Nunca esse amor


Nunca acreditei que a gente só amasse uma pessoa de verdade pela vida inteira. Mas meus pais me fizeram ver que eu estava errada. Aprendi isso com a separação deles. Brigas, ofensas, anos de tristezas e mágoas. E ainda quando falam um do outro, aquele riso, aquele olho marejado e aquela sensação de que poderia ter sido pra sempre, não fosse a vida uma sucessão de fins e recomeços.  Erros, perdão e desistências.

E é por isso que eu posso te dizer apesar desse medo, dessa dor, dessa incerteza, dessas dúvidas que nos surgem quando a passagem está fora do nosso orçamento, quando o FGTS não dá para entrada no apartamento, quando os parentes cobram um passo a mais, e a gente se sente com os pés fincados no concreto, presos às circunstâncias da distância, dos empregos incertos, dessa vida que a gente não sabe se converge no futuro, é por isso tudo que eu digo: não haverá outro amor.

A exceção às minhas regras, a minha única exceção, aquele por quem eu tenho esperado por anos, e meu amor, eu espero quantos mais forem até que você possa finalmente estar ao meu lado em todos os domingos, até que tenhamos nosso sofá, nossas contas a pagar sobre a mesa,  e todos os rituais de uma casal adulto, maduro e que se ama mesmo nas dificuldades.

Ainda que pelos mesmos motivos que eu acabei de citar, eu não resista, eu desista, e a gente se quebre, a gente se deixe, que essa relação seja deixada de lado, eu só quero que você saiba que eu estarei amando você. Na minha solidão, em cada linha dos livros onde me afundarei tentando fugir das nossas lembranças, em cada gole de café ou algo mais forte que eu beba pra sentir um milésimo de afago e calor que poderiam vir dos teus braços. Mesmo nos braços de outro alguém eu estarei amando você. Nunca, nunca vai ser amor novamente. Vai ser paixão, conformismo, preguiça, mas nunca, nunca esse amor.

Nunca isso que eu não pude resistir, isso que me prende a uma luta diária pra acreditar no amanhã e que ele pode te trazer pra mais perto. Eu caminho por essas ruas todos os dias, pensando em como eu queria te encontrar pra um almoço depois de dar algumas aulas, como eu queria tocar teus dedos enquanto desenha, como eu queria essa rotina que tantos reclamam.

Mesmo que isso tudo um dia passe, esse amor nunca vai se repetir. Nunca esse desejo, essa força, essa inocência, essa fé.

I have died everyday waiting for you
Darling don't be afraid I have loved you
For a thousand years
I'll love you for a thousand more
And all along I believed I would find you
Time has brought your heart to me
I have loved you for a thousand years
I'll love you for a thousand more
A Thousand years - Christina Perri 

Entre teus braços


Eu te deixei escapar pelos meus braços. Literalmente. Eu deixei meus braços soltos ao lado do meu corpo, enquanto os seus me envolviam por inteira, eu estática enquanto você me dava seu corpo inteiro, e eu não te segurei.

Não importa quantos sorrisos eu te dei antes e depois daquele abraço que você me deu e eu não soube retribuir. Não importa quantas vezes eu tenha perguntado como foi seu dia, como andam os estudos, como vai a sua vó, não importa.

Meus olhos podem tentar te dizer o quanto eu quero tentar de novo “Vamos lá, me ofereça seus braços, eu quero me lançar. Eu quero segurar você, bem forte, eu quero que a gente não se segure mais”.  Eu não tenho mais medo que flagrem nossos olhares, que fiquem comentando pelos corredores e eu não me importo mais de ouvir indiretas sobre isso que a gente finge que não existe, mas todo mundo ao nosso redor já percebeu.

Mas não te digo nada. Fico parada te olhando chegar. Te olhando sorrir, te olhando ir embora.  Eu queria voltar àquele momento, eu queria que quem nos flagrou tivesse visto muito mais, que alguém se entregando e outro alguém apenas recebendo. Eu não esqueço do quão confortável fiquei entre teus braços, com o rosto em seu peito, por um tempo mais longo que qualquer abraço que eu já tenha dado.

Eu não esqueço que te deixei escapar pelos meus braços.  E agora eu não sei como te manter por perto. 
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