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Eu não sou tão triste assim é que hoje eu estou cansada
Clarice Lispector.
"Silêncio. Preciso morrer. Já morri algumas vezes, á tempos que não. Às vezes é preciso, é preciso morrer para viver. Ando com saudade de Deus". Clarice Lispector

[ e se eu disser que já não sinto nada ]

Não me pergunte hoje como vai o dia. Não me pergunte se tenho novidades. Não tenho mais nada. O que restou são destroços de uma vida que eu não construí, e já estou desconstruindo. Não que isso seja triste, é apenas uma processo doloroso. Achar que sou alguém e sirvo para tal coisa e depois ver que não sou ninguém e não sirvo pra nada. Ou ainda não sei bem certo pra que. Estou desconstruindo sonhos, planos, projetos. Começo com a carreira, a profissão escolhida, passo pelos sonhos da adolescência, do início da juventude, termino desconstruindo as ilusões sobre o verdadeiro amor e desconfiando da fé. Derrubar os muros que me cercavam, o muro da certeza e segurança profissional, muro da fé em si mesmo, muro do reconhecimento social, tudo colocado a baixo. Este é o primeiro passo, para construir uma nova vida. Mas o maior problema não é ver tudo em que se acreditou e tudo para o que se dedicou durante anos dar em nada, o maior problema é já não ter forças pra começar a construir novas coisas. Na verdade nem saber o que deve ser construído. Que sonhos sonhar? O que fazer? Pra onde ir? Sem ninguém pra recorrer, pelo contrário a sina de ser a força, de ser quem ouve e aconselha não mudou. Nada muda. Até quando? Eu preciso dizer que não agüento mais, que todos os dias choro um pouco e às vezes nem sei bem porque. Não sei dizer se ainda acredito que o amanhã me reserva algo novo, todos os dias são tão iguais. Às vezes surge uma dor nova, uma outra dúvida, um pouquinho a menos de fé... um pouco mais de realismo. Uma luta aqui, outra ali e nada se resolve pelo contrário tudo parece piorar. Como ignorar a dor dos outros e me deixar viver a minha própria, que ninguém vê? Se estou sempre sorrindo não quer dizer que eu esteja sempre feliz. Hoje tudo que eu consigo ver é um monte de sonhos frustrados, um monte de boas intenções que não passaram disso, de cicatrizes escondidas, que só eu vejo. E o que ouço são as vozes me cobrando, fez isso, fez aquilo, “você tem que acreditar” eles me dizem. Acreditar em que? Em vocês? Não acredito nem em mim. Eu espero que tudo mude, mas não vejo como isso pode acontecer. E depois de tudo isso dito, as coisas continuam exatamente como estavam. Como será amanhã? Não há resposta. “Hoje o dia começou de um jeito nada especial. Hoje o sol não acordou. E deixou tudo tão normal. Só um café bem forte pra acordar. Só com horário pra chegar. Hoje o tempo não passou e o dia nunca chega ao fim. Hoje ninguém se lembrou que não precisa ser assim. Não importa quão ruim que esteja você pode fazer com que seja um dia perfeito. Um dia perfeito você pode fazer. Hoje o dia começou de um jeito nada especial. Hoje a história não mudou, mas pode ter outro final.”

[ medo ]

Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê. O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, ... o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade. E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro. Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos. Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo. Martha Medeiros

[despedida]

Existem duas dores de amor:A primeira é quando a relação termina e a gente,seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva,já que ainda estamos tão embrulhados na dorque não conseguimos ver luz no fim do túnel. A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços,a dor de virar desimportante para o ser amado.Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também… Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.É que, sem se darem conta, não querem se desprender.Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir, lembrança de uma época bonita que foi vivida…Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,que de certa maneira entranhou-se na gente, e que só com muito esforço é possível alforriar. É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”. Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância,mas que precisa também sair de dentro da gente… E só então a gente poderá amar, de novo. Martha Medeiros

- Qual é o seu tamanho? -

Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto.Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes.Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho. Martha Medeiros

- where is the love? -

Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito. A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender. Martha Medeiros
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você.

- saudade -

Dor no coração. Dor de saudade. Estes anos passaram rápido demais. E o que mudou? Meu modo de ver a vida? Meu modo de viver? Nossos últimos momentos em frente à TV assistindo o jogo do Corithians, suas últimas palavras pra mim: "Sabe se eu fosse torcer pra algum time seria pro Corinthians". Sabe se eu pudesse teria pedido pra você fazer mais um café, pra ficar até o fim do jogo e não sair do meu lado. Sabe eu queria muito ter segurado suas mãos, eu senti que eu deveria ter feito isso. Seria eu, ao invés de ti. Acho que você faz mais falta do que eu faria. Eu me culpei por muito tempo, e mesmo que eu ainda não tenha entendido o recado que Deus me deu aquele dia, eu sei foi melhor assim. Eu não me lembro de ter dito a você enquanto estava aqui mas ... eu te amo. E o consolo é saber que você e eu nos encontraremos já que você trilhou o caminho que hoje eu ando. E eu vou poder te abraçar de novo.
Desisto. Eu não quero magoar você. Eu não quero mais sofrer.
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