- eu queria tanto te dizer das coisas que eu sinto -

" Não quero que nada de grande entre nós termine desaparecendo, porque não sabemos o que pode acontecer depois disso."
" Quando duas pessoas se encontram, elas devem ser como dois lírios aquáticos que se abrem lado a lado, cada uma mostrando seu coração dourado, e refletindo o lago, as nuves, e os céus. Não consigo entender porque um encontro sempre gera o oposto disto: corações fechados e medo de sofrimento."
Kahlil Gibran

- tudo pode acontecer, inclusive nada -

Me escreveste: "não consigo viver a minha vida, estou muito assustada". Não te acostumaste com os sustos da vida. A alegria parte de um susto. Me escreveste como uma criança que sacrifica algo que nem começou. Pensa que tua história está terminando, um livro que se enrola no marcador de página. Pensa que não haverá amor em tua volta, que andarás como um fantasma disciplinado a não chamar a atenção. Imaginamos sempre o mais difícil porque não reagimos com simpatia ao fácil. Não queres o fácil. Queres o simples. Queres conversar sem ser cobrada, avaliada, classificada. Queres um pouco mais de compreensão e menos isolamento. Eu te entendo, mas não te alivio. Estás tão acostumada a mergulhar em teu sofrimento, que perdeste o lugar de onde dói. Talvez o que dói está fora de ti e não reparaste. Estuda menos tuas dores. O vento nasce espora. Meu avô, como eu, também sofria de asma. Um dia ele me disse: "na falta de ar, toda fresta é janela". Que use agora as frestas para respirar. Depois procure a trava do vidro, em seguida, o trinco da porta, e, por último, a cintura do corpo. Envaideça a pele com seda, a inundação da seda. Tuas roupas cheiram a maçãs. Ultrapassa o vaivém da invisibilidade em tua casa. Não caía na armadilha da pena ou da autopiedade. Não procures motivos para te explicar. Não te sintas menor pela timidez ou por não entender o que sentes. Deixa o dia passar por ti como um estranho, porém não sejas uma estranha a passar pelos dias. A pedra é escura por fora, mas clara por dentro. Encha a boca com teu gosto, como quem beija a própria boca. O vento já nasce espera. O rio da voz sobe bem mais do que o permitido pela altura dos ouvidos. Viver é um medo alegre. Não viver é covardia. Estendo meu casaco na grama para sentares. Fabrício Carpinejar
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