Tatuagens

“Desde que eu te esqueci eu estou tão outro alguém
que eu nem sei porque é que você não vem” (Clarice Falcão)

Dois anos sem você. Marco a data como um fim, mas foi um recomeço. Setembro chegava com suas cores, cheiros, flores. E dentro de mim o frio e o escuro de um inverno que parecia sem fim. Me cuidei. Fiz logo o que você disse que jamais aceitaria em mim, como se contrariar sua vontade fosse minha maneira de dizer que eu também não te queria mais, que não tinha volta. Me tatuei. Um mês depois de tudo acabar. Fiz o símbolo que revela o que sobrou de mim, depois que você me deixou. Sobrou o vazio.

Nesse tempo, mudei de profissão. Mudei a cor de cabelo. Mudei de endereço. Mudei por dentro. Mudei tanto que não me reconheço. Hoje sou capaz de entender que me deixar entrar no seu mundo foi sua maior prova de amor. E entender que você só me deixou porque eu estava ocupando espaço demais aí dentro, só me faz entender que esse espaço era o que você me deu. A gente aprendeu junto a amar e ser amado. E isso nem o tempo, nem laser, nem novos amores podem apagar. 

Eu não esqueci nenhuma palavra. Nenhuma briga. E nem minha profecia: este pode ter sido nosso último beijo. Eu aproveitei o seu melhor. Eu me sentia protegida do mundo ao teu lado, e fui me sentindo cada vez mais insegura longe dos teus braços. Até que a distância dos nossos mundos virou física e, isso não pudemos suportar. Ouvi no rádio a música que você disse te fazia pensar em mim, recordei nossa trilha, nossos momentos nossas declarações sempre realistas: te amo hoje. Era o que de melhor eu podia te dar, e o melhor que você podia me dar. Eu demorei dois anos pra conseguir estar com o meu melhor de novo, ou o meu novo melhor.


Me sinto inteira. Não espero que alguém me complete, espero alguém me transborde. Estou completamente pronta pra aceitar alguém na minha vida, a sério, como não fui capaz em todo esse tempo. Aceitar. Estar. Amar. Fiz uma nova tatuagem: “Ter fé e ver coragem no amor”. 
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