sem começo, só um fim

Eu não sei começar. Eu nunca soube. Quatro anos. Eu tenho me dedicado a você. A te fazer sorrir, a secar tuas lágrimas, a ocupar tuas noites vazias. E agora esse silêncio. Algumas pessoas podem descobrir que amam quando perdem. Eu não. Eu descobri quando abandonei. Abandonei você, abandonei a gente, antes que eu me perdesse do que eu sei que não poderia perder nunca: o que eu mais amo em mim mesma. 

Eu tentei te dizer desde daquela noite, eu havia acabado de chegar na sua casa, nós receberíamos alguns amigos, eu estava na cozinha preparando algo. E uma frase vinda do quarto, me fez logo largar tudo. Pegar minha bolsa, me despedir de quem estava na sala, e sair. Você não sabe, aquela noite eu passei no mercado mais perto da minha casa, comprei todas as bebidas que meu dinheiro poderia comprar. Bebi. Então eu caí no sono. 

No dia seguinte eu já não sabia o que doía mais, minha cabeça ou meu peito. Todas essas palavras que você nunca vai ouvir me sufocam desde então. Já faz um tempo. Eu decidi que não valeria mais a pena. Eu quis deixar você. Mas então eu fui relembrando do quanto você foi essencial pra que eu ainda estivesse aqui. E aquela noite terrível de seis anos não fosse o fim. Eu brinquei de me deixar levar, e você me levou de mim. Eu não quero ser a que pede mais. A que sempre acha que dá mais. Se o que você me deu em todo esse tempo, é seu melhor como você diz, então... eu não posso esperar mais. E isso tudo, que é seu melhor, eu não preciso mais. Não mais das suas migalhas. Eu não quero mais brincar de amar. Eu não quero mais brincar de ser amada. Porque hoje, hoje eu sei, é possível que seja de verdade. Claro que é, mas não com a gente. 

Se eu nunca disse, é porque eu nunca tive certeza. Mas você nunca disse também. Eu não vou passar outra noite em silêncio do teu lado. Nem esperando que de manhã a gente perceba que a gente pode ser pra sempre. Porque não podemos mais. 

Mais do que todas essas palavras podem dizer, é esse silêncio que ficou entre nós e que nem eu nem você ousa quebrar. 

Não mais. 
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