“O acontecer do amor e da morte
desmascaram nossa patética fragilidade”
Caio F
E senti uma dor enorme. Não contive as lágrimas. Talvez eu pudesse diminuir a dor dele. Sentir-me fraca e triste pela dor que não é minha. Talvez seja isso o que chamam de compaixão. Penso na morte todos os dias. Alguns dias penso com medo, em outros com desejo. Tão presente na vida que nos cerca. Nas notícias estampadas nos jornais, nos romances policiais e por vezes constantes em nossos telefonemas e emails.
A morte torna tudo tão pequeno. A dor do amor que acabou, do amigo que traiu, do fracasso profissional, soa tudo tão egoísta, quando ao meu lado chora a mãe que descobre no ventre o filho que parou de viver, um dia antes de conhecer o mundo. Quando jovens choram a morte de outros jovens. Quando um país inteiro chora por milhares de mortes. Pensar na morte me faz viver cada dia melhor. Consciente da minha pequenez. Consciente de minhas preocupações inúteis, consciente do valor do ar que nunca pedi pra respirar e que nunca me faltou.
E quando alguém se vai fica um vazio, na cadeira ao lado, na mesa de jantar. Fica um vazio, às vezes culpa. Ficam perguntas: como? Porquê? E nessa hora o vento sopra, enxugando as lágrimas, o vento acaricia o rosto, o vento é o consolo. Deixei com o vento o papel de saber-te amado.
O vento que é um sopro de vida. Um assopro para a ferida parar de arder. O vento é o que preenche aquele vazio que fica. O vento é o que leva embora a culpa. O vento é que traz o cheiro da flor, é o que move seu cabelo quando você já não se sente vivo, inteiro. O vento que está em todo lugar que toca tua face. Pelo vento sei que você sente agora a vida entrando, enchendo teu peito, te fazendo suspirar. E suspirar faz vento.
Luana Gabriela
20/01/2010
"Um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele.
Guardei a minha no bolso e fui.
Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu me esquecesse de mim”
Caio F.