FIM

Eu queria machucar você. Eu queria te dizer coisas absurdas que te doessem fisicamente como teu silêncio doeu em mim. Eu queria esfregar mais uma vez na sua cara sua hipocrisia, sua inutilidade, e o desprezo que tenho por ti, desde aquele dia.

Eu jamaia desejaria que você passasse pelo que eu passei, menos ainda que passasse sozinho, como eu passei. Mas a vida veio e você está sozinho com a dor da perda. A dor do inevitável.

Ela foi embora. Ele foi embora.

Nós ainda estamos aqui.

E, no entanto, sinto, a cada dia, morrer um tanto mais da minha esperança de que a gente possa se entender.

E sentir tudo isso, e não estar ao seu lado quando você chora me faz chorar também. E aí é que está a diferença entre nós. Eu quis e não pude. Você pode e não quis.

Por um momento eu me satisfiz sabendo que sofria sozinho a mesma dor que eu senti. Saber que me escreveu e que eu, firme no propósito de te esquecer, simplesmente ignorei, e que você teve de lidar sozinho com essa dor.

Mas depois me brotaram lágrimas, eles se foram. E nós que poderíamos ter sido tanto e morremos antes mesmo de nascer?

Hoje eu poderia dizer que te amo, não me doesse tanto o passado.

O que hoje houve, tirou a pedra do meu coração, e não havia mais mágoas lá.

O amor - o nosso - ressuscitou.

minúsculos

te escrevi só pra dizer que ainda te desejo coisas boas. te escrevi isso três meses depois de ter escrito tudo que eu estava sentindo há tanto tempo. você respondeu. permaneci em silêncio, apenas lembrando, quase diariamente, o que me fez tomar a decisão de me afastar, de sair da sua vida e te pedir pra sair da minha.

e hoje, quando você respondeu, você escreveu o que todo mundo me dizia pra nunca esperar que você fizesse: você pediu desculpas, assumiu, com todas as palavras, que eu faço falta. chorei. como não fazia há mais ou menos três meses. chorei por perceber que infelizmente, essa falta que você sente, eu não sinto. e dói não poder dizer eu também sinto sua falta. e eu não sinto agora, porque durante quase dois anos eu senti sua falta, quando ainda estávamos juntos. e isso sim, era triste demais. isso me machucou demais. 

de maneira alguma você deixou de ser importante, eu deixei de te desejar coisas boas, só que eu as desejo pra mim também e há muito você já não estava relacionado às coisas boas. era você e a irritação. você e o sentimento de abandono e traição. você e o sentimento de desprezo. eu me afastei, eu te afastei e junto também foram embora todos esses sentimentos ruins. assim, sem eu perceber, exatamente como foram embora os sentimentos bons do início. você e o conforto. você e a aceitação. você e a segurança. você e o apoio. 

me apropriando do título de garcia marquez, isso aqui é a crônica de uma morte anunciada. eu previ cada um desses momentos, durante todos esses anos. e nada mais me surpreende quando o assunto somos nós. mas tudo, exatamente tudo, ainda me emociona, me tira de mim, ou me coloca de volta no prumo. você. eu. a vida e suas incertezas. eu e nosso quase amor. eu e nossa quase amizade eterna. eu, você e tudo que nunca vamos entender. 
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