Essa é a última oração

Oi.

Sei que está saindo agora da terapia, que passou uma hora falando sobre como te irrito, como sou diferente de todos que você já teve, como não sabe lidar comigo. Sei que rindo pede a sua terapeuta pra te avisar quando, no próximo relacionamento, você estiver cedendo demais, ou sendo rígida demais. Ela diz que não vai avisar, você pede quase implorando pra que não a deixe cometer os mesmos erros, que te diga mesmo subliminarmente: Pode ser assim: “mas você não acha que está agindo da mesma forma que tal pessoa?”, alguém que você muito criticou por ser tão submissa. Sei que não esperava esse email agora, sei que o espera há tempos. Sei que está lendo Gabito Nunes, e que meu toque, um SMS avisando do email, interrompeu alguma da Carla Brunni tocando no seu fone de ouvido, rumo ao Café mais próximo.

Sei que você já deve ter tirado da lista de reprodução automática todas as músicas que faziam parte da nossa trilha. Sei que depois do café vai pra casa, toma banho quente, deseja mais café, recua porque todos no trabalho dizem que você anda tomando muito café, ansiedade você pensa. Eu diria que é carência do meu gosto, que você fica buscando um gosto ainda mais forte que o meu. Sei que decide deitar cedo, pra não se atrasar amanhã de novo. Sei que continua a leitura de “Amanhã seguinte sempre chega”, que lê um texto e pensa em mim. Decide então ligar praquele seu amigo, que nunca me suportou. Lamenta que ainda pensa em mim, ele diz que você deve esquecer e abrir a mão pro que há de vir – ele te conquista mesmo citando Los Hermanos? Você diz que está esquecendo, porque a gente sempre sabe que está esquecendo, e você cita Caio F. Diz a verdade você acha que não valho a pena porque ainda não decorei nenhuma dessas frases literárias impactantes em tua vida? Ou é porque eu nunca disse que te amo? Essa é a coisa que não sei.

Mas sei que depois de desligar o telefone, apaga a luz e pensa: Será que era mesmo amor? Mesmo que a gente nunca tenha dito. É que não consegue acreditar que o fim chegou por não sabermos explicar como começou. Como contar “Mãe, este é meu namorado” e seis meses depois dizer: “Mãe to saindo, hoje fazemos um ano”. Eu não sou seu ex. Não vou te pedir pra ser melhor amiga da minha irmã, nem te comparar compulsivamente com minha mãe, eu não quero aquecer meus pés no teu, com meias. Eu quero nossos pés, misturando o suor do dia que passou e só então tomarmos banho, juntos. Eu não quero você homeopaticamente, eu te aceito com lençol de motivo infantil enrolado no corpo domingo à tarde, dizendo o quanto televisão é podre e sugerindo ver algum filme indie que você descobriu por meio de sei lá quem.

Sei que gosta disso, ficar em casa o fim de semana todo juntos, brincando de casal maduro, só que sem contas pra pagar que você ainda não ganha tão bem. E eu nem tenho emprego. Ah! Já sei então é isso, minha instabilidade financeira? Eu nunca achei que você fosse dessas, se for isso melhor dizer logo, que eu economizo na internet e vou praí te ver – cito Los Hermanos, e agora? Vai dizer que ainda não sirvo? Você diz que amor não é isso de servir. Mas e nosso abraço que desce ajustado? Cito Carpinejar e já não sei mais o que fazer pra você entender que não sou como os outros. Sou homem, imperfeito e erro, mas tenho uma vontade gigante de fazer a gente dar certo. Se o problema era o lado financeiro, nesse mês fui promovido, dizem que me dediquei demasiado ao trabalho, como nunca até então, e se é por que eu nunca disse, não seja mais por isso, te busco amanhã (hoje) pra almoçarmos juntos e pra eu dizer que Amo Você. Se é que ainda é preciso.

Beijo, do teu.
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