[ Foi um dia de inverno ]

[parece que o amor chegou aí,
eu não estava lá, mas eu vi]
Trancada em casa num dia de inverno. Todas as janelas fechadas, a simples entrada do vento em casa já transmitia a ela a sensação de estar sendo invadida. Com as cortinas fechadas nem o Sol ousava bisbilhotar e conferir o que ela fazia ali. Passava dias a rever as agendas / diários da adolescência. Às vezes acha que amadureceu cedo e outras vezes acha que não mudou nada. Aprendeu a ser um pouco ela, um pouco quem ela queria ser. Vive a vida estreando paradoxos. Quer ficar sozinha, mas já se sente só. Quer ir morar longe de todos que a conhecem, mas sente que ninguém a conhece verdadeiramente. Ser jornalista não é ser escritor. Passa tardes na Biblioteca Pública relendo jornais antigos. O mundo pensa que se reinventa e esquece que tudo já foi inventado o que acontece é que coisas novas são apenas descobertas. Descobriu-se o remédio e a cura para quase todos os males, mas eu duvido que descubram a cura pro mal da solidão em meio a dois, três ou mais. Podem buscar nos laboratórios, nas igrejas, nos estádios, nas festas, podem buscar onde for, não vão achar. Acho que a cura da solidão só se encontra estando só. Um dia resolveu abrir a janela, o vento era frio e o Sol quente. Viveu um paradoxo novo em sua vida. E passou a amar o dia entendendo que não era um ser estranho no mundo, o mundo todo era estranho. Pessoas querem amor, mas não amam. Pessoas querem viver, mas matam. Matam o tempo, matam os outros, matam o amor, mataram até Deus. E chamam por ele quando veem que ele não fala mais e querem que ele volte. O tempo não volta. A vida que não foi vivida, na infância, na adolescência e tudo que se quis viver e apenas ficou escrito nos poemas, não volta. Não volta o beijo que queria roubar, o “eu te amo” que se quis dizer, o “não” que foi exaustivamente repetido àquele único homem que pareceu ver o que ninguém havia visto, e o que até agora ninguém mais viu, nem ela. Do lado de fora da janela viu crianças rindo, um casal namorando e não conseguiu achar graça. Só as palavras têm graça, têm força para levantá-la. Palavras a salvaram da morte, do coração ferido, da dor inexplicável, palavras a salvaram das dúvidas, dos medos, palavras a salvaram dela mesma. Se pudesse viveria escrevendo e escreveria para viver. Não lembra exatamente que sonhos tinha aos 10, aos 15, aos 20, parece que toda vida vivida foi pouco, mas às vezes também parece muito. Um paradoxo realmente. Quer um amor e quer amar, mas não acha que possa sentir esse amor que quer receber, nem acha que pode despertar um amor como o que quer dar. Gosta muito de café, mas tem dor no estômago quando toma. E fica assim entre viver, beber, escrever, e pensar, pensar e pensar...
Luana Gabriela
2009
Trilha: Alive - Pearl Jam
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