Talvez pela última vez

Você possui um talento enorme, que eu desprezei. Você usa a sinceridade como uma arma, igualzinho eu costumava fazer até me ferir. Você sabe meu bem, isso é tudo que vai nos acontecer. As feridas sangram e saram, mas as cicatrizes nunca nos deixam. Você poderia fazer cirurgias para melhorá-las, uma dor para curar uma lembrança dolorosa, te parece justo? Eu não sei. Você ainda se lembra do meu riso? Pois eu, bem, eu não me lembro. Embora o seu não me saia da mente. Tudo bem, querido vamos escrever uma nova história, quem sabe uma nova canção, há outros nomes a serem sussurrados durante a noite, você pode adivinhar por quem eu tenho chamado? Eu poderia apostar que mesmo em silêncio, meu nome ecoa de teus lábios, agora que eles vivem fechados e já não me chamam de amor, já não me beijam.

Você sabe bem como eu costumo exercer o desamor, e você também duvidou de minha habilidade. Aqui estou eu, com mais resiliência do que eu gostaria. E você sabe bem que eu, bom, como canta minha banda favorita, você sabe bem que eu poderia usar alguém como você. Eu só não sei bem, como usar este sentimento enorme de vazio preenchido que você me fazia sentir, e que eu continuo sentindo depois que você partiu. Você sabe que não costumo ligar, nem chamar para sair. A solidão sempre foi minha companhia mais fiel, mesmo quando estávamos juntos. Você me conhece o suficiente para saber que nunca vou traí-la, ela é minha melhor amiga.

Você que me conhece há tanto tempo ainda não se deu conta, que meu tempo é diferente, que eu conto a vida por amores, que eu não sei esperar, que eu desespero e pronto. Você bem deve se lembrar não era eu que ligava aos prantos pedindo abraços, eu sempre chorei em silêncio, protegida de qualquer olhar, qualquer um que pudesse ouvir as bobeiras que eu tinha pra reclamar. E eu nunca te ligava. Eu falava de você como se você fosse apenas mais um amigo, e agora nem isso. Esqueci de te dizer: és meu primeiro ex que não dá nem pra ser amigo. Espero que estejas feliz, uma categoria só tua. É um pouco daquela ironia, que você tanto adorava em mim. Tudo que eu não gosto e que você adora, as marcas na pele, a racionalidade, a cicatriz na orelha. Está na hora de eu esperar por alguém que goste do meu melhor, não do meu pior. E de alguém que me faça agir mais de acordo com o meu melhor, não com o que há demais terrível em mim. Alguém que me desperte para a emoção, para acreditar no inacreditável, para sonhar mesmo que com os pés no chão. E você sabe bem, que eu não consigo dizer não.



"I’m leaving you for the last time baby
You think you’re loving,
But you don’t love me
I’ve been confused
outta my mind lately
You think you’re loving,
But you don’t love me
I want to be free, baby
You’ve hurt me
You hurt me bad but I won't shed a tear

Estou te deixando pela última vez, baby
Você acha que está amando,
Mas você não me ama
E fiquei confusa
Fora de mim ultimamente
Você acha que está amando,
Mas eu quero ser livre, baby
Você me machucou
Você me machucou feio, mas não vou derramar uma lágrima"
 Warnick Avenue

Pra você que não me lê

Lá vai. Este é meu primeiro texto pra você. Justo pra você que não me lê. Que acha que eu devo largar essa coisa de poesia e romance, você que acha que isso me faz mal. Você que lê meus cadernos de rascunhos, meus textos brutos. Você com toda essa sinceridade merece a minha sinceridade também. Embora você tenha entendido tudo errado da única vez em que eu disse que te amo. E eu tive que ficar uma semana tentando te convencer que era amor de amigo, que inclusive é o mais puro amor que eu consigo sentir por alguém, aliás, talvez seja o único amor que eu sei sentir.

Escrevo pra você. Pra você que odeia as músicas que eu ouço. Que não gosta dos filmes que eu vejo. Que me obriga a assistir filmes de terror, que me liga de madrugada pra dizer que ganhou no futebol, que acabou de terminar. Pra você que me deixa dormir na cama maior, que sempre me dá os presentes perfeitos, que fez questão de esquecer que eu te fiz sofrer. Você que me liga pra contar que está namorando, justo pra mim que demorei meses pra te contar que estava, mas que te liguei assim que não estava mais. Pra você que me atende na sala de aula, no meio do expediente do trabalho, pra você que diz pra tentar ser feliz, e esquecer o que passou. Pra você que me ouve te ligar chorando, e que sempre me faz rir antes de desligar.

Eu, estou aqui. Te escrevendo, lendo nossa relação pelas minhas palavras. Você que me abraça forte, uma, duas, três vezes seguidas e eu nem preciso dizer porque estava com tanta saudade de um abraço forte. Você que reclama da minha comida, mas tem vindo almoçar comigo toda semana. Você que desconfia que eu te amei desde o começo, e não sabe que eu te detestei quando te conheci. Você que fez comigo um pacto de não nos apaixonarmos e de nunca ficarmos, e você que me fez descumprir o pacto mais idiota que eu fiz na minha vida. Você que me escreve pra saber como está o sol, como foi a viagem, como vai minha procura por trabalho. Você que deixa seu cheiro em meus dedos depois do abraço, que me diz quase toda semana “eu sou o cara perfeito pra você, admita”, você que eu acho que me ama sem saber, você que eu já achei que amava um dia. É para você que eu escrevo, e eu queria que alguém como você fosse o personagem principal dos meus textos, mas alguém como você não existe. E te escrever é o que posso fazer, este é meu primeiro texto sobre e para você, que não lê o que eu escrevo, mas lê minha alma e meus desejos. 


Luana Gabriela

Não sei escrever sem sentir

Já queria poder escrever uma história: um conto ou romance ou uma transmissão. Qual vai ser o meu futuro passo na literatura? Desconfio que não escreverei mais. Mas é verdade que outras vezes desconfiei e no entanto escrevi. O que, porém, hei de escrever, meu Deus? 

Clarice Lispector - O relatório da coisa

Martha Medeiros fala sobre seu novo livro Fora de mim e sobre o atual cenário da literatura nacional

Martha Medeiros é gaúcha de Porto Alegre, a cidade celeiro de grandes nomes da literatura nacional. Admirada por muitos escritores brasileiros, ela lança seu novo romance “Fora de mim”. Não há lançamento previsto para Curitiba, mas o 500g de Cultura conversou com a escritora sobre a nova obra, sobre literatura na internet entre outros temas. Acompanhe a entrevista completa, concedida por e-mail. E ainda um trecho do livro e uma pesquisa de preços entre as maiores livrarias presentes em Curitiba.
Lançamento do Fora de mim na Livraria Saraiva,em Porto Alegre

500g - Como foi o processo de composição desse seu novo livro: Fora de mim?
Martha - Comecei a escrever esse livro em 2008, numa época em que estava passando por uma tristeza semelhante a da personagem. Mas logo interrompi a continuação do livro e lancei o Doidas e Santas. Só agora, em 2010, é que retomei a narrativa, já desapegada daquela dor antiga e investindo fundo na ficção. O livro ficou completamente diferente do que eu imaginava no início.

500g - Sua obra Divã, já foi adaptada para o cinema e para o teatro. Há possibilidade ou alguma especulação de que o Fora de mim, percorra o mesmo caminho?
Martha – Não há nada conversado, mas se alguma atriz se interessar em montar o livro, estarei aberta a ouvir. O livro tem potencial para se desdobrar. 

500g - Esta obra é um romance, você já lançou livros de poesia, e é cronista em um dos maiores jornais do país: o Zero Hora. Em qual estilo literário você se sente mais a vontade, por quê?
Martha - Tenho mais prática com a crônica, ela faz parte do meu dia-a-dia. A poesia segue sendo um “hobby”. Mas é a ficção que hoje me dá mais prazer, pois é mais desafiador, eu ainda não tenho fôlego suficiente para contar uma história longa, então é através da ficção que me exercito mais, me aplico mais, dou mais de mim.

500g - Atualmente há milhares de blog’s literários em língua portuguesa. Muitos autores alcançam oportunidade para publicar através do trabalho na web. Você acredita numa geração de escritores vindos da web para os livros?
Martha - Acredito, claro. O blog não é excludente, não é um gueto, é apenas mais um veículo de divulgação de textos. Porém, como são muitos os blogs, é difícil encontrar alguém que realmente se sobressaia, mas há muita gente boa escrevendo. 

500g - Você costuma ler blogs literários? Se sim, quais?
Martha - Sinceramente, não acompanho blogs, não tenho tempo. Às vezes alguém me indica alguma coisa, dou uma olhada, mas não me torno fiel.

500g - Quais autores foram fundamentais para sua formação como escritora?
Martha - Tudo que eu leio, até hoje, me ajuda na minha formação, mas se eu tivesse que citar apenas um nome, citaria Marina Colasanti, ela foi decisiva na minha formação como mulher, mais do que tudo. 

500g - Que livro está lendo atualmente?
Martha - “Os íntimos”, da portuguesa Inês Pedrosa. Estou gostando bastante.

500g - O Rio Grande do Sul é conhecido por lançar diversos escritores reconhecidos nacionalmente, só entre os autores contemporâneos pode-se citar Luis Fernando Veríssimo, Caio Fernando Abreu, Fabrício Carpinejar e você. Há alguém que você possa apontar como expoente da literatura gaúcha atualmente?
Martha - Luis Fernando e o falecido Caio são ícones incontestáveis, assim como Lya Luft. Gosto muito do trabalho da Cintia Moscovich, mas quem realmente tem se destacado na paisagem literária gaúcha é mesmo Fabrício Carpinejar, que parece ser um vulcão em constante erupção, lida com as palavras de um jeito vigoroso e criativo, e sua literatura está não apenas no que ele escreve, mas na forma como vive, se veste, se expressa. Não existe distância entre autor e obra.

Para quem busca visibilidade no meio literário nacional, quais são suas dicas?
Martha - Paciência, antes de tudo, porque o mercado não consegue absorver tanta gente produzindo. Humildade, porque há aqueles que pensam que possuem mais talento do que realmente têm. E perseverança. Outra coisa: muita leitura. Muita! E ter uma vivência real, gostar da vida no que ela tem de bom e ruim, se jogar, ser uma pessoa que não veio ao mundo a passeio, mas que se entrega às suas emoções.

Leia abaixo um trecho do Fora de mim: 

“Eu sabia que terminaríamos, eu sabia que era uma viagem sem destino, sabia desde o início e não sabia, não sabia que doeria tanto, que era tanto, que era muito mais do que se pode saber, ninguém pode saber um amor, entender um amor, tanto que terminou sem muito discurso, foi uma noite em que você quase pediu, me deixe. Ora, pra que me enganar: você realmente pediu, sem pronunciar palavra, você vinha pedindo, me deixe, olhe o jeito que te trato, repare em como não te quero mais, me deixe, e eu, de repente, naquela noite que poderia ter sido amena, me vi desistindo de um jantar e de nós dois em menos de dez minutos, a decisão mais rápida da minha vida, e a mais longa, começou a ser amadurecida desde o dia em que falei com você pela primeira vez, desde uma tarde em que ainda nem tínhamos iniciado nada e eu já amadurecia o fim, e assim foi durante os dois anos em que estivemos tão juntos e tão separados, eu em constante estado de paixão e luto, me preparando para o amor e a dor ao mesmo tempo, achando que isso era maturidade. Que idiota eu sou, o que é que amadureci?”

O livro está à venda nas melhores livrarias de Curitiba.
Confira os preços:
Saraiva (Online): R$ 19,80
Livrarias Curitiba (Online): R$ 29,90
Fnac (Online): R$ 23,90 

Entrevista: Luana Gabriela
Foto: Rodrigo Lorandi - Fonte: www.saraiva.com.br

Jovens escritores e a web: Cah Morandi representa uma nova geração de autores nacionais

A web é um celeiro de novos talentos da literatura nacional. São inúmeros os blogs literários em língua portuguesa. Não há estimativa de quantos, já que a cada dia novas páginas são criadas e outras tantas deletadas. Um dos exemplos mais conhecidos dessa geração de escritores que alcança visibilidade na internet está Carine Letícia Morandi, mais conhecida como Cah Morandi. 

Com apenas 23 anos de idade já tem um livro publicado e é responsável por diversos blogs literários. Confira abaixo uma entrevista exclusiva com uma das representantes da nova literatura nacional.


Cah Morandi é uma das mais jovens revelações da literatura brasileira


Quando surgiu seu interesse pela literatura?
Sempre tive um gosto aguçado para a leitura. Desde sempre tive interesse em livros, em conhecer novos escritores. É um amor voluntário pelas palavras.

Quando começou a escrever em blog?
Comecei o primeiro blog em 2006. Iniciei não com a intenção de divulgar as poesias, mas sim para falar do cotidiano, da minha vida. Aos poucos fui partilhando os meus escritos, e aí foi se espalhando, tendo procura, e fui escrevendo mais também... até que o blog virou somente de poesias. Depois montei um de crônicas, que ainda está começando a andar.

Tem algum livro publicado?
Sim, tenho. Lancei em agosto de 2008, com mini poemas, o livro se chama "Borboletas no Estômago".

Porque a preferência pelo estilo literário de crônicas?
Na verdade a crônica é uma paixão que tenho desenvolvido desde 2008, muito forte na minha essência é a poesia. Mas como ler é um hábito que vai nos levando a novas experiências, a poesia as vezes não comportava tudo que tinha para ser dito.

Quais são seus escritores prediletos?
Tenho uma paixão louca por Clarice Lispector. Quem não tem, não é? Li Perto do Coração Selvagem com 13 anos. Claro que não entendi nada, e fui reler depois de adulta, mas desde lá ela ganhou meu coração. Hoje fazem parte da minha "biblioteca pessoal" Lya Luft, Carpinejar, Gabriel García Marquéz, gosto muito de Nélida Piñon e Saramago. E claro, tenho muitos blogueiros que gosto de acompanhar.

De onde vem sua inspiração?
Dons. São dons que Deus nos dá, e é Ele mesmo que nos capacita e aperfeiçoa.

Qual o ponto positivo e negativo da popularização dos blogs literários?
O ponto positivo é que muito gente boa, literalmente, saiu do armário. Vejo muitas pessoas se destacando, escrevendo muito bem, tendo boas experiências, sensíveis. É importante que surja essa diversidade, somos em milhares, e há vários tipos de leituras. Acho fantástico. O lado ruim disso tudo, são os plágios, acontece muito comigo, por isso é importante ter tudo registrado e se precaver com a possibilidade de problemas futuros. Tem mais uma coisa, iniciar um blog é dar "a cara para bater", acontecem pessoas muito interessantes, mas surge também críticas pesadas sobre o seu trabalho. Nunca me importei, não preciso provar nada para ninguém, está lá para quem quiser, minhas palavras são livres.

Você lê alguns blogs? Quais?
Leio muitos blogs, tenho salvo uma lista imensa nos favoritos do meu computador, todo dia dou olhada em alguns, tiro o tempo para a leitura. Tem muita gente com idéias fantásticas, com escritos incríveis. Vale destacar os blogs da Cris Souza - Blog Trem da Lira, Priscila Rodê - Mar Íntimo.   

Você acredita que pode vir a ser uma espécie de Fabrício Carpinejar de saia? Seguindo o mesmo caminho de sucesso que ele?
Seria ousado da minha parte. Fabrício é ótimo, acompanho sempre, compro os livros e devoro num dia. Ele tem um raciocínio íncrivel nas crônicas, e um final arrebatador. "O amor esquece de começar" e "Canalha" são meus preferidos. Inclusive "O amor esquece de começar" é meu livro de cabeceira, junto com o último da Lya Luft "Múltipla Escolha".

Quanto a mim, escrevo, publico. Não faço grande divulgações, mas meu leitores são muito fiéis e levam meu trabalho para muitas pessoas. Todos os dias recebo e-mails carinhosos, e o Twitter também tem colaborado muito. No orkut tem muita poesia minha acontecendo. Fico muito feliz que tenham pessoas se encontrando através das minhas palavras. Hoje não me arrisco a nada, deixo os planos para Deus.

Deixe um trecho de um de seus textos favoritos:
"Esteja atento, não há nenhum aviso prévio, nenhum sintoma antecedente. Quase nem vai lembrar de muitas coisas, apenas da última vez que esteve sobre a plataforma, da última vez que sugou o ar, da última luz que acendia na cidade. Sempre será assim, fazemos as coisas de forma diferente quando as fazemos a última vez.

Há apenas um dia decisivo em toda nossa vida: aquele em que optamos por nosso futuro. É o dia do vôo. Tudo que vivermos depois da escolha será nossa vida inteira."

Qual o endereço dos seus blogs?

De crônicas é o Um olhar para sentir http://umolharparasentir.blogspot.com/ . E tenho o de poesias: http://carinemorandi.blogspot.com

Quem quiser entrar em contato com você pode fazê-lo de que forma?
Através dos blogs e no Twitter também (@cahmorandi). Além de e-mail, claro: poesia@cahmorandi.com.br. Fiquem à vontade!

Há algum projeto literário seu em andamento?
Há pretensões. Estou com muita vontade de publicar um livro somente de crônicas, e em pequenos passos, tenho trabalhado para isso. Tenho paciência, para tudo há um tempo.

Quais são seus conselhos para quem faz literatura na internet?
Saibam usar essa poderosa ferramenta, registrem seu trabalho antes de colocar na rede, leiam outras pessoas, compartilhem textos, façam parcerias, dê possibilidade para ser encontrado. Não faça mil artimanhas para chamar as pessoas para seu trabalho, se ele for bom e interessante, com certeza será buscado. Ah, e não desistam... virá muita gente fazer críticas destrutivas, mas pelas boas pessoas que serão encontradas no caminho, valerá a pena!


Redação e Entrevista: Luana Gabriela da Silva
Foto: Cah Morandi

Verbo


Amor é verbo. Cuidar, proteger, abraçar, entender, aceitar, querer.
Amor é verbo que só pode ser conjugado por "nós". 


Luana Gabriela
04/11/2010

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Amor é verbo. Cuidar, proteger, abraçar, entender, aceitar, querer.
Amor é verbo que só pode ser conjugado por "nós". 


Luana Gabriela
04/11/2010
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