Gratidão

Gratidão: s.f. Característica ou particularidade de quem é grato.
Ação de reconhecer ou prestar reconhecimento (a alguém) por uma ação e/ou benefício recebido; agradecimento: recebeu provas de gratidão.
(Etm. do latim: gratitudo.inis)


Não tenho motivo algum para não expressar minha gratidão, por tudo que vivi neste ano que está acabando. Melhor ano. Mudanças na vida profissional e pessoal. Um trabalho que me deixa feliz, e o estreitar de laços com pessoas que eu amo. 

Cresci muito, amadureci sem endurecer. Amei. Me senti amada. Cuidei. Fui cuidada. 

Obrigada. Obrigada Deus por cada dia, por cada vitória, por cada benção que recebi, coisas que eu nem esperava. Obrigada pelas pessoas que colocou no meu caminho. Obrigada pelos amigos sempre presentes, e pelos presentes Alice e Marina. Obrigada por tantas orações respondidas, e sorrisos compartilhados.

Obrigada a cada um de vocês que em algum momento me fez rir, ou chorar. Que me abraçou, me escutou, me incentivou, dividiu comigo alegrias, dúvidas, tristezas, que confiou em mim. Algumas perdas e lágrimas. Muitos nascimentos e gargalhadas. Mais dois livros com textos meus (um de poesia e um de crônica), uma conquista que começou com este blog e com vocês que me leem!

Obrigada, fica aqui a minha gratidão. A Deus e a vocês!

2014, seu lindo, pode chegar! Saúde, paz e poesia!

"Eu me atirei em teus braços, e celebro teu resgate. Canto com todas as minhas forças depois de tantas orações respondidas" Sl 13;5-6 (Salmo de Davi)

Caminho

Faz falta o abraço. A segunda caneca na pia. A certeza da espera finda quando da chegada das 19h. Continuo por não ter escolha. E por medo de perder, perco. Mesmo ciente disso tudo, não mudo. Olha lá, mais uma oportunidade de amor, quem sabe, se vai. Nunca saberemos, pois nunca tentamos. Há a vontade de discar pra ele, pra ela, mas a segurança do não é mais forte que a possibilidade do talvez, por dentro teve fim sem nem começar.

A coisa mais difícil que existe é encontrar alguém que também queira tentar. O amor é tentativa. É esforço. Tentar quando sabemos que podemos fracassar, tentar pra, quem sabe, talvez, vencer. Não tentar apenas quando cremos na vitória. Tentar com esforço. Dar as mãos no verão. Não deixar a possibilidade de amor escorrer pelos dedos.

Espantar o medo da gaveta vazia, preenchê-la com teu cheiro. Espantar o vazio do corpo, me preencher por teus dedos, por dentro transbordar. Evitar o toque e a troca de olhares, por medo de te decifrar, de me decifrar em ti. Fazer dos planos dela, previsões do seu destino. Escrever sem saber porque. Reler mensagens, procurando sinais de recíproca. Sinais a gente inventa, depois diz que não era bem assim. Buscamos a confirmação para podermos nos lançar.

O medo do passado ainda presente, e de um futuro inexistente.

Faz falta, a entrega. Duas almas desejando se entregar, se encontrar e se perder.

Tatuagens

“Desde que eu te esqueci eu estou tão outro alguém
que eu nem sei porque é que você não vem” (Clarice Falcão)

Dois anos sem você. Marco a data como um fim, mas foi um recomeço. Setembro chegava com suas cores, cheiros, flores. E dentro de mim o frio e o escuro de um inverno que parecia sem fim. Me cuidei. Fiz logo o que você disse que jamais aceitaria em mim, como se contrariar sua vontade fosse minha maneira de dizer que eu também não te queria mais, que não tinha volta. Me tatuei. Um mês depois de tudo acabar. Fiz o símbolo que revela o que sobrou de mim, depois que você me deixou. Sobrou o vazio.

Nesse tempo, mudei de profissão. Mudei a cor de cabelo. Mudei de endereço. Mudei por dentro. Mudei tanto que não me reconheço. Hoje sou capaz de entender que me deixar entrar no seu mundo foi sua maior prova de amor. E entender que você só me deixou porque eu estava ocupando espaço demais aí dentro, só me faz entender que esse espaço era o que você me deu. A gente aprendeu junto a amar e ser amado. E isso nem o tempo, nem laser, nem novos amores podem apagar. 

Eu não esqueci nenhuma palavra. Nenhuma briga. E nem minha profecia: este pode ter sido nosso último beijo. Eu aproveitei o seu melhor. Eu me sentia protegida do mundo ao teu lado, e fui me sentindo cada vez mais insegura longe dos teus braços. Até que a distância dos nossos mundos virou física e, isso não pudemos suportar. Ouvi no rádio a música que você disse te fazia pensar em mim, recordei nossa trilha, nossos momentos nossas declarações sempre realistas: te amo hoje. Era o que de melhor eu podia te dar, e o melhor que você podia me dar. Eu demorei dois anos pra conseguir estar com o meu melhor de novo, ou o meu novo melhor.


Me sinto inteira. Não espero que alguém me complete, espero alguém me transborde. Estou completamente pronta pra aceitar alguém na minha vida, a sério, como não fui capaz em todo esse tempo. Aceitar. Estar. Amar. Fiz uma nova tatuagem: “Ter fé e ver coragem no amor”. 

Casa

Uma tempestade atingiu a cidade. As luzes estão apagadas e eu não consigo te esquecer. Sem te ver, a lembrança do teu cheiro me embriaga, e estou bêbada de você. Você deve chegar aqui logo, vai me encontrar ouvindo Vanguart, lendo algo do Caio F. ou do Carpinejar. Vai me encontrar em casa, como me encontrou na vida: esperando o amor chegar.

Não acendo velas. A noite vai caindo. As chaves abrem a porta. Sua voz preenche o ambiente, você preenche minha vida. Seu corpo me transborda. Há pedaços de mim espalhados pelo chão, há pedaços de você em mim. Essa é nossa casa, meu lar são seus braços, e sem você sou um amor desabrigado. Em mim tua nuvem pode desaguar.

A vida nos pesa, tem dias tão cinzas quanto aquele seu moletom do U2 que era preto e eu já quis jogar. Mas é ele que tem seu cheiro, é com ele que eu durmo quando você está longe. São nesses dias cinzas que tua força me faz ser forte. 

Me leva como a correnteza, me assusta como um trovão, avistado ao longe, e parece tão perto. Sou um edifício sem para-raios.

“Temos tanto pra falar
Coisas pra esquecer
Lugares que eu quero te levar
Pra isso não morrer em você

Eu me perco em pensamentos coisas tolas
Só me encontro ao pensar nas nossas coisas
Eu já não sou mais quem eu fui” 
Pra onde eu devo ir – Vanguart 

Nós

Eu já fui a pessoa que vai embora na primeira dificuldade. Eu não quero ser assim com você. Então eu persisto. Eu espero, eu busco acreditar no que eu não vejo. Eu procuro me manter longe de tudo que me afasta de você, e às vezes eu preciso não pensar. Não pensar, você sabe, me dói. Deixar de lado a racionalidade, somar que um mais um, no nosso caso não vai dar dois. 

Eu preciso que você lute comigo, por nós. Eu preciso que você acorde desse coma autoinduzido, eu não vou conseguir sozinha. Eu conheci um cara legal, ele é bonito, inteligente, preocupado com o mundo, ele precisa de cuidados, eu poderia cuidar dele, eu poderia me deixar ser cuidada por ele. E eu fico aqui pensando nessa distância e nele, e em como eu poderia me apaixonar por ele, não estivesse eu esperando você. Eu não sei se consigo esperar tanto.

Acorda pra cuidar de mim. Acorda pra viver a realidade e não esse sonho que você persegue e tem se tornado seu pesadelo. Acorda pra nós. Dá corda pra nós. Nós estamos amarrados. Somos só nós. 

Eu quero. Quem não quer?

Respeito. Admiração. Amizade. Humor. Verdade. Companheirismo. Caminhar de mãos dadas na mesma direção. Se perder juntos. Nunca ter vergonha de perguntar, de pedir. Nunca fugir de um confronto. Encarar os defeitos como aquilo que nos torna especiais. Desculpar-se. Contar os sonhos logo na primeira hora da manhã. Chegar em casa com pães quentinhos, ter o cachorro esperando na porta e ele passando café na cozinha. 

Compartilhar trechos de livros que achamos marcantes, que mexeram com a gente e que pode tocar o outro. Tocar o outro. Sentir a temperatura, os pelos se arrepiarem, a respiração ofegar, no peito o coração quase explodindo. Descobrir uma música nova juntos. Desenhar nossa história em quadrinhos, passar a tarde de domingo no sofá, pipoca, filmes, e o amor. Pra gente amor sempre foi sinônimo de paz. E não há paz maior do que a que eu sinto quando nossos dedos estão entrelaçados, minha cabeça descansado em seu peito, um sorriso inocente, os olhos picando lentos, os braços como um abrigo. Segurança. Entrega. 


Micro conto I

Um dia digo que estou apaixonada. Dia seguinte ele diz que está apaixonado. Pronto, tudo resolvido. E cada um vai pra um lado. 

Publicado originalmente no Twitter

Fizemos tudo errado


Fizemos tudo errado. Não deveríamos ter nos beijado nos primeiros minutos. Não deveríamos ter dormido de conchinha já na primeira noite. Não deveríamos atravessar as madrugadas rindo. Não deveríamos transformar todo abraço em esquina. Não deveríamos denunciar nossos pensamentos, permitir o ciúme, expor os nossos defeitos. Não deveríamos, é o que os amigos me ensinaram. Para conquistar alguém, é obrigatório esconder o jogo, fingir independência, disfarçar o arrebatamento. Falhamos, amor. Somos afoitos, ansiosos, sinceros. Fracassamos no drama, perdemos a concentração. Somos péssimos atores do desejo. Nossa história poderia ser diferente. Eu não deveria ter atendido ao telefone no primeiro toque. Você não deveria ter atendido ao interfone no primeiro chamado. Eu não deveria ter dito que sentia saudade na segunda hora. Você não deveria ter dito que sonhava comigo. Eu não deveria ter pedido em namoro no segundo dia. Você não poderia ter aceitado. Eu não poderia ter mandado flores. Você não deveria ter regado as plantas de minha casa. Eu não deveria ter apresentado meu filho no final de semana. Você não deveria ter tomado um Nescau em nossa segunda noite. Eu não deveria ter deitado em seu colo para assistir tevê. Você não deveria ter me apresentado sua mãe e seu pai na primeira semana. Eu não deveria ter convidado para uma festa do trabalho no terceiro dia. Você não deveria ter deixado um vestido em meu armário. Eu não deveria falar de minha vida de solteiro. Você não deveria descrever seus antigos relacionamentos. Eu não deveria ter separado uma prateleira para colocar suas roupas. Você não deveria ter segurado o guarda-chuva. Eu não deveria abrir a porta do carro e puxar sua cadeira no restaurante. Pecamos, tropeçamos na bondade. Você não deveria ter dito que nunca teve tanta intimidade com alguém. Eu não deveria ter dito que a amava depois da terceira noite. Bem que nos avisaram que seduzir é se aguentar, é se conter, é não demonstrar os próprios sentimentos. Fizemos tudo errado, por isso estamos juntos. Amor é exceção, amor é quebrar as regras.


Texto de Fabrício Carpinejar. Peguei no blog da Maria

Fazia tempo mesmo que eu não me emocionava com um texto dele. Achei esse lindo demais, e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. hehehe 

Falling and maybe in love

Todo mundo tem um abismo dentro de si. Quem não tem é superficial. E é em dias como hoje, que eu só quero me jogar o mais fundo que eu puder dentro de mim. Dias nos quais eu percebo o quanto me deixei precisar de você, e quanto me dói perceber que sem você me jogar é tudo que eu posso, e cair machuca, e sem você pra cuidar de mim depois eu talvez não consiga sarar mais uma vez. 

Eu tenho marcas do que não vivi, do que pensei, esperei, sonhei e que não veio a acontecer. Você conhece cada uma dessas marcas, eu não quero que você seja uma delas. Mas está começando a doer. Eu não quero que você me doa. Eu quero que você continue sendo meu remédio, minha cura, o que me sustenta. O que me faz rir, ainda mais quando estou prestes a chorar. 

Eu faço birra, eu grito, desligo o telefone e tento te evitar,  eu queria te pedir um tempo, querendo na verdade que você pedisse pra ficar pra sempre. Eu tenho medo que você entenda. E tenho medo que você não entenda também. E me dói saber que a música que me lembra da gente você nunca vai cantar, eu canto em silêncio os versos que você não ousa conhecer em meio as lágrimas que você nunca me viu derramar, porque perto de você eu só consigo sorrir. Eu encontro paz no teu abraço, eu amo estar ao seu lado mesmo que eu silêncio, eu tenho medo de que alguém te tire de mim, você disse esses dias que tem esse medo também. A gente nunca vai saber,  se isso é só amizade ou é amor também. 


 

Mas egoísta que eu sou, esqueci de ajudar a ela como ela me ajudou e não quis me separar, ela também estava perdida e por isso se agarrava a mim também, eu me agarrava a ela, e eu não tinha mais ninguém... Sei que ela terminou o que eu não comecei, e o que ela descobriu, eu aprendi também eu sei, ela falou: Você tem medo, aí eu disse: Quem tem medo é você, falamos o que não devia nunca ser dito por ninguém... Ela me disse: Eu não sei mais o que eu sinto por você, vamos dar um tempo, um dia a gente se vê... (Legião Urbana - Ainda é cedo)



Tão seu


Eu sinto sua falta
Não posso esperar tanto tempo assim
O nosso amor é novo
É o velho amor ainda e sempre
Não diga que não vem me ver
De noite eu quero descansar
Ir ao cinema com você

Um filme à tôa no Pathé
Que culpa a gente tem de ser feliz?
Que culpa a gente tem, meu bem?
O mundo bem diante do nariz
Feliz agora e não além
Oh!Oh!
Me sinto só, me sinto só
Eu me sinto tão seu
Me sinto tão, me sinto só
E sou teu!
Me sinto só, me sinto só
Eu me sinto tão seu
Me sinto tão, me sinto só
E sou teu!
Eu faço tanta coisa
Pensando no momento de te ver
A minha casa sem você é triste

A espera arde sem me aquecer
Não diga que você não volta
Eu não vou conseguir dormir
À noite eu quero descansar
Sair à tôa por aí
Tão seu - Skank

Diga





Tira a maquiagem pra que eu possa ver
Aquilo que você se esforça pra esconder
Agora somos só nós dois
Já podes parar de fingir

Mas cala essa boca
E me diz com o olhar
Quem era você
Até me encontrar
Se agora és diferente
O que eu fiz que te fez mudar?

Eu lembro dos lábios tremendo ao dizer
Eu não vivo sem você...

Então diga
Que não vai sair da minha vida
Diga que não passa de mentira
Quando dizem que o amor morreu

Tira essa roupa pra que eu possa ver
Que não há uma arma
Tentando se esconder
O mal vive num lar
Perfeito e sem infiltração

E tira o cabelo da cara e me diz
Se por um segundo
Quiseste me ver feliz
Ou se és o meu destino
Tentando me dar outra lição

Eu lembro de cerrar os punhos pra dizer
Eu não amo mais você...

E diga
Que não volta mais pra minha vida
E que a nossa estrada é bipartida
Esqueça o dia em que me conheceu

Então diga
Que nem todo dinheiro dessa vida
Não vai comprar de volta "a acolhida"
No peito de quem já foi todo seu

A casa é minha
Mas pode ficar
Eu volto amanhã
E não quero mais te enxergar
Faça suas malas
E nunca mais volte aqui

Eu juro pela vida
Da mãe e do pai
Ciente do peso
Da expressão "nunca mais"
Volte a oferecer
Teu corpo a quem preferir

Viver ao lado de quem não tem nada pra dizer
Confesse pra mim de uma vez

Mas diga
Que nunca foi feliz nessa tua vida
Teu texto, teu sorriso
De mentira
Pode enganar a todos
Não a mim

Então diga
Que essa mão que acena na partida
Por tantos idiotas, pretendida
É a mesma que decreta o nosso fim

Assisto a teus passos
Como a um balé
Quem vais usurpar
Agora que ninguém te quer?
A verdade demora
Mas chega sempre sem avisar

E o grito contido no teu travesseiro
Ecoa nos lares do mundo inteiro
Não tira esse rímel
Pois hoje eu quero vê-lo... borrar

Diga parte 2 - Lucas Silveira

Não tente entender


Escuta aqui: você é quem mais me conhece no mundo. Mas há coisas que você nunca vai saber. Eu me refugio em você quando a tormenta me atinge, mas assim que e Sol sai eu preciso me afastar pra respirar sozinha.  Algo me sufoca quando divido o ar com você. Eu me mando pra sua casa quando a minha não parece um abrigo, eu fico horas deitada em silêncio e ali estou livre do peso das palavras e de as pessoas tentando me entender, porque você me entende. Mas isso não é tudo.
E ouça bem: me sinto em casa quando estou no seu abraço, eu ando sonhando com nossas mãos entrelaçadas, porque sinto que nossas almas já estão. Mas eu não estou apaixonada por você. E todos a minha volta ficam tentando entender, não há tanto mistério: eu te amo, mas não estou apaixonada por você.

Apesar de todos os passos que demos juntos, nosso caminho não é o mesmo. Eu não quero  passar minha vida disputando gostos e desejos. Eu amo você, mas isso é pouco. Eu me sinto protegida e inteira ao seu lado. Mas isso não é tudo. Você acha que me entende como ninguém mais no mundo, e é verdade, mas ainda é pouco.

Às vezes eu não quero ser entendida, nem acolhida. Eu quero ser tomada por algo que me seja desentendido, que venha de fora e você já está tão dentro. 


Amanhecerá

Vem e descansa tua cabeça em meu peito. Abençoa essa tarde que chega, esse sol que se esconde ,essa chuva que deita. Eis que nos vemos aqui de novo, mais uma vez tentando. Sinônimo de amor é tentar. Eu sei que a gente pode, é só a gente se deixar. Porque o amor não acontece, o amor está. A gente se acontece e não há um novo jeito de dizer que amanhecerá.

Amanhecerá o riso, o olhar pequeno, os braços se esticando até alcançar aquilo que a gente achou que nunca ia nos tocar. O amor é amanhecer. E eu amo os amanheceres de um quase outono. Amanhcerá. Amanhã será.

Amputações


Quando o filme 127 Horas estreou no cinema, resisti à tentação de assisti-lo. Achei que a cena da amputação do braço, filmada com extremo realismo, não faria bem para meu estômago. Mas agora que saiu em DVD, corri para a locadora. Em casa eu estaria livre de dar vexame. Quando a famosa cena se iniciasse, bastaria dar um passeio até a cozinha, tomar um copo d´água, conferir as mensagens no celular, e então voltar para a frente da TV quando a desgraceira estivesse consumada. Foi o que fiz. O corte, o tão famigerado corte, no entanto, faz parte da solução, não do problema. São cinco minutos de racionalidade, bravura e dor extremas, mas é também um ato de libertação, a verdadeira parte feliz do filme, ainda que tenhamos dificuldade de aceitar que a felicidade pode ser dolorosa. É muito improvável que o que aconteceu com o Aron Ralston da vida real (interpretado no filme por James Franco) aconteça conosco também, e daquele jeito. Mas, metaforicamente, alguns homens e mulheres conhecem a experiência de ficar com um pedaço de si aprisionado, imóvel, apodrecendo, impedindo a continuidade da vida. Muitos tiveram a sua grande rocha para mover e, não conseguindo movê-la, foram obrigados a uma amputação dramática, porém necessária. 

 Sim, estamos falando de amores paralisantes, mas também de profissões que não deram retorno, de laços familiares que tivemos de romper, de raízes que resolvemos abandonar, cidades que deixamos. De tudo que é nosso, mas que teve que deixar de ser, na marra, em troca da nossa sobrevivência emocional. E física, também, já que insatisfação é algo que debilita. Depois que vi o filme, passei a olhar para pessoas desconhecidas me perguntando: qual será a parte que lhes falta? Não o “Pedaço de Mim” da música do Chico Buarque, aquela do filho que já partiu, mutilação mais arrasadora que há, mas as mutilações escolhidas, o toco de braço que tiveram que deixar para trás a fim de começarem uma nova vida. Se eu juntasse alguns transeuntes, aleatoriamente, duvido que encontrasse um que afirmasse: cheguei até aqui sem nenhuma amputação autoprovocada. Será? Talvez seja um sortudo. Mas é mais provável que tenha faltado coragem. Às vezes o músculo está estendido, espichado, no limite: há um único nervo que nos mantém presos a algo que não nos serve mais, porém ainda nos pertence. Fazer o talho sangra. Machuca. Dói de dar vertigem, de fazer desmaiar. E dói mais ainda porque se sabe que é irreversível. A partir dali, a vida recomeçará com uma ausência. Mas é isso ou morrer aprisionado por uma pedra que não vai se mover sozinha. O tempo não vai mudar a situação. Ninguém vai aparecer para salvá-lo. 127 horas, 2.300 horas, 6.450 horas, 22.500 horas que se transformam em anos.

Cada um tem um cânion pelo qual se sente atraído. E um cânion do qual é preciso escapar.

Texto de Martha Medeiros,para o jornal Zero Hora.

Digitais


Eu tava aqui tentando não pensar no seu sorriso
Mas me peguei sonhando com sua voz ao pé do ouvido
E te liguei
Me encontro tão ferida, mas te vejo ai também em carne viva
Será que não tem jeito?
Esse amor ainda nem nasceu direito, pra morrer assim

Se você pudesse ter me ouvido um pouco mais
Se você tivesse tido calma pra esperar
Se você quisesse poderia reverter
Se você crescesse e então se desculpasse
Mas se você soubesse o quanto eu ainda te amo
É que eu não posso mais

Não vou voltar atrás
Raspe dos teus dedos minhas digitais
Eu não vou voltar atrás
Apague da cabeça o meu nome, telefone e endereço
Eu não vou, eu não vou voltar atrás
Arranque do teu peito o meu amor cheio de defeitos

Me mata essa vontade de querer tomar você num gole só
Me dói essa lembrança das suas mãos em minhas costas
Sob o sol da manhã
Você já me dizia: conheço bem as suas expressões
Você já me sorria ao final de todas as minhas canções
Então por que?

Se você pudesse ter me ouvido um pouco mais
Se você tivesse tido calma pra esperar
Se você quisesse poderia reverter
Se você crescesse e então se desculpasse
Mas se você soubesse o quanto eu ainda te amo
É que eu não posso mais

Não vou voltar atrás
Raspe dos teus dedos minhas digitais
Eu não vou voltar atrás
Apague da cabeça o meu nome, telefone e endereço
Eu não vou, não vou voltar atrás
Arranque do teu peito o meu amor cheio de defeitos
Cheio de defeitos...

Digitais - Isabela Taviani

Caio F.


"As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era”.
Caio Fernando Abreu em Triângulo das Águas

Esse encontro, nós dois




Um janeiro frio e chuvoso. Estou em casa, sem emprego, só cuidando da nossa casa. Essa casa que agora tem nosso cheiro. As roupas batendo na máquina, a geladeira quase vazia, a lista de mercado sobre a mesa. Chegou a fatura do cartão de crédito. E mês que vem teremos seu salário e o meu seguro desemprego. Mas nada disso, essa contas todas, o condomínio que aumenta todo mês, e o medo de que venha um filho e não estejamos preparados, nem emocionalmente nem financeiramente, nada me tira a paz.

A paz de saber que o amor existe e é você. Que daqui a algumas horas vai chegar, tomar café me contando do trabalho, que vamos assistir algum filme juntos, que vamos rir de alguma situação bizarra pela qual já passamos, que vamos deitar pedindo a Deus que continue abençoando nosso amor.  A paz de saber que terei suas mãos sobre meu rosto no outro dia, e que se o desespero me bate você se esforça pra me entender e me fazer rir.

Essa paz é que diferencia o amor da paixão. Essa certeza de que era pra ser. Essa força que você me dá em não desistir. Essa fé, que cresce quando me vejo nos teus olhos. Esse amor que me cuida e me faz querer cuidar. Você que me tira o folêgo, as palavras. Você que me tirou de mim e me trouxe à vida mais real e linda, a vida que eu nunca imaginei. Que riu dos meus planos tão concretos e duros, que flexibilizou meu coração, meus sonhos, que me tornou possível.

Hoje, quando você chegar , eu quero te receber com o meu melhor sorriso, vestir a alegria de ter você na minha vida, preparar sua comida favorita, pegar o violão e cantar aquela música que é tão nossa.

Ainda Bem - Vanessa da Mata
Ainda bem Que você vive comigo 
Porque senão Como seria esta vida? Sei lá, sei lá...
Nos dias frios em que nós estamos juntos 
Nos abraçamos sob o nosso conforto De amar, de amar
Se há dores tudo fica mais fácil Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me mandam são fato Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não dariam Os dias chegariam sem paixão 
Meu corpo sem o seu uma parte Seria o acaso e não sorte

Ainda bem Que você vive comigo 
Porque senão Como seria esta vida?Sei lá, sei lá...

Neste mundo de tantos anos Entre tantos outros 
Que sorte a nossa, hein? 
Entre tantas paixões Esse encontro Nós dois Esse amor
Entre tantos outros Entre tantos anos Que sorte a nossa, hein?
Entre tantas paixões Esse encontro Nós dois Esse amor

Trecho: O dia em que te esqueci


“É preciso encontrar lugar para o amor na nossa vida, é preciso dar-lhe espaço e tempo, é preciso ser humilde e corajoso, não ter medo de investir, e arriscar, mesmo sem nunca saber o que o futuro nos reserva. (...) Sinto mais confiança na vida, mais confiança em mim e talvez seja isso que constitua a grande diferença entre a mulher que conheceste há cinco anos e aquela em que me fui transformando. Sinto-me muito mais sólida, tenho os pés mais bem assentes no chão; já não confundo os sonhos com a realidade, o desejo imediato com a paixão, o prazer físico com o amor e amor com desejo”  Margarida Rebelo Pinto in O dia em que te esqueci

Quando você voltar





Vai, se você precisa ir
Não quero mais brigar esta noite
Nossas acusações infantis
E palavras mordazes que machucam tanto
Não vão levar a nada, como sempre
Vai, clareia um pouco a cabeça
Já que você não quer conversar.
Já brigamos tanto
Mas não vale a pena
Vou ficar aqui, com um bom livro ou com a TV
Sei que existe alguma coisa incomodando você
Meu amor, cuidado na estrada
E quando você voltar
Tranque o portão
Feche as janelas
Apague a luz
e saiba que te amo...

Quando você voltar - Legião Urbana 
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