"Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos, mal rompe a manhã" Carlos Drummond de Andrade

O POETA
Sonha com poemas
e acorda na noite,
escrevendo com os dedos
versos no ar.
Adora
navegar sobre ondas de folhas em branco,
velejar nos cadernos novos,
pular sobre areias de palavras,
correr na praia procurando o Verbo.
Livros, cadernos, papéis e mais papéis...
Continua a lutar com ondas indomáveis,
organiza os termos,
mas só ancora no oceano dos sentimentos.
Nesse instante,
o poeta compreende o poder do caos primordial.
Isabel Furini
23/12/2008

Carlos Drummond de Andrade escreveu em seu poema O Lutador: Palavra, palavra/(digo exasperado),/se me desafias,/aceito o combate", e se o poeta é um lutador que luta com as palavras, é difícil saber se Isabel Furini, escritora argentina radicada em Curitiba, sai da luta como vencedora ou vai a nocaute. Isso porque Isabel usa as palavras com domínio marcial. O poema acima foi ganhador do primeiro lugar do Concurso de Poesia de São José dos Pinhais, em 2002. Isabel tem 15 livros publicados, além da coleção para o público infanto-juvenil: Corujinha e os Filósofos, da Editora Bolsa Nacional do Livro. Pela editora Instituto e Memória lançou no segundo semestre do ano passado O Livro do Escritor. A lutadora-escritora fala nesta entrevista sobre a arte de escrever, do que ela entende desde  criança.

 
Pablo Neruda, segundo se sabe, disse que escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias. É fácil assim mesmo?
Talvez para Neruda fosse fácil. Mas a maioria de nós trabalha bastante para colocar ideias no meio (entre a primeira e a última palavra de um texto).

Uma coisa interessante é que, muitas vezes, o conto, o poema, a crônica, o romance estão lá, em algum lugar do cérebro, e nosso enredo parece maravilhoso, porém, no momento em que decidimos passar o enredo para o papel, as coisas mudam. O enredo não parece o mesmo. É como se fosse um quebra-cabeça e percebemos que perdemos algumas peças no caminho e é difícil completar nosso trabalho.

Você ministra palestras sobre a arte de escrever, orientando quem deseja ser escritor e publicar um livro. Para ser considerado escritor, antes de tudo, é preciso ter um livro publicado?
Essa é uma discussão antiga e, muitas vezes, nas palestras as pessoas perguntam sobre o assunto. Mas o questionamento é complexo. Será que Proust só foi escritor depois de publicar seu livro ou ele já era um escritor desde o momento em que começou a escrever?

Outros consideram que existe diferença entre escritor e autor. Escritor seria quem se dedica a escrever, mas que escreve esporadicamente, por exemplo, quem faz uma obra sobre sua área de trabalho é um autor e não um escritor.

Quais dicas você pode dar para quem quer escrever um livro?
Escrever um livro é uma tarefa empolgante. Se for de ficção, o autor deve desenvolver o enredo passo a passo, alguns mestres do oriente falam que qualquer arte deve ser iniciada com cuidado, com leveza, como quem caminha pisando sobre papel de arroz. Acontece que o caminho do escritor é longo – e não é tão charmoso como as pessoas pensam. Escrever é um trabalho solitário. Então, a primeira dica é ter disciplina, escrever diariamente, ainda que seja uma página. E no mínimo uma vez na semana reler as páginas escritas procurando aprimorar o texto. Outra “dica” é estar sempre atento aos detalhes, caminhar pela rua, ouvir as pessoas. Observar gestos, atitudes, comportamentos e tomar notas daquilo que foi mais interessante. E depois, ao escrever um conto, um romance, analisar se algumas dessas notas podem servir para completar a construção de nossos personagens. Escrever é também aprender a ler o mundo.
O escritor Roberto Gomes, em entrevista ao Paiol Literário, evento realizado pelo jornal Rascunho, em Curitiba, disse que é preciso ler quarenta páginas para escrever uma linha. Você concorda com esta afirmação? Quais autores e obras você caracteriza como indispensáveis para quem deseja fazer literatura neste século XXI?
O escritor Roberto Gomes é muito experiente e deu um bom conselho. Se lermos quarenta páginas para escrever uma linha, imagine você como será interessante essa linha!

Realmente a leitura é imprescindível para o escritor. O trabalho consiste em ler, refletir, e só depois escrever, talvez, por isso, como falou Gomes, precisamos ler muito para escrever um pouco.

Nos últimos 20 anos, com a popularização do uso do computador e da internet, houve uma proliferação dos blogs. Com isso, criou-se um espaço para quem escreve poder publicar seus textos e ir conquistando visibilidade. Você vê isso de forma positiva para a literatura nacional?
Tem um aspecto positivo, pois a internet abriu um espaço democrático, e a juventude está escrevendo muito mais graças aos blogs. Alguns criticam porque muitas pessoas (jovens e adultos) escrevem em blogs espontaneamente, sem aprimorar os textos. Eu acho que ainda assim é uma maneira de se comunicar pela palavra escrita, uma maneira de trabalhar a escrita.

Quais são seus próximos projetos? Há algum livro sendo produzido?
O Livro do Escritor foi lançado pela editora Instituto Memória, em 1° de setembro de 2009. Nesse mesmo mês, comecei um novo trabalho também relacionado à arte de escrever, que pode ser considerado uma continuação de O Livro do Escritor, mas ainda não tem título. Também estou organizando um livro com meus poemas. Escrevo poemas desde criança, e a maioria é jogada fora, mas agora – graças ao meu Blog no Bondenews - eu tenho espaço para publicar meus poemas, pois poesia é um gênero difícil de publicar.




Para quem quiser entrar em contato com você, quais são as formas?
Podem entrar em contato pelo celular (41) 8813-9276 ou pelo e-mail livrocoruja@yahoo.com.br

Redação e Eentrevista: Luana Gabriela da Silva
Fotos: Divulgação
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