Eu não sei lidar

Você não aguentaria um só dia vestindo a minha pele. Assim Lucas Silveira começa seu livro "Eu não sei lidar". E damos graças por isso. Ele não saber lidar nos mostra que também nós não sabermos, não é grande coisa. E ele não saber lidar foi o que o fez chegar até aqui. Uma maré viva de sentimentos que invade o leitor.

Não vou mentir, sou fã da Fresno, banda do autor. E li parte do livro ouvindo o DVD de 15 anos da banda.  Lembro de ouvir os caras tocarem em shows pequeninos aqui em Curitiba, pagava-se 10 reais e ouvia-se 15 bandas, era quase assim. Entre Dance of Days, Sugar Kane, OsKão, Debutantes 99, Pull Down e outras tantas, Fresno foi, desde sempre a que me dediquei a me manter informada. 

Não importava o que minha mãe me perguntasse depois de uma matéria tendenciosa e sensacionalista do Fantástico falando sobre os emos, citando a Fresno. Eu era emo, se ser emo fosse ouvir Fresno. Inclusive, se ser emo é sentir, faz sentido sermos emos e fãs da Fresno. A banda é movida pelo sentimento e fala disso. Todos eles: amor, revolta, dor, fé - há Deus em cada verso, porque Deus é poesia. 

Ter em mãos, sei lá, 10 anos depois, o livro do Lucas, foi uma catarse. Assim como assistir ao dvd, já que acompanhar saga do Lucas na luta por apoiadores desse projeto foi uma constante, principalmente pelo Twitter. A internet faz a gente acreditar que o cara que a gente curte o trabalho é um chegado nosso. Mas o trabalho do Lucas, me faz ter certeza de que mais que um chegado o cara é um abençoado, iluminado - amaldiçoado?- pelo dom de sentir. E como acredito que Deus é bom, esse dom vem com o coração de artista, e sentir fica menos difícil quando se pode transformar o sentimento em arte.

Lucas escreve, canta, toca, desenha. 

Lucas é um reflexo de uma geração que se busca, se procura e se encontra. 

Antes a gente se encontrava em frente ao 92 graus, ao Hangar. Agora com o corpo mais cansado, a grana mais comprometida, a gente se encontra é sentado no sofá de frente pra TV onde assistimos o DVD e onde o livro, já acabado, se encontra. 

O lançamento do dvd e do livro são nossa Redenção. A Fresno não visa dinheiro. Ela tem vida. Ela sobrevive e acredita. O corpo está cansado, mas a voz e coração, não. O resto é nada mais. 


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