Depois


Me irrita sua mania de desligar esse celular. Você gritou. E começou então uma longa e filosófica discussão sobre como sou uma pessoa antissocial, imatura, que não sabe dizer não. Você está certo. Eu acrescentaria ainda o fato de ser apaixonada por solidão e ter um amor impossível com uma companhia imaginária de um amor que não virá. Você não falou disso nessa nossa discussão, mas não me poupou nas seguintes.

Nunca entendi esses casais que discutem diariamente e fazem as pazes diariamente, e hoje não me entendo. Todos os dias me pergunto como, porque, onde, pra quê? Aguento e suporto isso tudo, se analisando bem nada vale a paz que você me tirava. Na verdade, também nada vale a paz que você me dava.

Assistindo a um filme, você faz um comentário, eu discordo. De repente. Eu apoiando minha cabeça em teu colo, você fazendo pequenos nós em meus cabelos... e um comentário tudo muda. Levanto a cabeça enfurecida, não posso nem expor minhas ideias. Eu aceito as suas. Aceito tudo que nos é diferente, e tudo nos difere, e talvez fosse essa diferença que nos aproximasse.

Com o tempo veio o cansaço, físico, emocional. Cada vez que brigávamos eu não comia, eu não dormia até que fizéssemos as pazes e às vezes demorava mais de um dia. Até que eu cansada, fui deixando de me importar em dar minha opinião, de expor meu querer, deixei de dizer que sentia sua falta, ouso dizer que não sentia mais sua falta. 

Dias e dias sem se ver, sem motivos. Não foi a agenda de nós dois que nos afastou, foi a distância emocional que você me impôs. Não me tocam suas palavras bonitas, você disse. E elas eram o melhor de mim. Eu com você, não era eu. Era quem você gostaria que eu fosse, assim você foi quem eu quis por algum tempo. O tempo não acaba com o amor, o tempo destrói a paixão, a ilusão, a irracionalidade do início.

Com você eu descobri que o amor é o que vem depois. Depois de você. 

Luana Gabriela
2011
<< >>