Lembra?


You used to love me

Esparramada

Eu gosto de você espalhada pela casa. Deixando o tênis jogado na porta do banheiro, o livro no braço do sofá, o rímel em cima da cama e um recado na geladeira: "Bom dia, meu amor. Que o dia seja lindo como você dizendo que sou sua". Eu gosto de você espalhando seu cheiro pela casa, espalhando cabelos pelo chão, saliva pelo ar, seu amor pela minha vida.

Eu gosto do seu jeito despojado, de dormir de moletom velho, passar o domingo de camiseta desbotada, do palavrão que você solta durante o jogo de vídeo game, do jeito com que você diz que pra mim não precisa pedir desculpas pelo palavreado, que eu tenho que aturar. Não, eu não tenho, eu aturo porque gosto. Eu gosto desse jeito que você se permite ser comigo.

Eu gosto de você espalhada pela minha vida. Com declaração de amor nos meu livros de ficção científica, com o café às dez da noite, com a preguiça de passar as calças jeans. Eu gosto do seu jeito já tão impregnado em mim, nos meus pequenos hábitos. Na marca da pasta de dente que troquei desde que sorrateiramente você se mudou pro meu ap. Eu gosto da sua vaidade espalhada no banheiro, com cremes, três marcas de shampoo, sabonete exfoliante, e tudo o mais que você acha que precisa pra ficar bonita.

Eu gosto do seu lado rude de dizer sempre a verdade, ainda que doa e que seja em você. Eu gosto dessa força que você mostra, dessa independência que você acredita ter e que faz todo mundo - menos eu - acreditar também. Eu gosto que você goste de futebol, Fórmula 1, humor inteligente, política, e tantos outros assuntos.

Eu gosto de você quando chora porque não tem a bolacha que você queria, porque o trabalho acumula sobre sua mesa e o que você queria mesmo era me fazer de travesseiro e poder descansar. Eu gosto de você frágil, expondo seu medo de dormir sozinha e de me perder, mesmo sabendo que são só três dias de viagem e que eu volto logo. Eu gosto de você dependente dessa vida que a gente constrói cada dia um pouco, essa vida de, quem diria, um casal adulto que tem tudo pra ser feliz. Eu gosto de você porque nega essa convenção, mas deseja isso sem dizer.

Gosto de ficar olhando você escrever coisas que às vezes nem sei o quê, gosto de você tentando tirar uma nova música, de você pedindo pra eu parar um pouco de trabalhar e olhar pra você, com a minha camiseta do Strokes e o violão, cantando alguma coisa como aquela do Aerosmith. Gosto como você enrola no inglês, se atrapalha na troca dos acordes, e termina dizendo: então é mais ou menos isso. Gosto de você, mesmo que eu me atrapalhe pra dizer, pra mostrar e até pra sentir. Então, é mais ou menos isso. Gosto de você espalhada na minha vida.

Luana Gabriela da Silva
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