Até quando?

Não me olharás com olhos de promessa. Não me fará sorrir num domingo chuvoso. Não serás meu Sol. Não serás nada meu. Não poderá criticar-me pelas prioridades fora de ordem. Não vais reparar na minha mania de folhar as revistas de trás para frente, da esquerda para direita. Não vais reparar que tenho dedos tortos, não vais conhecer meu passado. Não serás meu. Não vais poder criticar o meu hábito de tomar café antes de dormir, meu hábito de não tomar todo o café e sempre restar um pouco. Não vais reparar na mania que tenho de escolher sempre o número 3, de preferir sempre o número ímpar. Porque parece sempre caber espaço para mais, mas também parece nunca ser completo. A mania de deixar o volume da Tv em um número ímpar, sempre mais baixo para forçar meus ouvidos, já que acho que estou ficando surda. Não vais ler meus originais, não vais ler meu semblante, não serei tua personagem. Não serás o meu. Não vais rir da minha insistência em levar a casa dentro da bolsa. Não vais me ajudar a escolher uma caneca para comprar em cada cidade que passo. Não vais achar absurda minha mania de comprar agenda, no início, no meio e no fim do ano. Não vais rir da minha dificuldade em desenhar, em fazer contas. Não vais se apaixonar pelo meu texto. Não vais reparar na mania que tenho de comprar anéis, perfumes, bolsas, tênis. Não vais me acompanhar ao assistir os jogos na quarta, aos domingos e algumas sextas. Não vais me ouvir falar sobre o trabalho, as oportunidades maravilhosas que têm surgido. Não te contarei meus planos, meus enganos, meus desassossegos. Não serás a minha paz. Não serei teu abrigo. Não me refugiarei em teus braços. Não contornarei teu sorriso com meus dedos cansados de estudar violão, não cantarei fora do tom aquela canção que me lembra você. Não ouvirei mais aquela rádio que me indicou. Não mais. Não assistiremos ao último filme daquela saga juntos. Não vais poder reclamar da minha demora em responder sms's, do fato de eu nunca atender ao telefone da primeira vez que me liga, do fato de eu simplesmente não ligar. Não vais estranhar meu jeito nada sensível de dizer: me deixa sozinha hoje e no dia seguinte aparecer dizendo que te gosto tanto e que sinto tua falta. Não vais fazer com que eu me sinta culpada por tardar a dizer que te amo. Por querer sair sozinha. Por não te escrever versos bonitos, logo pra você que me fez tão feliz. Não vais mais fazer com que eu me sinta mal por não querer alguém tão perfeito como você. Não vais mais me fazer sentir como se o amor existisse, se ele não foi capaz de nascer em mim, criar raízes entre nós, só me resta mesmo crer que o amor não existe. Não existe mais nem pra mim, nem pra você. Não vais condenar minha mania de olhar algum casal e pensar: até quando?


Luana Gabriela
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