Meu doce

Não estranhe, estou na portaria contando com a simpatia do Zé, seu porteiro. É sábado, passa das 3 da madrugada, subo as escadas, fico feliz por não estar de salto, meus passos são silenciosos, eu quero que você me atenda, de camiseta desbotada e meias, talvez só uma.

Toco a campainha, me atenda, por favor. Não esteja no banho, me atenda. A porta abre, você com aquela camiseta rasgada do Foo Fighters, descalço, te abraço como uma criança buscando um lugar onde se esconder. Você me acalma, eu digo, e essa é a minha maior declaração de amor.

Me envolve num cheiro só seu, me oferece o sofá e um café. Você sabe o que eu preciso, eu não é necessário pedir. Me olha sabendo que ali na sua frente estou mais nua que em qualquer outra situação. Frágil como uma criança no primeiro dia de aula. Eu quero você, como quem quer mostrar ao Coelhinho da Páscoa e ao Papai Noel que se comportou o ano inteiro para ganhar um bom presente e muitos chocolates. Você é meu doce, e hoje é Páscoa.

Te peço desculpa pelo horário, pelo jeito, por não ter deixado o Zé avisar. A chaleira apita, o cheiro de café invade seu apartamento de solteiro e estou quase te pedindo pra ficar, pra sempre. Você é meu refúgio, meu lugar seguro, meu lar. Me deixa ficar, decorar teu interior, eu quero ser tua mobília mais bonita e sempre estar aqui quando você chegar. Penso e não falo nada. Te assisto trazer o café da cozinha, com chocolate no pires, eu adoro café mas seu gosto e seu cheiro são ainda mais relaxantes, viciantes. Eu não resisto a você de bandeja na mão, com jeito de quem quer cuidar de mim. Te deixo e me largo em teus braços.

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