Não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer ...

Como se fosse possível eu hoje silencio, e grito, a falta exausta que sinto da Porto Alegre que ainda não conheço. Do vento, que toca o cabelo dele, que faz frio e lhe arrepia os pelos. Como se fosse possível eu hoje embarco e me aproximo, “põe mais um na mesa de jantar que hoje eu vou pra ir te ver, desliga o som dessa TV pra gente conversar”. Como se não fosse o inverso a vida virando verso e não dar vida às palavras rimadas de alguém que não nos conhece,meu bem.

E como se não fosse tudo mesmo ao inverso quando o assunto sou eu ao teu lado, meu lado vazio, meu lado concreto, meu lado discreto, tenho dois lados, e me sinto uma só, e completa, mesmo quando falta você. Não deveria ser assim, me dizem. Mas sinto que essa saudade que bate é ainda mais  verdadeira por não ser necessidade, só vontade.

E como se fosse possível te escrevo uma mensagem “te extraño”, meu quase argentino. Ex-cabeludo, sobrancelha grossa, mãos de seda, pele branquinha,coração de papel. Te escrevo não só agora, porque o vento bate, porque a janela faz barulho, porque a caneta falhou, te escrevo porque penso que o amor não acabou, te escrevo porque ainda existem as pontes. Os aeroportos, porque ainda me ancoro em você, meu porto. Meu porto, alegre mesmo quando triste, por saber que em algum lugar do Sul  alguma guria existe que ainda pensa em ti.

Como se fosse possível que essa guria fosse eu. Como se fosse possível que amanhecêssemos sobre o céu de outono, amanhã.


Luana Gabriela
19/03/2010
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