Depois de ter vivido o óbvio utópico (...)e de ter brincado sobre a sinceridade e dizer quase tudo quanto fosse natural - LH

Eu cheguei e você não estava. Você não está em nenhum lugar. Não minto, mas também não digo toda a verdade. Há verdade não revelada, velada, (in) verdade. A verdade de dentro. Em todo e qualquer canto há verdade ainda que seja a verdade da mentira. Fui sua mentira, você era minha verdade absoluta. Ainda que não real, ainda. O inverno está a caminho, aqui dentro já chegou. Sempre está frio e chove. Em alguns dias a temperatura sobe, há carinhos que aquecem um pouco o coração, mas não são nem tão quentes e nem tão duradouros a ponto de derreter a grande pedra no peito. Minha grande pedra. E chamo-a assim porque já a sinto como parte de mim. Não haverá como abrir mão. Já não espero dias ensolarados, quem me conhece sabe que sempre preferi os dias cinza. Você não me conhece. Acredite em mim, eu me refiro diretamente a você agora, acredite, eu estou bem. Não guardei nenhuma culpa, deixo todas com você. Não guardei nenhuma mentira, mas ainda tenho muitas verdades a te dizer. Um dia, quem sabe. Surge pelo destino alguma oportunidade. E então eu te olho, você me olha e talvez não seja preciso nada dizer. Já não desejo que este dia chegue, já não desejo nada na verdade. Porque desejar é verbo ausente em meu dicionário, sonhar também, amar também. Verbos estão ausentes. Porque indicam ação e tudo aqui dentro é sem movimento, fluxo interrompido de informações. Falta alguma coisa e eu não sei o que. Mas também falta que eu queira saber. E saber de ti faz falta, mas não chega a doer. Não te contar as novidades, os problemas, não derramar sobre ti meu desajeitado modo de amar, faz falta, mas não chega a doer. Você sempre esteve em meu coração. Hoje não tenho mais coração. Te contei ... me conta também. A soma poder dar um. Pode dar três. Você sempre soube da minha deficiência aritmética. Hoje sou feita de nada. Nem verbos, nem contas. Sou só uma falta. Uma falta que não sei de quê. Eu cheguei em fim, aonde não sei. Sei só que você não estava, mas não faz mais falta.



Luana Gabriela da Silva
30/04/2010


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