Tempo

Aqui não é o vinho falando. É a percepção de que o tempo passou. Você costumava ser aquele pra quem eu corria na tempestade, o que me despertava o riso, que me era um porto seguro, o eterno que nunca teve um início. Quase dois anos se passaram desde minhas últimas palavras nada doces, mas extremamente sinceras pra você. Quase dois anos passaram desde sua última frase, a tentativa de me fazer voltar atrás. 

Eu nunca voltei. Você deveria saber. Quantos relacionamentos você me viu acabar ou viu terminarem comigo e nunca houve volta? Espero ter feito você perceber que não é tão diferente assim. Cinco anos de pseudo companheirismo. Eu sempre soube que a gente ia acabar assim. Eu te indiquei o princípio do fim e você não me ouviu. Você nunca me ouviu. 

Mas agora não sou eu falando. É o tempo. São nossos amigos em comum já acostumados a não falar teu nome pra mim e nem de mim pra você. É minha vida completamente diferente desde que você se foi. São as doenças que eu descobri e trato e você sempre achou que eram frescuras. É o apartamento que eu comprei e você nunca achou que eu conseguiria. A CNH. O carro. Os congressos. Os voos. É tanta coisa que eu receio não há mais nada em mim daquela que te conheceu. 

Não há a inocência de acreditar em alma gêmea. Nem em um único amor em toda vida. Não há os sonhos de casamento, filhos. Todos nossos planos não significam mesmo nada pra mim agora. E não há tristeza nisso. Há um senso de realidade que não me perturba, pelo contrário, me liberta. Desde que te disse pra nunca mais me procurar, eu vim me encontrando pelo caminho que você não queria que eu trilhasse. Há escuridão, mas eu tenho uma luz interna que não me deixa temer. 

Dois anos sem você e eu terei o resto da vida pra me conhecer, me satisfazer, pra ser. O tempo passou e só hoje me dei conta.Um amigo me lembrou seu aniversário no próximo mês. E eu nem preciso me desculpar por esquecer. 


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