Miguel Sanches Neto fala sobre literatura e escrita

De onde você é? O que você faz? Não são perguntas tão simples de serem respondidas. Não para alguém como Miguel Sanches Neto, que nasceu em um lugar e sente-se parte de outro e que tem mais de uma "profissão". Esta e outras questões foram abordadas por ele no texto Um Igual , publicado do jornal Gazeta do Povo. Já que estas perguntas são complexas e de difícil resposta, ele responde outras sobre o que mais entende literatura. Em entrevista concedida por email Sanches Neto, que lançou este ano o polêmico Chá das Cinco e no segundo semestre lança o livro de contos Então você quer ser escritor?, fala sobre a literatura nacional e regional, sobre a função da arte e dá dicas para quem deseja ser escritor.
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Em seu texto, Um igual, publicado na Gazeta do Povo (30/03/2010) você lembra que Carlos Drummond de Andrade era funcionário público e escritor. Vem de longa data a necessidade que os escritores têm de se virar em outra profissão, a palavra não alimenta? Foi assim com você também?

Não temos um mercado para a literatura nacional. Nossa literatura moderna optou por romper com o público, fazendo uma literatura para contentar os críticos universitários. Nossa literatura anterior ao modernismo não contava com uma população alfabetizada. Então, desde sempre houve necessidade de ter um emprego. Eu acho isso bom, pois permite que o escritor viva dentro de situações sociais reais.


No mesmo texto você expressa: ... continuo acreditando na arte como deslocamento, como desconforto pessoal e coletivo. A arte não pode afagar feridas e egos, ela tem de cutucar machucados e incomodar o amor próprio?
A função da arte não é entorpecer o fruidor, mas mexer com ele, levá-lo a ser um inconformado. Ela causa dor. Mas também causa prazer. Um prazer doloroso, poderíamos dizer.


Você já escreveu crônicas, contos, romance. Com qual estilo se identifica mais ao escrever, e por quê?
Com o romance, pois é nele que cabem todos os outros gêneros. Ele permite ao escritor uma variação muito grande de recursos. Podemos dizer mais nele.


Na estante de quem quer escrever quais títulos e quais autores não podem faltar?
Os títulos dos autores que fazem parte da sua família espiritual. Primeiro, você tem que saber a qual família você pertence. Descobrindo isso, tem que buscar os grandes desta linhagem. Então, a lista de livros essenciais varia de pessoa para pessoa, e a minha só serve para mim.


Você certa vez afirmou que só existe autor se existir público. Diante dessa afirmativa cria-se o quadro: É preciso publicar um livro para aí ser escritor? E mais, hoje, com a internet, a popularização dos blog´s, muita gente escreve e é lida é o suficiente para ser literatura e caracterizar o blogueiro como autor?
Claro, não importa o meio em que se é lido, o importante é ser lido. Agora, eu acredito que no meio papel há uma leitura mais densa. Mais material. Então, a gente se sente mais autor quando publica um livro. Mas é apenas uma impressão.




Quais considerações pode fazer sobre a literatura paranaense contemporânea? Há alguém despontando no mercado editorial que mereça destaque?
A literatura paranaense é quase toda ela uma literatura curitibana. Hoje, não acompanho mais os lançamentos, então não posso fazer apostas com o mínimo de segurança. Dos que acompanho, eu apostaria no Rogério Pereira e no Pellanda, que começam uma trajetória como autores.




Você é professor de literatura. Assim com inicial minúscula como você fez questão de escrever no texto já mencionado. Em todos estes anos de sala de aula, qual o maior erro que percebeu nos alunos da área literária?
Querem ser professores de literatura e não lêem literatura, apenas textos teóricos. Querem saber escrever e só lêem traduções e textos mal escritos.


O que está lendo agora?
Acabei de ler A morte de Matusalém, contos de Isaac Bashevis Singer. Este escritor judeu fala do conflito entre o mundo religioso e o material, entre a crença e o vale-tudo do materialismo, e seus contos, neste livro, tratam sobre a traição – conjugal, histórica, étnica, mística. E são escritos por um grande fabulador, talvez o mais importante narrador do ocidente no século XX. E nos re-ensina a contar histórias. Li praticamente todos os livros dele.


Para este ano há algum lançamento seu previsto?
Acabei de lançar o romance Chá das cinco com o vampiro (pela Objetiva) e lanço em agosto um volume de contos (Então você quer ser escritor?) pela Record. É neste livro que estou trabalhando agora.


Para quem deseja se lançar no mercado editorial, quais são as suas dicas?
Desenvolver outros trabalhos editoriais paralelos à escrita criativa. Fazer crítica para jornais e blogs, organizar volumes temáticos, fazer tradução, ou seja, ter uma vida editorial antes de ter livros para oferecer aos editores. Fazer-se minimamente conhecido.

Do you believe yet?

Eu acho engraçado o modo como você ainda acredita no amor.
Eu acho triste você ter aparecido justo quando eu deixei de acreditar. 


Luana Gabriela
abril 2010

Do you believe yet?

Eu acho engraçado o modo como você ainda acredita no amor.
Eu acho triste você ter aparecido justo quando eu deixei de acreditar. 


Luana Gabriela
abril 2010

Posso ouvir o vento passar.. LH

É que já não sei rimar. Quando ele me deixou sorrindo e chorando, aquela mistura inédita de sensações me calou. Por dentro e por fora. Aqui no peito bate o coração bem lento, mudo, não faz mais ouvir a sua voz. Quando o coração emudece, definitivamente a razão grita, às vezes só sussura, mas faz um barulho gigante aqui dentro.  Porque o que fala é tão vivo que dói, e mata. E mesmo que tape (eu e você) os ouvidos aquela razão - verdade aprendida - ecoa e quando nos olhamos os alarmes piscam - Perigo! E baixamos os olhos, e continuamos a andar. Lá fora o vento sopra, mas estamos ambos protegidos, guardados, aquecidos, apesar do frio dentro de nós. Porque aqui, você aponta pro peito e diz, aqui o vento não entra mais. E eu completo: Daqui, aponto para nossos corações, o vento não leva nada. Você repete: Nada. E concluo que não há mesmo o que levar. Que dois vazios não se preenchem, muito menos se transbordam. 
Luana Gabriela
27/04/2010


 Trilha:E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.

Los Hermanos
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