- But change is never a waste of time - Alanis

[Eu sei que é difícil manter um coração aberto Quando mesmo os amigos parecem dispostos a te prejudicar Quando olho dentro dos seus olhos Posso ver um amor reprimido Mas querida, quando te abraço Você não sabe o que eu sinto o mesmo?] November Rain Era novembro. Um novembro chuvoso. Com Glen Hansard tocando, sentava-se em sua cama. Caderno em mãos, canetas espalhadas pelo edredon. Ideias e muitos sentimentos confundiam-se. Queria escrever sobre ele. Mas achava melhor não. Já havia dito – escrito – demais nos últimos tempos e como não havia obtido resposta eram como cartas lidas e então devolvidas ao remetente. Perto do final do ano sempre fazem algumas retrospectivas. Ela faz retrospectivas todos os dias. Conclui que viver é bom e dorme. Mesmo depois de tantos meses passados em que se pudesse já não habitaria aqui. Um mundo de dor. Hoje ela podia ver tudo um pouco melhor, talvez, dependendo do dia, chegasse a pensar que o mundo poderia ser de amor. Amor de pedidos atendidos. Ela não acredita em horóscopos e a quem possa interessar pode dizer que esta é uma verdade empiricamente aprendida. Segundo o horóscopo a partir do dia 11 deste mês deveria estar em seu “inferno astral”. Mas suas experiências com o mês de novembro mostram que vive seu paraíso astral, que começa em novembro e termina em janeiro, geralmente. Com sua fé, (aponta pra fé e rema) acredita que no próximo ano pode ser diferente. Começa o paraíso astral e não mais termina. Deixem-na crer que assim será. Ela escreveu uma vez, ainda se lembra, que agosto era seu mês baixo astral, a expressão inferno remete a eternidade e ela não crê nas coisas ruins eternas em sua vida, ah! não crê mesmo!! Pois bem, hoje quer falar sobre novembro. Em novembro é quando ela mais sente falta de ter alguém para abraçar, atravessar as ruas da cidade, iluminadas para o Natal, aquelas ruas lotadas de consumistas compulsivos, atravessar a ruas de mão dada – percebeste como ela é paranóica com atravessar a rua e mãos dadas? – em novembro ela deseja sorrir, fazer sorrir. É para novembro que se guardam surpresas para a vida dela. E ela quer ter com quem dividir. Não os pesos da vida, mas as alegrias. Ela vai guardando tais alegrias, e vai se enchendo, e vai transbordando sorrisos iluminados pelas ruas da cidade cinza. E vai. Novembro passado concluiu seu curso universitário, cansada e sem ter com quem comemorar, trancou-se em seu quarto e dormiu, dormiu até a outra noite chegar. Alívio era a palavra que tatuava em seu coração. Neste novembro, olhou pra trás e percebeu. Mais um alívio. Mudará de casa. Mudará de espaço. De quarto. Mudará de bairro. Mudará. Mudou. Há quanto tempo em suas orações pedia para deixar aquele lugar? Hum.. ela pensou, há tanto tempo que já nem se lembra mais. Chegou o dia. Ela muda amanhã. Só uma coisa não muda, ainda não há quem abraçar e com quem comemorar. Vai dormir novamente, um dia inteiro, até outra noite chegar. Quem sabe em novembro que vem não é isso que muda? Quem sabe não vai ela querer tatuar uma palavra – amor – ou quem sabe uma letra? Quem sabe. Deixem-na crer. Luana Gabriela 27/11/2009

[ I try but you see, it's hard to explain ] The Strokes

O amor é não saber. É “emburrecer”. É esquecer todos os conselhos já dados, os erros já cometidos. O amor é não cumprir promessas como: Não vou mais me dedicar a ninguém. Amor é não ter passado. Amor é não ter futuro. Amor pode durar um segundo e se repetir a vida inteira. Amor é não fazer listas. Não saber contar, é criar um novo calendário. O Natal é o nascimento do amor, o dia que nos conhecemos. Ano novo é quando passamos a ser nós. Um novo começo juntos. Intervalo pequeno entre um e outro. Amor é escrever e não entregar. Ainda guardo um caderno cheio de pequenos e grandes versos. Amor é praia no inverno, quase vazia. Ninguém está verdadeiramente só quando ama. Há sempre uma lembrança na memória, o cheiro dele no vento, a lembrança da pele dele na mão, o abraço ao cumprimentar o outro que não é ele, quando fecho os olhos imagino que é. Amor é deitar e pegar no sono, desejando controlar o sonho. Amor é sorrir para fingir que entendeu. Amor é não entender. Não saber explicar, é ser e ponto. Amor é esquecer de tudo que se precisa lembrar e lembrar da única coisa que se precisa esquecer. Amor é virar a página e continuar a escrever. Amor é mudar a letra para se fazer entender. Amor é dizer não quando se quer dizer sim e dizer sim quando se precisa dizer não. Amor é inventar desculpas para continuar acreditando no outro quando ninguém mais acredita. Amor é continuar esperando mesmo sabendo que não se pode esperar mais nada dele. Amor é troca de olhares mais do que mãos dadas. O olho vê tudo como um conjunto, a mão só sente se eu quiser também. Amor é verão sem férias, não há descanso. O amor cansa. Luana Gabriela 31/10/2009 Trilha: The Magic Numbers – I see you, you see me [Eu nunca pensei que você queria que eu ficasse Então eu deixei você com as garotas que vieram com você Mas, querido, quando eu o vejo, eu me vejo Eu pensei muitas vezes que você ficaria melhor sozinho]

- Para que rimar amor com dor? -

"O Amor...
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!"
Trilha: Além do que se vê - Los Hermanos
[ Moça,
Olha só,
o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar
e perceber
Que a estrada vai
além do que se vê]

- se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade - Los Hermanos

Trilha: Your song - Elton John [De qualquer maneira, bom... o que eu realmente quero dizer É que seus olhos são os mais doces que já vi.]
"Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim? É tão pouco. Não te preocupa. O que acontece é sempre natural — se a gente tiver que se encontrar, aqui ou na China, a gente se encontra. Penso em você principalmente como a minha possibilidade de paz — a única que pintou até agora, “nesta minha vida de retinas fatigadas”. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito. Tô morando, trabalhando, estudando e amando. Esses são os quatro foles da minha vida, no momento, e sobre cada um deles eu teria milhares de páginas a preencher"
Caio Fernando Abreu
"Total contradição do amor: queremos conhecer quem amamos e, ao mesmo tempo, desejamos que seja imprevisível." FC

- Devia ter me importado menos - Titãs

“Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido frequente demais, até mesmo um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia. Resolvi andar.”
Caio Fernando Abreu ( em Pequenas Epifanias )
Trilha: Dead Fish - Descartáveis
[A humanidade é o produto
Sempre atrás de bonificações
Porque tudo está à venda]

- não me lembro como eu era antes de você - Titãs

Eu não achava lugar para mim no mundo, não cabia, não havia espaço. Hoje meu endereço é teu coração. Se me sentia perdida em ruas e becos escuros, hoje só me perco no calor do teu abraço. Se os dias chuvosos eram os meus prediletos, hoje, quando penso em você, gosto até do céu aberto. Se com o vento as palavras vão, ele também é bom, me traz teu cheiro. Se o relógio bate, os dias passam e não te vejo, não me entristeço, nosso encontro está marcado, em um relógio diferente. Luana Gabriela 20/11/2009
Trilha: Antes de você - Titãs
[O livro não é bom, não quero ouvir um som
Não acho nada na T.V.
Não tenho fome
Não quero beber
Quero saber se você já dorme
Tudo passa, a noite deve passar também
Não me lembro como eu era antes de você]

[E que amar é Punk, PunkRock&Roll] Dee Diedrich

Até que você chegasse, eu não tinha um caminho certo. Até que você me olhasse eu não olhava para mim mesma. Até que você me achasse, eu estava perdida. Até que você fosse verdade, eu achava o amor uma mentira. Até que você me lesse eu escrevia para ninguém. Até te conhecer, eu não conhecia a mim mesma. Até que você dividisse seus sonhos comigo, eu não sonhava. Até que sua mão tocasse a minha, eu só havia sentido as cordas frias do meu instrumento. Até que você chegasse, o céu que eu vi era sem cor, hoje meu céu é azul, mesmo na tempestade. Até que você me envolvesse em teu abraço, meu corpo não tinha espaço para se aconchegar. Até que você chegasse, eu não tinha quem amar. Até você chegar, eu não sabia que o perfeito existia. Até você chegar, eu não sabia que o sonho podia ser verdade um dia. Até que a gente esteja junto, eu vou achar que é tudo um sonho e acho que depois também. Luana Gabriela 20/11/2009
Trilha: Goodbye - Pelebrói Não Sei
[Vou chorar de pura felicidade
Andar nas ruas da cidade
Sem medo de... te encontar]

- O amor nosso de cada dia -

Que para as segundas-feiras haja a lembrança de um bom domingo Que para as terças haja a expectativa de um cinema na quarta, e um almoço apertado entre as agendas Que na quarta, se não houver cinema, haja um telefonema inesperado Na quinta, uma ida à ferinha, um café com chocolate Que na sexta para aliviar o cansaço, um braço no ombro e um forte abraço E no sábado, Ah! No sábado, Que neste dia eu tenha uma companhia para curtir uma tarde vazia, para rir das tragédias e comédias da vida E no domingo, acordar sorrindo por não ser sozinha Que para cada dia haja amor Mesmo que não seja o mesmo amor todo dia. Luana Gabriela
10/09/2009

- posso contar meus pesadelos e até minhas coisas fúteis - JQ

Fui numa floricultura comprar pratinhos de vasos. Três pratos. De diferentes cores, de azulejo e barro. Não receio pedir pouco. O pouco é que me basta. O pouquíssimo transborda. Eu me sinto essencial lembrando o desnecessário. Ouvindo o suspiro dentro do vento. Ninguém dá valor ao pratinho das plantas que racha na mudança de lugar e não é reparado, muito menos reposto. Eu não vivo sem eles. É como faltar talheres para um membro da família. É o pratinho de vaso que me mantém acordado. Deslumbrado pela sua fugacidade. Porque amanhã terei que me lembrar novamente. E depois de amanhã. E sempre. O amor é o que não lembramos para continuar lembrando. Como pedir ao filho escovar os dentes ou insistir que faça os temas. Todo dia será exaustivamente igual: é uma atenção renovada, não exclusiva. Uma dedicação nula. Uma devoção secreta que não traz fama e reconhecimento. Coisas simples que não podem ser contadas ou glorificadas durante a semana. Que são apagadas no mesmo momento do ato. Não irei ao bar proclamar aos colegas de que dobrei as calças antes de sair e organizei as camisas pela antiguidade. É o que me põe apaixonado numa mulher: o pratinho do vaso. O que é sem graça, o que somente protege, mas que é confidente das raízes. O quanto ela é capaz de estar ao seu lado sem que necessite imortalidade. O quanto me torno observador das inutilidades. Falei inutilidades, pois é, não errei a digitação, quem ama conserva as inutilidades. Os interesseiros e ambiciosos guardarão as informações essenciais como nascimento e medidas. Veja se um homem a quer quando se interessa porque aquilo que não gera interesse. O fútil é o fundamental. No momento em que o desejo não descobre o que é importante e preserva tudo. O pratinho do vaso do relacionamento está em saber o xampu que ela usa, o restaurante preferido, o doce da infância, sua mania de comer aipim com mel, o azeite (não é qualquer um), as perguntas que detesta ouvir, como ela gosta de amassar o travesseiro, quais os insetos que tem medo, o que não pode deixar de assistir na tevê, o drinque preferido, os amigos da choradeira, os amigos do riso, o que toma no café da manhã, qual a fruteira de sua confiança. O pratinho do vaso é o que fica da tempestade.
Fabrício Carpinejar

- só uma pergunta -

"Quando você não está apaixonada você se sente mais leve ou mais vazia?"
Luana Gabriela
14/11/2009
Trilha: Pearl Jam - Just Breathe
[Eu nao quero me magoar,
há tanto nesse mundo para me fazer acreditar Fique comigo Você é tudo o que eu vejo Eu disse que preciso de você? Eu disse que quero você? Se eu não disse, eu sou um bobo]

- i like -

Gosto do frio. Da garoa fininha na janela. Gosto de abraço porque envolve todo o corpo numa entrega. Gosto de pessoas tímidas, gosto de pessoas que me fazem rir. Não sinto saudades. De ninguém, quase nunca. Gosto de dormir abraçada, mesmo que seja sempre com uma almofada. Gosto de mudar a cor do cabelo. O corte. O esmalte. Gosto de all star. De rock e mpb. Gosto da palavra pai, mas sinto mesmo a palavra mãe. Não gosto muito de crianças, mas algo com relação a isso já está mudando. Não gosto de paixões. Não gosto de filme de terror. Gosto de romances, dramas e comédias românticas. Gosto de filmes de guerra e de super-heróis. Gosto de gibis antigos.Gosto de ganhar presentes. Gosto de baixo. Gosto de violão. Gosto de doces. Não gosto de praia. Gosto de ler. Escrever. Não gosto de lavar a louça. Gosto de ser surpreendida. Gosto de surpreender. Gosto de dar presentes. Gosto que façam minhas vontades, gosto que me façam sentir vontade de ceder em minhas vontades. Gosto dos dedos entrelaçados. Gosto de olhares que sorriem. Gosto de frio no estômago. Gosto dele. Gosto de mim. Gosto de Manuel Bandeira, Fabrício Carpinejar, Caio Fernando Abreu. Gosto de Joss Stone, Maria Gadu, Alanis Morisette, Luiza Possi, gosto de Rodrigo Amarante. Há pouco tempo não gostava de mulheres no vocal.Gosto de teatro, cinema, jornal. Gosto de agendas, cadernos, cadernetas de anotações. Não gosto de sombrinha. Gosto de inglês, francês, espanhol, italiano. Não gosto de alemão e japonês. Gosto de fotografia. Gosto de amar. Gostaria de ser amada. Gosto de futebol. Gosto de sorvete. Não gosto de chá. Gosto de café. Gosto maçã. Não gosto de pêra. Não gosto de circo. Não gosto de palhaço. Não gosto de Dan Brown, Sandy, Machado de Assis. Gosto de crônicas, não gosto de romances policiais. Gosto de preto, roxo, vermelho. Não gosto de amarelo, azul e rosa. Não gosto de telejornal. Gosto de revista. Gosto de recortar o jornal. Gosto de flor, mas não gosto de rosas vermelhas. Gosto de cortar e colar. Não gosto de desenhar. Não gosto de pintar. Não gosto do Vasco, nem do Flamengo, não gosto de nenhum time do Rio. Gosto de história, sociologia, filosofia. Não gosto de matemática e física. Gosto de perfume, maquiagem, fazer compras. Gosto de chocolate preto, branco. Não gosto de bolacha de morango. Gosto de comida mexicana, não gosto de comida japonesa. Gosto de sinceridade e diálogo. Não gosto de mentira – nenhuma. Não gosto de axé, nem funk. Não gosto de esperar. Não gosto de cigarro. Não gosto de cerveja, nem do cheiro. Gosto de ficar sem fazer nada. Gosto de ter o que fazer. Gosto...não gosto. Percebo que é possível saber muito sobre uma pessoa e ainda assim não conhecê-la. Luana Gabriela 16/11/2009
Trilha: Algo Novo - Killi
[Eu não vou me repetir pra sempre
Quero algo novo pra fazer
Cada dia vai ser diferente
Eu não gosto nem de pensar que sou igual
E quanto a você?]

-Acreditar que se domina a situação é pisar em falso - F.C.

O sol ainda não havia batido em sua janela. A janela passou a noite entreaberta, quem sabe o vento traria aquele cheiro, na madrugada, o perfume que um dia ela sentiu. O vento não trouxe, o sol não chegou e a lua foi embora. Como em todos os outros dias que eram dias comuns ela se ajeitou, fez algo diferente no cabelo, uma maquiagem diferente ao redor dos olhos – que renderia um elogio do chefe ao chegar no trabalho – mudanças sempre lhe rendem elogios. Deve ser por isso que se viciou em mudar o cabelo, em mudá-lo de cor, de corte, viciou-se em mudar. Enquanto todos buscam sair da rotina ela busca entrar em uma. Cansou de cinemas na quarta, cafés na segunda, dividindo o tempo entre um e outro amigo que não lhe dizem nada de novo ou interessante. O verão começava. Ela não gostava do verão. Aquelas cores todas lhe doíam os olhos, as roupas pretas chamavam a atenção no verão, e ela não queria chamar a atenção. Não nestes dias que gostaria de esconder-se, dormir. Descobriu um antialérgico que a faz dormir. Ela tem alergia da realidade. Realidades mal vividas, mal resolvidas. Imaturidade madura de quem não muda o que acha que é bom. Ela é boa. Boa a quem cede o lugar, a quem ama sem a recompensa do também, boa porque não discute mais com a mãe, porque cede aos caprichos da irmã, porque se submete ao papel psicóloga para amigos psicólogos. Boa porque prenche espaços vazios, deixados por quem foi mau um dia. Boa porque não quer incomodar. Eu não quero incomodar. Para quem ela decidiu esquecer, para o amigo que ela ignora no fim de semana, para o pai que ela não liga, para a irmã que ela não foi no aniversário, ela não é boa. Ela queria falar um palavrão, um não ... dois, três quem sabe. Mas apenas sai um: Whatever. Ela aprendeu com o amigo nerd, que não acredita em sua saudade, que se esconde como ela quando alguma coisa dói. E dói. Quando dói a gente se encolhe. Como aquela planta, você toca nela, ela se encolhe. Ela é hoje, uma planta encolhida. Viva e retraída. Seu sorriso não é falso. Ela ri mesmo da vida. Teve um filme, um conselho, sorria faça as pessoas se perguntarem porque você ainda está rindo. Atingiu o ápice do conselho ela mesma se pergunta: Do que você ainda está rindo? Mudanças. Fins. Começos. Voltas. Tropeços. Ainda não ama. Ela ainda não ama. Você entende isso? E tudo muda. Tropeçar não é cair. Todo fim é triste, mas nem todo começo é alegre. Luana Gabriela 13/11/2009
Trilha: Ana Carolina
[É... mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir
...
As vezes ando só, trocando passos com a solidão
Momentos que são meus e que não abro mão]

- escrever é enfiar o dedo na garganta - CFA

Blog traduz uma prova de resistência. Um big brother ao avesso dos gêneros literários. Ao invés de ser conhecido, corresponde a um mergulho adoidado no anonimato. Distinto da noção do senso comum de que se trata de um lugar para aparecer. O resultado final (a possível badalação de um endereço virtual) não expõe a realidade. Os exibidos foram antes tímidos, os extrovertidos foram antes introvertidos. É a mais dolorida experiência editorial. O mais severo teste vocacional. Uma ferramenta capaz de sugar sua vida ou sua aspiração. Indica a fronteira entre o amador e o escritor, entre o diletante e o renitente, entre o curioso e quem não consegue se afastar da compulsão narrativa. O amador cansará nos primeiros meses. Vai deduzir que não vale a pena o trabalho, que ninguém lê. Uma tortura postar textos durante três meses e não receber nenhum comentário. São os quarenta dias do deserto, com as tentações sobrevoando o teclado. Você pensou que aquilo seria a glória instantânea. Caprichou na redação, no humor e nas perspectivas singulares de captura do cotidiano. Mas o único que entra no site é você. Trinta vezes ao dia. Chega a esbarrar consigo entre tantos acessos e atualizações. Uma miragem. Cada texto é um quarto vago. O desespero o obriga a fazer atos impensáveis: entrar de computadores diversos para fazer com que o contador se mexa de alguma forma. Assim como um atacante chuta a bola para as redes alheio à marcação do impedimento. Para se livrar do azar. Ainda que esteja quebrando uma das regras básicas do jogo e leve um cartão amarelo. Não há nem juiz para lhe dar cartão amarelo. Percebe que lançou um texto com um erro gravíssimo de português. Estava na rua quando lembrou a indecisão ortográfica, longe de qualquer terminal. Foi observando um outdoor. Corre para uma lan house, consome seu suspiro sem sentir o gosto, arruma e conclui que tampouco alguém reparou. Decide escrever qualquer coisa que continuará sendo qualquer coisa. O isolamento do blog produz alucinações. O contador de visitas parece uma bomba-relógio: anda para trás. Depois de postar, o autor perde a privacidade para se tornar - teoricamente - domínio público. Mas não saiu do caramujo do quarto, e entenderá que escrever e ser conhecido não acontece simultaneamente. Há a idéia equivocada de que todos os leitores do mundo estão esperando sua publicação, que basta acenar para a luz do sol que imediatamente será linkado, sugerido, alardeado. Ao deixar minha casa, não recebo nenhuma proposta sedutora no caminho. Nunca encontrei nenhum editor no metrô. O que me leva a constatar que o blog é o metrô da internet. Escrever na rede é uma tentativa de suicídio, chamar atenção dos outros para a nossa carência. Um aviso escandaloso da nossa fragilidade. Pensando bem: publicar é um suicídio frustrado. Quando o ímpeto de sair da vida é usado para entender a própria vida e as dificuldades enfrentadas pelos demais autores. Uma das virtudes do blog é justamente sua provação. Agüentar os contratempos no osso. Ver que não é um elogio que o fará continuar, muito menos uma crítica que o fará desistir. Que nascer para a letra é amar a insuficiência. O escritor se sucede progressivamente. Melhora. Estar sozinho é ainda estar povoado. Povoado por dentro. Pelos personagens, pelas histórias familiares, pela observação aprofundada dos seus arredores. Só quem foi fantasma um dia poderá alimentar seus fantasmas. Procura-se um reconhecimento externo e encontra-se algo mais preciso: a afirmação pessoal na persistência. Procura-se lá fora o que já se tinha. Como diz Santo Agostinho: “Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim.” O esforço de sair da solidão ajuda curiosamente a fortalecê-la. Compreende que não escreve para completar um diário, ou para repetir sua história, se fosse assim não contaria com assunto para atualização semanal, mesmo que desfrutasse de uma trajetória acidentada e heróica como a de Hemingway. Escreve para duvidar e se banhar na luminosidade da confusão biográfica. Acima de tudo, compreende que a imaginação não julga como a memória. Que imaginar é delicioso, imaginar: uma memória sem culpa. Um texto postado é como um texto impresso. Mais fácil para localizar os erros, os tropeços, formar distanciamento. Confere uma maioridade na escrita, reforça uma postura profissional de jardinar e cuidar do verbo, de alterar a prosa e a poesia em nome da transparência e da fluidez. Há a formação gradual de uma assinatura, transmitindo uma visão de ser responsável por aquilo que se diz, de assumir honestamente as dívidas da boca. Organiza-se o rascunho, que é bem mais duro do que redigi-lo. Não é fácil a rotina da blogosfera. Terá que superar vários fins, várias negativas, várias mortes. Superar a expectativa de fama pelo prazer do texto. Por isso, o prazer necessita ser mais forte do que a dor. O masoquista é o que gosta mais do sofrimento do que da carícia. O blogueiro é o que esquece a ferida pela alegria. A diferença entre guardar o inédito no blog e na gaveta: o blog é uma gaveta aberta.
Fabricio Carpinejar
Ps: Este texto vai como um agradecimento as outros blogueiros (as) que passam por aqui! Obrigada!
Trilha: The Cranberries - Stars
[As estrelas estão brilhantes esta noite,
uma distância nos separa E eu ficarei bem,
o pior que eu já percebi em nós Ainda tenho minhas fraquezas,
ainda tenho minha força]

[ eu quis dizer, você não quis escutar ]

Trad."É melhor falar demais do que
nunca dizer o que você precisa dizer."
[É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa] Clarice Lispector Fica difícil quando se quer muito resolver algo e não se pode, não se consegue. Qualquer coisa numa história não se pode ser resolvida sozinha. Sim, querido. Eu fui além do que você esperava. Na verdade fui além do que eu mesma esperava. Foi um quase amor. Quase porque sentimentos, aprendi, não são escolhas. Apesar de eu ter escolhido te amar, não deu. Não ainda. Eu estaria disposta se você estivesse também, mas todos estes teus silêncios, este fingir que não leu, não viu, não entendeu. Tudo isso não me agrada mais. Agradava-me teus cuidados, teus telefonemas despreocupados, tudo que quase já não temos mais. Agradava-me teu abraço, que já nem lembro quando foi o último. Indefinições me mantém presa e eu gosto de liberdade. Quero ter liberdade para te esquecer sabendo que não perdi nada,além de tempo, porque não me querias. Ou liberdade para poder te amar sabendo que também quer amar-me, e para isso teremos tempo. Falo de tudo isso de novo. Porque posso não ser Clarice quando ela escreve sem querer mudar nada, mas sou Clarice quando teimosa sou exigente de verdades ditas mesmo que com brutalidade. Diga logo que não soube te fazer me amar. Não doerá. Não mais que essa espera que soa inútil, que me prende a você, sem que você saiba. Eu nem olho para os lados na rua. Eu não consigo. E quando saio por aí, com talvez alguém que valha a pena, me bate a culpa. Mas eu não sou sua.
Luana Gabriela 11/11/2009
' Pedi (peço) uma definição ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei (aviso) que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranqüilidade possível que estou só do que ficar a mercê de visitas adiadas, encontros transferidos. No plano real: que história é essa? No que depende de mim, estou disposta e aberta. Perguntei (pergunto) a ele (você) como se sentia (sente). Que me dissesse (diga). Que eu tomaria (tomarei)o silêncio como um não e ficaria (ficarei) também em silêncio. Acho que fiz (faço)bem. ' Caio Fernando Abreu com adaptações. Trilha: Já foi - JQuest [Eu sempre quis fazer você feliz Às vezes me deixava pra outra hora Eu sempre quis falar o que eu sentia Eu sempre te deixei bem à vontade Mas tua falta de vontade Me desmotivou Quer saber? Eu quero alguém pra dividir Gostar de quem gosta de mim Eu sempre acreditei muito em nós dois Eu sempre quis fazer a minha parte]
[Espera-se algo que escape do lugar-comum.
Uma frase honesta, autêntica, sublime, ainda que triste. ]
Fabrício Carpinejar

[ Eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem] CFA

Foto: Divulgação
“Todas as coisas que eu deixei de dizer, eu estava me afogando nelas” É quase uma hora da manhã – estranho chamar de manhã a hora quando tão escuro está lá fora – eu cumpro minha rotina noturna, saio da frente do computador, vou à cozinha preparo minha última caneca de café do dia. Escolher qual delas usar é quase um ritual. Umas foram presentes, outras são como lembranças. Escolho, preparo o café, atravesso o corredor, olho no espelho meu novo cabelo cor de ferrugem, entro no quarto, ligo a TV, fico em dúvida se deveria ligar o rádio, o violão que ocupa a cama recosto sobre a parede, penso que devo trocar essas cordas velhas que não soam mais como antes. Eu estive pensando em você, eu sempre penso em você antes de dormir e não me recordo de um dia sequer em que não me lembrei de você depois que acordei, logo na primeira hora do meu dia. Sabe, no verão a única hora boa para tomar café é antes de dormir. Depois de muita pesquisa descobri que faz um ano que nos “conhecemos”.Parece que faz tanto tempo mais. Às vezes sinto que você me conhece tanto, às vezes sinto que não conheces nada de mim. Carpinejar disse que é uma grande contradição do amor: : Queremos conhecer quem amamos e, ao mesmo tempo, desejamos que seja imprevisível. Me sinto assim com você. Não, isso não é uma carta de amor, apesar de ser um texto ridículo ( lembrei de Fernando Pessoa que disse que todas as cartas de amor são esdrúxulas). Não é uma carta de amor, primeiro porque não é uma carta. Segundo porque não falo de amor. Falo de um não-sei-o-que que você me despertou desde aquele dia, naquele show. Naquele chão, sentamos, conversamos, falamos, nos descobrimos. Nos descobrimos, é essa a expressão.Neste um ano algumas coisas não mudaram nada, outras mudaram muito. Quando a gente conversa fica sempre algo no ar, na voz, na intenção... os assuntos são os mesmos e eu poderia passar o resto da vida discutindo-os com você. Ouvindo seus elogios ao meu texto. Um dia você me perguntou se meu antigo amor gostava de se ler. Hoje eu te pergunto, você, gosta de se ler? Me obrigo a citar Carpinejar mais uma vez: “Será que me apaixonei pelo seu texto e quis ser seu personagem?” . Eu não pretendia me estender muito, mas estou começando a terceira página, sim escrevo a mão. Meu café já acabou, tem um cara muito loco dando entrevista no Jô. Escrevo a mão para ver se me acovardo na hora de digitar, cada letra dessas, se na minha ânsia de terminar não deixo algo de fora. Se não me acovardo e deixo todos estes pensamentos guardados. Mas o blog é também uma gaveta. E eu quero que você me leia. Que quero que você me “ouça”. Eu quero que você me vença. – você vai me vencer, eu vou me apaixonar, não há mais o que decidir – Eu quero que você me cuide. Eu quero que você me ame. Eu quero amar você. Você diz que amor e incondicional são sinônimos. Você acha errado eu me permitir amar você só se você se permitir me amar também? Não estaríamos nós criando algumas condições para sentir o que é incondicional? Eu faço força para acreditar que se não der certo com você, haverá alguém “melhor”, - eu simplesmente não sei mais, gostar de alguém sem ser você – Eu sei você já disse que não pensa tanto em mim, portanto também não sente como eu. Mas você sente algo? Você consegue sentir a alegria na minha voz, quando eu ouço a sua do outro lado do telefone? – não adianta falar de amor ao telefone isso é ilusão... a fome de amar é real não se traduz em fios – Você sente a minha ansiedade quando estamos no mesmo ambiente? Eu te olho, sorrio, fico esperando você vir falar comigo. E você vem, ou vinha, já faz tanto tempo que não nos vemos, não tens tempo. Desculpe a repetição, mas Carpinejar disse que o maior antídoto para a falta de tempo é se apaixonar. “Aconselho a quem não tem tempo: Apaixone-se”. Os apaixonados sempre têm tempo. E antes que o tempo, e as folhas do caderno, ou a tinta da caneta acabem, eu preciso falar das coisas que resisto há tanto tempo para justamente nos dar tempo. Você me disse tantas vezes que tudo tem seu tempo e que era preciso ter calma. E nós quando será nosso tempo? Quando teremos tempo de amar? Desejo que você encontre alguém por quem você se apaixone, que ela seja a personagem principal da história e que o tempo , que o tempo seja o coadjuvante, um mero espectador talvez, assistindo o amor de vocês. Começo a quinta página. Acho que é hora de ir. De ir dormir o relógio marca 01:42 – não vou roubar seu tempo eu já roubei demais – Sem dúvida algumas coisas foram ditas brevemente, outras esquecidas. Especialmente neste texto não procure mensagem alguma nas entrelinhas, fui clara. – eu fui sincero como não se pode ser e um erro assim tão vulgar nos persegue a noite inteira – Sou meio viciada em sinceridade. Seja qual for a relação que estejamos construindo, porque eu juro que ainda não consigo definir, quero que seja baseada na sinceridade (mútua). Seremos então amigos sinceros, ou seja lá o que for. Apesar de certamente a versão “online” ter sido editada, não gosto de ler textos enormes na frente do computador. Mas outra vez coloca meus gostos do avesso. Como quando me fez gostar dos teus olhos, os primeiros claros pelos quais me encantei. Me sinto agora alguém que está discutindo uma relação, que pode terminar inclusive. Mas é uma relação que nunca existiu. Não se pode terminar o que não teve início. Deus sabe o quanto acreditei em nós. Você disse que não importava o que acontecesse estaria certo de que as voltas das nossas vidas estariam sob o controle de Deus.Concordo, entendo, aceito e acima de tudo creio. Só não quero ter de responder a quem me perguntar por ti, e acredite muitos perguntam, só não quero ter de falar algo como: Deus não quis. Não foi da vontade de Deus. Serei sincera, você não quis. Não fui alguém por quem valeria a pena faltar uma aula, trocar o compromisso do sábado à noite, ou dez minutos depois do trabalho. Não falo isso com tristeza, falo com consciência de que sou alguém que precisa de tempo e atenção. Mas afinal, quem não precisa? Sei que de certa forma você dispensou ambos a mim e como em fizeram bem, e ainda fazem, mas me soam como promessas que você jamais fez e, portanto jamais cumpriria. Estou me estendendo mais do que deveria talvez você esteja cansado, sua atenção se tenha dispersado, talvez eu não saiba prender sua atenção. Eu não soube fazer você me amar. Não soube pular o muro, invadir seu mundo. – onde há muros há o que esconder – Você foi minha maior surpresa, o sonho que pude tocar e não pude viver, quase uma decepção. Não pense que falo e ajo por impulso – apesar de ser impulsiva – se me estendo tanto em minhas palavras é porque confesso os medos e as alegrias de tantos meses, tudo amadurecido. Desejei que o fim fosse diferente, desejei que não houvesse fim. Desejei que não fosses mais um – tente ser algo mais e não apenas mais um – Mas no fim é sempre igual, sempre um ponto final – Pode ser que eu não tenha te amado. Mas o que senti foi único. – foi um sentimento que aos poucos tomou conta sem deixar espaço – Puro. Sincero. Racional. Intencional. Verdadeiro. Bom. Tão bom que quando começou a fazer mal, deixou de valer a pena. Não pare por aqui, estou terminando: - Eu queria te dizer uma coisa. E você já sabe. Mas acho que devo dizer assim mesmo. Assim nunca vai haver confusão a esse respeito. (...) Sei que não sente o mesmo, mas preciso dizer a verdade, assim você saberá quais são as suas opções. Eu não quero que um mal entendido nos atrapalhe. (Stephenie Meyer)

É a oitava página e o que concluo de tudo isso? Fomos, somos e seremos sempre especiais um para o outro. Quero um dia ser amada como já amei. Tenho dúvidas de que quando isso vier a acontecer, SE acontecer, eu ainda serei capaz de amar como já amei. E tenho medo de ser capaz. E tenho medo de não ser capaz. Acho que vou parando por aqui. Palavras são sementes. Eu vou plantando. Um dia vou colher. E você disse: Um dia, com o tempo, seremos melhores amigos. – O que é um motivo válido para amar uma pessoa? S.M. Clarice Lispector disse que escrevia sem expectativa de mudar coisa alguma. Não sou Clarice.

“Não quero deixar que as coisas não ditas me sufoquem” Luana Gabriela novembro 2009 Trilha: Um dia - Reação em Cadeia [Não vou dizer aquilo que não quer ouvir Para não ferir você Sei que as palavras de minha boca são duras Mas, não são pra valer. Sei que não tem jeito mas vou tentando mesmo assim E carregando a dor de ver o que nem começou Próximo de ter um fim, Estamos longe, longe Pra tocar o céu, Mas um dia virá que nós dois seremos, Uma dia virá]

[ Que eu tomaria o silêncio como um não ] CFA

“Ninguém sabe o ponto certo de se doar e quanto vale a pena. É verdade… Às vezes, não vale. A gente se dá sem querer nada em troca. Por quanto tempo conseguimos encher copos de água para o outro enquanto morremos de sede? Não será essa atitude uma maneira de simplesmente alimentar o egoísmo do outro? É cômodo apenas receber…“ . Débora Böttcher .
"Não precisa gostar de mim se não quiser. Não me diga nada - ou me diga tudo. Eu não me contento com pouco - não mais. Eu tenho muito dentro de mim e não estou a fim de dar sem receber nada em troca." Fernanda Melo

[50%]

50% te amo, 50% ainda não. Metade acredito em você, metade duvido de mim. Metade acho que inventei esse amor, metade acho que foi você quem inventou. Metade choro de raiva, metade sorrio triste por aí. Metade sei que nos falta tempo, metade acho que o que falta mesmo é vontade. Metade quero muito te ver, metade acho que nem quero. Metade fico feliz de ouvir sua voz, metade fico triste porque é só a sua voz. Metade fico feliz quando te escrevo, metade triste por achar que não deveria escrever nada. Sou 50% sua, os outros 50% ainda são meus. Metade quero te fazer feliz, metade quero ser feliz com você. Metade me imagino contigo, metade é melhor nem saber. Metade me passa segurança, metade me deixa insegura. Metade quero só seu abraço, metade quero mais que isso. Metade do dia eu penso em você, na outra metade eu sonho. Metade de mim entende você, outra metade me dá total razão. Metade acho que pode dar certo, metade acho que não. Metade acho que seria bom tentar, metade acha melhor deixar pra lá. Metade depende de mim, metade de ti. Metade podemos ser felizes a outra metade também.
Luana Gabriela
04/11/2009
Trilha: Best of you - Foo Fighters
[A vida, o amor, você morre para se curar
A esperança que dispara os corações partidos
Você confiaVocê deve confessar]

[unconditional things ]

É evidente que complicamos o amor. Pois o amor nos torna confusos, eufóricos, instáveis. Nada apaga a incerteza do começo. Quando se fica junto e ainda não se tem convicção do enlace. Qualquer sinal pode aproximar ou sacrificar o início. Nenhum dos dois confessa. Ambos rodeiam com palavras outras para se aproximar da palavra aquela. Já descobriram a intimidade, a empatia, as afinidades, mas há o medo de apressar. Mas há também o medo de demorar. Como é difícil acertar o ritmo de fora com o ritmo de dentro. O abraço serve para apartar o excesso de palavras, assim como no boxe o abraço serve para conceder trégua aos socos. Quanta violência na vagueza. É dormir de tarde e se acordar de noite. O amor rouba o fuso, o contexto, a simplicidade. É uma mudez carregada de fragilidade. Apaga-se a luz ou apaga-se o corpo para diminuir o receio de não ser aceito. O amor aperfeiçoa os defeitos. Os defeitos ficam charmosos, simpáticos, expansivos. O amor devolve a transfiguração. De repente, se está rindo sozinho, do absurdo de ver mais do que se deveria, pelo excesso de contigente da imaginação. Não se toma o partido, a iniciativa. Há o risco de errar feio e se enganar com a previsão. Calam-se e discutem por qualquer coisa porque não se tem a coragem de se discutir o que interessa. É um estado de nervosismo permanente, de vulnerabilidade extremada. Vontade de terceirizar a vida e deixar que os outros administrem e tomem as decisões em nosso lugar. Vontade de largar a casa, os móveis, mudar de identidade e retornar assim que tudo estiver resolvido. A indefinição é que faz o amor permanecer ou ir embora. E não existe modo de diminuí-la. A vida se faz de expectativas. Talvez a vida seja curta para cumpri-las, talvez seja longa para entretê-las. Não se pode esquecer o que aconteceu atrás, antes do amor. Que o amor seja indefinido para durar. Só se fala do que se tem a necessidade de compreender.
Fabrício Carpinejar
Trilha: Alanis - Head over Feet
[Você já me conquistou, apesar da minha vontade Não se assuste se eu me apaixonar da cabeça aos pés E não fique surpreso se eu te amar por tudo que você é. Eu não pude evitar, É tudo culpa sua.]

[ e me deixou esperando um sinal que me fizesse entender ] Square

Um novo amor desorganiza a casa. Não se acredita no que está vivendo para se acreditar mais. A reação inicial é a da incredulidade: ele não gosta de mim, é só amizade, não estamos juntos. Mas dentro ressoa o contrário: ele gosta de mim, é mais do que amizade, já estamos juntos. Os pensamentos brincam de esconde-esconde. Esconder o que se sente para os próximos, mas mostrar para si o que se conquistou. Jogo de convencimento, devagar e sensível. Logo bate a covardia: seremos enganados, não dará certo. Em seguida, a coragem revida: ele é sincero, dará certo. Somos nossos piores amigos, nossos melhores conselheiros. É uma insegurança tensa. Será que ele está pensando em mim? Será que ele me deseja a ponto de não fazer outra coisa? Não se admite experimentar sozinho o estado de paixão. Há uma gana pela cumplicidade. Não se entra na briga sem a recompensa de se descobrir acompanhada. A comparação torna-se inevitável. Fica-se a sondar sua intimidade e estudar seus sinais e caligrafia. Em algum momento, deve ter deixado claro que me ama e se busca a confirmação. Revisam-se as cartas, as mensagens, os recados. Mas não há ajuda, não há clareza no amor, tudo é falado com ambigüidade. Não se arriscam certezas. As certezas são duras e frias. As certezas agridem. O que ele escreveu pode significar ternura. Não significa que está a fim. Flutua-se no balbucio, no nervosismo até o próximo encontro, em que será possível identificar sua intenção. Mas nenhum encontro futuro vai assegurar o amor. A convivência não esgota o desconhecido. Fica-se a relembrar a ordem das palavras ditas, inclusive a ordem das palavras não-ditas. Evoca-se a seqüência das risadas e a confusão dos gemidos. São refeitas as contas, muda-se o método de enumerar e não se chega a nenhuma conclusão. Resta o mesmo resultado, a mesma indefinição infantil. Ele me ama ou não me ama? A impressão é que emburrecemos progressivamente, nada presta ou nos prende. Dispersivos, desenhamos apenas corações, florzinhas, estrelas e chapéus nos papéis amarelos. Esquece-se o vocabulário. Pioramos o raciocínio desde que se tentou definir o amor. Já estamos sofrendo antes mesmo de amar. Fazemos de conta que ele não existe para se surpreender depois. Fingimos que ele não entrou em nossa vida para suspirar com sua aparição. Guardamos sua foto no nosso quarto, voamos para sala e não agüentamos, voltamos para vê-la de novo, para confrontá-la com nossa imaginação. E dormiremos cedo para enganar a fome.
Fabrício Carpinejar
Trilha: Esquecer - Square
[Me deixei sorrir/Ao te ver
Me senti feliz com você
Cada minuto que passava eu te amava mais
E nada mais me importava...
E me deixou esperando um sinal
Que me fissese entender/Se era mesmo um ponto final
Se eu devia te esquecer]
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