comigo. Tudo em mim é transgressor, vai contra o que se espera das pessoas em geral, eu sou tão diferente que já sou meio previsível , as pessoas esperam que eu vá pensar diferente, agir diferente, apesar de saer frequente isso ainda não é visto com normalidade por quem convive comigo.  

Eu não quero nada disso agora, mas estar (ou querer estar) com alguém que não quer isso NUNCA, nem casar, nem ter filhos, na minha visão é perder tempo. Não posso esperar que ele mude de ideia um dia, porque eu vou mudar de ideia. Eu vou querer filhos, casa, família reunida no Natal e na Páscoa. Eu vou querer entrar na igreja, (tem uma aqui com as paredes pretas, LINDA pra um casamento rock'n roll, como eu já estou planejando), eu quero um vestido de noiva, uma casa, com móveis retrôs, eu quero filhos. Mas pra ter tudo isso eu PRECISO ESTAR COM ALGUÉM QUE QUEIRA A MESMA COISA QUE EU!

E aí entra mais um ponto importante para o sucesso de uma relação. Não basta amar, respeitar, e cuidar ,é  preciso sonhar junto, planejar junto, caminhar na mesma direção. 

O problema é o cachorro

Ele: vamos morar junto? 
Eu: vamos. Mas aqui. 
Ele: não, aqui! 
Eu: Aí é muito longe. 
Ele: Longe de onde? 
Eu: Daqui! hauahuahuahauhuahuaha
Ele: mas tem de ser como namorados, ou casados. 
Eu: aí não dá. 
Ele: vai ser bom vou ter mais tempo pra estudar. 
Eu: Você vai me ajudar a limpar. E teríamos de comprar geladeira, fogão e micro-ondas.
Ele: Aham eu ajudo. E a gente compra tudo.Ah, Vou levar meu cachorro. 
Eu: Nem pensar. Não quero limpar coisas de cachorro e muito menos pelo nas minhas roupas. 
E fim, nada de morarmos juntos.

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Eu quero morar sozinha. É isso que meus amigos não entendem. Ele não foi o primeiro a sugerir isso, outro amigo ja fez isso também. Eu deveria dizer que morei uns meses com meu primo e que ele se decepcinou muito porque achou que eu ia lavar, cozinhar e limpar a casa pra ele. A gente só comia pizza e cachorro-quente e era ele quem lavava a louça. Morar junto com homem, só com um bem específico que eu tenho na minha cabeça, e não é meu pai, embora ele cozinhe e lave a louça, o problema é que ele tem cachorro! =D


Um trecho de um texto novo do Carpinejar que conseguiu me emocionar: 

Ai, como dói quem espera amar. Quem dedica uma vida à disciplina da paciência, torcendo para o sexo melhorar o casamento, torcendo para o casamento melhorar o sexo, torcendo para que o marido não fique bêbado ao menos uma vez, torcendo para que a esposa não reclame ao menos uma vez, dormindo e esquecendo a tristeza, acordando e repondo a esperança, aqueles que resistem e talvez envelheçam sem completar seus sonhos, que respeitam as pequenas alegrias porque podem ser as únicas, que não decidiram se diminuem a expectativa para sair da solidão ou aumentam as exigências para justificá-la. (ESSA SOU EU!)
 
 

Nunca o amor


"Olha, senta aqui, não tá dando mais, acho que vou seguir um caminho diferente e mais fácil, não fala nada não, eu já me decidi." Gabito Nunes

Foi assim. Na verdade eu nem precisei sentar, estava deitada, numa quase madrugada e só ia te desejar boa noite, foi então que você escreveu em poucos caracteres que não dava mais: Vamos terminar logo. Que não era assim que você queria, que tudo agora está tão difícil pra você e pra mim, eu concordo.  Você termina, eu não discordo. Um fim assim silencioso, rápido, mas nem por isso indolor. Aquela noite foi escura em mim como nenhuma outra havia sido. Dormi pouco, mas acordei entendo que era assim que tinha de ser. Que nem tudo que é bom dura pra sempre, mas que por costume podemos deixar o mal perdurar: comodismo, que nada tem haver com amor.

Eu que já não sentia mais vontade de te ver, eu que já não te atendia, não te ligava e não te escrevia, eu que já não te contava nada sobre meus dias, continuei num silêncio absoluto, por meses até tentar falar com você pra gente quem sabe se entender.  Em resposta aos meus chamados, teu silêncio. Nem toda relação acaba em briga, muitas terminam em silêncio. Primeiro no meu, depois no seu. Não me arrependo, nem do meu silêncio inicial nem da minha tentativa final. Embora eu até hoje não saiba mesmo o porque te queria de volta, se há alguém, porque sempre há alguém, disposto a me dar o que você nunca quis: atenção.

Eu escolhi te amar, te dar uma chance, nos dar uma chance que você jogou fora. E eu, infantilmente, ignoro minha culpa e deixo de aprender com meus erros. Eu não quero aprender, eu quero um relacionamento maduro e isso só é possível com um homem maduro. Difícil quando eu não acho maturidade nem no meu pai. Eu vou levando, empurrando encontros pra outros dias, ignorando e-mails, mensagens e não atendendo telefonemas. Porque acho difícil. Porque aprendi a ceder, e vi que não valeu a pena. Porque reapreendi a dizer que amo, mas não acho que aquilo era amor. Porque acreditei num sorriso que se fechou em poucos meses, porque me senti protegida por mãos que digitaram palavras duras, porque eu esqueci da sua voz, que era o som mais bonito que eu tinha na memória.

Se eu me privo de coisas boas por isso? Claro que sim! Mas de real nessas relações, só as dores; de duradouras; só as mágoas, de eternas; as cicatrizes. Nunca o amor.

O homem, Deus e o silêncio

“Havia certa vez um homem que dizia nome de Deus. Quando o coração lhe doía por uma criança que chorava, ou um pobre que mendigava, ele andava até a floresta, acendia o fogo, entoava canções e dizia as palavras. E Deus o ouvia… O tempo passou. Voltou à mesma floresta. Mas não carregava fogo nas mãos. Só lhe restou cantar as canções e dizer as palavras. E Deus o atendeu ainda assim…
Um tempo mais longo se foi. Sem fogo nas mãos, sem força nas pernas, não alcançou a floresta. Mas do seu quarto saíram as mesmas canções e as mesmas palavras. E Deus lhe disse que sim…
Chegou a velhice. Nem floresta nem fogo ou canções. Restaram as palavra. E o mesmo milagre ocorreu…
Por fim, sem fogo ou floresta, sem canções ou palavras. Só mesmo o infinito desejo e o silêncio: e Deus atendeu…”

Texto integral de “Quando o silencio cobre o Homem” do escritor, teólogo e filósofo Rubem Alves

You 2

Ainda lembro da primeira vez que te vi. Seu cabelo preso, longo, nem loiro nem escuro, seu sorriso de bom dia, sua camisa desbotada do U2. Eu poderia reviver aquele momento pra sempre, e a sensação seria inédita. Cada detalhe seu me prende dias e dias. Nas horas que se seguiram eu não consegui pensar em mais nada além dos teus olhos, da tua voz, de tudo que eu não sei quanto tempo demoraria para ter de novo. Demorou, e eu guardei tudo que eu poderia saber de você naquele instante, por todos os instantes seguintes, até te conhecer e me afundar nos teus detalhes.

No seu cabelo solto, nas suas costeletas, nas suas rugas no canto dos olhos, que você detesta, e eu amo. Aquela fase da gente descobrir coisas sobre quem nos interessa não acaba nunca com você. Quando você me fala sobre seus momentos depressivos, é como se você me dissesse que sente muito, tudo, como eu sinto. E eu fico imaginando nosso futuro. Nossa casa com dois cabeludinhos, lendo. Nossa grande biblioteca, a gente dançando "see the stones set in your eyes", eu fico imaginando que estes momentos não deixem nunca de acontecer.

Mesmo nos dias em que a gente vai se ver em casa ou sair, eu fico te seguindo com os olhos pelos corredores do trabalho, não pra te controlar. Mas porque eu quero ver você, eu quero meu coração acelerando quando te observo de longe, quero minhas faces corando quando você percebe, e a gente precisa fingir que não é nada, além de um "Oi" casual ,  só colegas de profissão. Eu fico te querendo na minha sala, pra falar sobre livros, músicas e pessoas. Pra discutirmos o amor, o sexo e a independência na sociedade atual. Porque em casa eu só quero aproveitar teu colo, tua companhia silenciosa, brincar com teu cabelo. Levar a sério teus pedidos, te fazer mudar de ideia sobre o destino.

Mesmo sabendo que vou te encontrar em casa em alguns horas, quando você vai e eu fico, sobra um aperto no peito, quando você vai e eu não posso te abraçar, te beijar e dizer até logo, fica tudo como se você não fosse ninguém. Mas você é alguém, como eu, meu, pra mim. Quando você anda sozinho pela rua eu só quero que todo mundo saiba, que você não está só. Que você encontrou alguém que te quer tanto, tanto, que me sufoca esse querer. Que eu quase não consigo dizer. Eu estou em lágrimas agora, de sentir tão intenso isso, que não quero nomear. Meses se passaram daquela primeira vez, e eu ainda sinto aquela mesma sensação, ao te ver me esperando na porta da sua casa, no portão do meu condomínio, na fila do cinema, na mesa da cozinha. Quando eu olho pra você só consigo sentir coisas impronunciáveis, incomunicáveis em palavras, eu poderia continuar escrevendo páginas e páginas, e não acharia a palavra certa pra dizer que sensação é essa.

É você me consumindo, seu cheiro na minha pele, seu olhar refeletindo o meu, é seu braço em minha cintura, é seu cabelo em meu colo, é sua voz declamando "It's not if I believe in love but if love believes in me", é você em mim desde o primeiro dia.

Luana Gabriela
14/04/2011

Esquizofrenia

Eu sinto qualquer coisa parecida com culpa, pesar, dor. Ainda que as lágrimas não caiam, eu não grite, não teste minha resistência etílica e estomacal. Um vazio cheio. É que meu mal é pensar. E eu andei pensando. Se houvesse qualquer conselho a dar para os outros com relação a mim seria: Me faça sentir, tanto e tanto que não me sobre espaço para pensar. Pensar me estraga. Essa minha racionalidade me impede e muito de me entregar, acreditar, esperar qualquer coisa de homem algum. E falo da espécie não do gênero.


É que ainda sinto seu perfume na fronha - palavra estranha, que a gente já brincou tanto - ainda tenho sua letra no espelho do banheiro. Você foi com data marcada para voltar. E eu quero partir antes que você volte. Aquele meu medo de novo. Aquela coisa de achar que você não é pra vida inteira, que nós não somos pra vida inteira, e que a vida inteira talvez seja muito para ficar com alguém, e ficar só também. A vida inteira é muito. Pra esse pouco que eu tenho em mim agora. Me tornei tão cheia de mim mesma, e da minha solidão agradável que fico desconfortável ao te ceder espaço na pia, no armário, na minha vida. E ainda assim fiz planos pra nós dois sabendo que não era o que queríamos agora, mas quem sabe daqui a uns cinco anos? Mas se você não mudar, se continuar como é agora, e se eu mudar e inverter de jeito, gosto, sonhos e desejos? E eu mudo, cada dia um tanto como qualquer criança que cresce um pouquinho por dia, durante à noite. Eu cresço por dentro e vai cabendo um pouco mais de você, e se eu crescer tanto que caberá você e mais um? E se você não quiser esse mais um, vai ficar sobrando espaço em mim. Como quando a gente emagrece e as roupas ficam largas. Ajusta-se coração? Ajusta-se uma vida toda voltada para si mesmo, que cresceu e quis se dividir e não se pode multiplicar?

Como vou ajustar minha vida quando for hora de você partir e não voltar? Como me ajustar em outros braços que não os seus? Como me ver refletida em outros olhos que não os seus? Como contar rugas que não as suas? Como admirar seu rosto tão lindo, limpo, que de tanto chorar agora só sorri? Como ajustar meu coração antes tão pequeno, a um amor menor que o seu? Eu só queria você aqui pra me fazer sentir teu cheiro, teu toque, teu olhar em mim, e me fazer esquecer tudo que não tenho como controlar. Vai ver tudo isso é medo de te querer cada vez mais. De me perder, de te aceitar. De aceitar essa coisa clichê da qual eu sempre duvidei, um amor pra chamar de meu. Porque a inocência que eu perdi, achei no teu sorriso.


"E eu termino mais um dia procurando o que perdi
Procurando a liberdade que essa algema me tirou
Procuro, vou pra longe, tento me afastar
Mas o tempo me acompanha, sarcástico sorriso
É estranho, mas a ausência é sempre tão presente,
As palavras não se encaixam, Mas parecem coerentes"
Esquizofrenia - Square

Dá mais certo SEMPRE

"Aprendi também a não contar muito com os outros: na medida do possível, faço tudo só. Dá mais certo." (Caio Fernando Abreu)
 
 
Quando leio Caio F, sempre penso: taí alguém que me entenderia.
 
 

Meu coração vai se entregar à tempestade (Marcelo Camelo)

"... Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência – que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar ... Quando choro e lhe conto coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. ...  Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar..."
O movimento romântico" - Alain de Botton


Eu não consigo mais esconder, sequer tenho certeza de que um dia só, por alguns segundos eu consegui esconder de ti como sou, quem sou. Esse poço de dor, medo, esses amores tanto sufocados, esses gritos que nunca dei. Você chega à noite, depois de dar sua aula, me encontra no sofá com algum livro na mão, me beija apressadamente, e enquanto você vai tomar banho, relaxar eu preparo algo pra gente comer, um vinho tinto pra tomar, e eu espero que você saia, que me abrace ainda molhado, só pra me irritar.

Eu espero tanto de ti e mesmo assim é tão pouco. Eu espero aquele sorriso discreto, aquele olhar discreto, a voz alegre, o rosto apoiado na mesa, me vendo passar. Eu espero de ti, tudo que já tive e nada mais. Não precisa aparacer com flores, recitar poemas, nem precisa perguntar como foi meu dia. Eu só preciso que você exista pra eu me apaixonar por você de novo e mais um pouco a cada dia. Eu só preciso saber que mesmo quando não estamos juntos, aquela música faz com que lembre de mim, aquele verso que você explica aos seus alunos te faz lembrar de mim, eu só preciso saber que você se lembra de mim, pra eu nunca esquecer que sou sua.

Porque a cada dia estou me revelando mais, e você me abraça em crises de choro e você me beija como a maneira mais eficiente de me fazer calar a boca quando eu desesperada começo a falar coisas sem sentido pra você, e você me toma nos teus braços, alisa meus cabelos, segura minhas mãos e me pede calma. E nessa posição sinto melhor seu cheiro, um aroma calmante natural, que amolece meu corpo, e aí eu deito e em silêncio você seca minhas lágrimas. Eu sou assim, não foge, eu quase chego a sussurrar.

Me segura firme em tua vida, me acomoda em teu peito, eu sou essa coisa cheia de medo, angústias, perguntas, dores, mágoas. Mas eu também sou cheia de amor, paciência, me ajuda a ser mais como você, tão seguro, tão experiente, tão calmo, paciente e mesmo assim cheio de amor. Cuida de mim, como sua possibilidade de abrigo, me abriga quando tudo em mim é tempestade. E eu não me escondo mais, eu transbordo de mim. Me deixa desaguar em ti.

Luana Gabriela
06/04/2011

"Pra nós, todo o amor do mundo
Pra eles, o outro lado
Eu digo mal me quer
Ninguém escapa o peso de viver assim
Ser assim, eu não
Prefiro assim com você
Juntinho, sem caber de imaginar
Até o fim raiar"

Morena- Los Hermanos

Simples

Sabe quando você acha até as rugas que ele tem no canto do olho, lindas? 
então...

(suspiro)
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