- Não tem chororô(...) acabou -

“Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina – ela repetiu olhando-se bem nos olhos, em frente ao espelho. Ou quando começa: certo susto na boca do estômago”. Caio F. Quase seis anos do que alguns chamam de “amizade colorida”, nós dois nunca demos nome. Pouco mais de um mês sem amizade, só colorido. E chamamos de amor. E de repente olhamos pela janela, e nossos céus – aqui e aí – estão cinza. O tempo mudou tão rápido, coisa típica de onde eu moro. E sabemos que tua cidade não é também tão certa quanto à definição das estações. E então o céu escureceu. Um céu sem cor, como canta aquela banda que nós tanto gostávamos. Eu esqueci de te dizer que eles voltaram e que vão tocar mês que vem naquele bar que a gente já conhece tão bem, apesar de não irmos lá faz tempo. Mas agora tanto faz. Jamais poderíamos marcar de ir, nosso namoro era ( e pela primeira vez escrevo no passado), era na folhinha. E não deu certo nem de longe, nem quando estávamos perto. E hoje, ainda que a dor esteja se instalando, aos poucos, sei que é melhor esta distância. Esses quilômetros físicos e esses quilômetros de distância por dentro. Entendo tanto nossos motivos, nossos medos e nossa preguiça. Sim, nossa preguiça. Porque já nos conhecemos tanto que parece que recomeçamos sem nunca termos terminado, há anos atrás. Estranho esse nada que sinto agora. Embora eu possa sentir que com o tempo, com o vento que aumenta, com a chuva que vai cair, a dor está chegando. Mas não agora. Não hoje. Hoje ficou um sentimento estranho, que mistura serenidade e incompreensão. Como se eu já soubesse que isso ia acontecer, mas tivesse acontecido pelos motivos errados. Você me diz que as pessoas que já sabem do nosso fim, sabem do fato, mas não sabem o porquê ele aconteceu. Eu te digo que elas não podem saber o que nem eu sei. Você diz que também não sabe. Então restou esse não saber. Não saber o que fazer com as fotos, as cartas. Como falar de você? Continuo te chamando de melhor amigo? Te chamo de ex? Te chamo quem sabe de ex-melhor amigo?( Existe isso?, me perguntaram ontem). E tudo que começa confuso, acaba confuso. O que começa errado, emaranhado, não pode acabar certo, desenrolado. Aprendemos esta lição. E chego a pensar que vamos tirar dez nas provas. Nunca mais repetiremos esses erros. Seremos em breve mestres nesta matéria. Mas que matéria é essa? Teoria do amor V? AmorxAmizade – teorias. Danem-se as teorias. Aprendemos empiricamente essa verdade. Amor amigo, amigo amor, no começo é tudo lindo. Só é ruim quando não resta nada depois. Não restou nem o lado ruim de ter de te encontrar por aí nas ruas, nos encontros entre os amigos, no festival de teatro da cidade. Não saberei nem os dias em que estará aqui. Porque te pedi, embora eu achasse que não era necessário, que não me ligue. Que não me escreva. Mas te escrevo enfim. Já não sei se você vai ler. Se ler não sei se vai resistir a me responder. Não responda. Não há perguntas a serem respondidas por você. Busco eu as respostas. Porque já não as encontro em você. Já não te encontro mais. Pensei em te escrever tanta coisa bonita que brotava em mim nestes dias que passamos juntos. E quando me perguntavam pra onde eu fui no feriado eu dizia que fiquei aqui. Às vezes me sentia como se estivesse mentindo. Porque eu me sentia no céu. Mas não era o céu. Era só um pedacinho dele que você me trouxe. Junto com teu cheiro, teu sorriso, tua voz em meu ouvido, junto com teus mimos. Não joguei nada fora. Não ficou a raiva ou o sentimento de ter perdido tempo. Fica agora a sensação de quem sabe ter desperdiçado um grande amor, e não como pode pensar aqueles que nos conhecem, o de ter estragado uma grande amizade. Somos mesmo muito esquisitos. Eu, você e esse sentimento. E voltaremos a dormir cedo, já não há para quem ligar de madrugada aproveitando as promoções das operadoras de celular. E já não há. Lá fora começou a chover. Aqui dentro o vento forte anuncia a tempestade, não tenho mais teus braços pra me socorrer. Luana Gabriela 19/02/2010 "Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem" Caio F. Abreu
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