Sobre cafés, tortas e pessoas doces

Sentada olhando fixamente aquela caneca de café – lembrava-se de como havia se viciado naquela substância – não o café. Naquilo que ela não sabia ao certo o que era, mas lhe trazia topor, alívio, riso onde há pouco ardia a dor, escorria o pranto. Sabia que era assim como uma droga que se conhece os efeitos ruins, mas se deixava levar pelas boas sensações, imediatas.



Para acompanhar o café, um pedaço de torta de cereja “sweet cherry pie”, ecoava em sua mente o refrão. Mas o que tocava em seu mp3 era outra coisa - She had something to confess to/ but you don't have the time so look the other way/you will wait until it's over/to reveal what you'd never shown her too little much too late… Ecoava também tanta coisa boa que ele lhe havia dito e ficava a certeza de que o próximo teria de se esforçar para superar aquela originalidade – decorrente daquela inteligência - pensou e descobriu que a inteligência é afrodisíaca. Inteligência com a qual não contava quando o chamou de chocolate-no-meio-do-regime, e riu ao lembrar. E sentiu vergonha como se fosse a primeira vez que pensasse naquilo, mas não era. Ele entendeu o que ela quis dizer. E ela sentiu vergonha muitas outras vezes, ao falar, pensar, ao sentir saudade quando um dia ele sumiu.


Pensou, esforçou-se, para lembrar como exatamente aquilo se deu, o início se perdeu. Lembrou da antipatia dos primeiros dias, de uma revista, de alguns filmes e de um mundo novo apresentado a ela – e no meio daquelas lembranças todas valorizou o gibi antigo que havia ganho.

O tempo veio, como diria Caio F., assim como a distância. E ficou aquele novo e velho sentimento de conhecer alguém e não conhecê-lo de verdade nunca. Porque ás vezes o que fica são apenas as palavras ditas e escritas que o vento da distância nunca leva embora. E ficou a leitura – depois da recusa do ensino médio - de Dom Casmurro, para decifrar os olhos de ressaca que ela tanto o ouviu falar....


(...) a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que (...)
Machado de Assis


Luana Gabriela
Março 2010

Arte forte e delicada (como a mulher contemporânea)

Forte na estrutura e de essência delicada são características comuns a criadora e a criatura. Representante do mais popular “tipo” de mulher do presente século, a designer Désirée Sessegolo, - empresária, mãe, etc. - realiza desde o início deste mês sua primeira exposição individual- Anima! As peças de vidro trabalhadas com técnicas específicas são expressões artísticas de beleza única. Tanto, que encantaram a crítica de arte Maria Leticia Vianna, Doutora em Arte pela USP e Sorbone.

Confira abaixo entrevista exclusiva com a artista e saboreie o petisco de sua obra doce como descreve Maria Letícia Viana, no texto de abertura da exposição. (Confira o texto completo no site)


Desde quando trabalha com criação de peças de cerâmica e vidro? Porque os escolheu como material base para o seu trabalho?
Há 3 anos iniciei com cerâmica e em seguida com cerâmica com queima em Raku e depois com vidrofusão. Sempre sonhei em trabalhar com materiais onde eu pudesse dar vazão à criatividade com total liberdade de criação... e a cerâmica foi excelente para mim. O vidro foi um passo a mais, onde desenvolvi uma nova técnica de fusão.


Qual a sua inspiração para a escolha das cores, formatos,para a criação das peças?
A fonte de inspiração é a natureza em conjunção com a alma e o espírito. As formas são sempre orgânicas e simples para evideciar a textura de cada peça; e as cores intensas, pelas diferentes sensações que geram no observador.


Sua primeira exposição individual (Anima!) está aberta, em Curitiba. Qual a sua expectativa com relação a esta experiência?
A realização pessoal é enorme ao ver que a minha criação agrada a outras pessoas. E ainda maior ao receber críticas favoráveis de grandes conhecedores das artes visuais e da mídia nacional. Minha expectativa é de tornar o meu trabalho conhecido e com isso, colocá-lo em galerias e em exposições fora do país.


Peça de Désirée Sessegolo - Divulgação

Qual sua visão do espaço que é dedicado às artes plásticas aqui no Brasil e especificamente em Curitiba?
A dificuldade começa com a pouca oferta em materiais e ferramentas, que além de escassos, são caríssimos. Depois vem a falta de incentivo à produção artística.

Há alguma outra exposição em vista? Quais são seus próximos projetos?
Tenho planos de expor em outras capitais brasileiras e no exterior, com foco na Itália pela forte tradição vidreira.


Para quem quiser contatá-la, quais são as formas?
Através do site http://www.ceramicaevidro.com/ e do e-mail: desiree_sessegolo@hotmail.com


Serviço:
Exposições: Anima!
Local: Museu Alfredo Andersen (Rua Mateus Leme, 336)
Horário de visitação: de terças às sextas-feiras das 9h às 18h
Sábados, domingos e feriados das 10h às 16h.
Data: até 23 de maio
Entrada gratuita
Informações: (41) 3222-8262

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