[ e a palavra que me cura ninguém vai dizer ]

[É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas.] Clarice Lispector Hoje eu tenho muito a dizer. E não me acovardo buscando palavras alheias para expressar o que sinto, penso e vivo. Sou fraca. Fui e continuo sendo. Você foi minha maior fraqueza, e ao mesmo tempo minha força. A realidade mais cruel e o sonho mais lindo. Quando você me olhava, no início, eu desconfiava sempre do que parecia que você dizia durantes os silêncios daqueles olhares. Como o tempo eu fui imaginando mais do que você olhando e tudo se perdeu dentro de mim. Como me doeu reconhecer que eu estava gostando de você, e ter de dizer isso aquele que antes eu amei, bem ali diante de mim: Você gosta dele? E quase chorando – exatamente como estou agora – eu reconheci: Sim, eu gosto! “Porque vocês não estão juntos então?, ele me perguntou. Foi a resposta mais covarde que eu dei e culpei Deus. Deus não deve querer, eu acho, foi minha resposta. Hoje não penso assim.Como Deus pode não querer nos ver felizes? Eu quis tanto amar você. E ainda acredito que não houve em minha vida, alguém que merecia mais esse amor do que você. Mas também penso que não há alguém que o tenha desperdiçado tanto, como você. O pouco que te dei, pareceu o suficiente, e você já estava bem, não precisava de mais. Não haveria nada mais. Eu quis te curar, mesmo quando quem estava ferida era eu. Quem sabe não poderíamos nos curar juntos? Fico pensando em tantas outras coisas pra dizer, que me perco, me perco..te perdi. E fico me perguntando se mais uma vez foi por medo, fui eu, foi você, o que fez com que tudo não passasse de nada? O que tivemos de concreto? Nada. E no entanto foi a coisa mais profunda e intensa que se passou comigo, e sei que não é o mesmo com você. Nunca é. Eu sempre penso mais, me doou mais, acredito mais, tento... Eu sempre. Me divido entre o “tudo bem” e entre o “nunca mais”. Minha maior alegria e minha maior decepção juntas num mesmo ser, eu não poderia suportar. Não é coerente. E todos esses seus silêncios, que me soam como um lindo “Não”.Como um lindo “não quero falar disso”. E eu que sempre amei demais, eu que sonho demais, que tenho medo demais, achei que tinha encontrado alguém como eu. Sorte ou azar, encontrei alguém igual demais. Com os mesmos sonhos e os mesmos medos. Seria inútil pedir para ler esta história do seu ponto de vista, seria? E esse medo que eu sinto de ficar muito longe, mas essa proximidade que não aumenta. Diga que sim, diga que há outra alternativa além daquelas que já vivi. Serei fraca por continuar esperando ou fraca ao desistir? Mas ainda há coisas que não consigo dizer...só sentir. Luana Gabriela 09/10/2009 "Quero te dizer também que nós, as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos conseqüências, censuras, sofrimentos que talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A verdade, meu querido, é que a vida, o mundo dobra-se sempre às nossas decisões." [Lygia Fagundes Telles]

[ vitória? ]

"Mas... olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.”
Clarice Lispector – Uma aprendizagem
Trilha: Amado - Vanessa da Mata
[peço tanto a Deus para esquecer/
mas só de pedir me lembro]
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