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São nestes dias cinza, que dentro de mim o sol brilha. Aquele sol que me faz pensar em mandar um sms e dizer que fim, acabou, quero voltar a ser sozinha. Pensar só em mim, fazer só as minhas vontades, assistir o filme que eu quiser, no cinema e no horário que eu escolher. Quero sair com meus amigos sem ter de dar explicação do porquê ele não está junto.



Nestes dias que tenho vontade de ligar pra um amigo e dizer pra passar lá em casa, tomar um café e buscar minhas coisas, estou de mudança para um quarto no AP de uma amiga no centro. Deixar um bilhete: Mãe fui administrar uma casa do jeito que eu acho certo. Aliás, fui administrar minha vida do jeito que acho certo. Não quero mais ter filhos, não quero ser assunto na sessão de terapia de ninguém. Ter filhos é egoísmo. Não ter também.



São nestes dias que dá vontade de pegar o violão e inventar uma música com acordes dissonantes, um poema em um idioma que não existe. E tudo fazer sentido, ao menos pra mim, que não faço sentido nenhum. Esses dias são dias de ir ao mercado comprar os salgados mais gordurosos e os biscoitos integrais favoritos. De dizer não quando vê algo que lembra ele e deseja comprar. Chega de agradá-lo, alguém tem que pensar em mim, nem que seja eu.



Dá vontade de chegar em casa e falar para irmã mais nova: Vamos querida, a vida não é só balada e ficação, você tem que pensar no futuro ou trabalha ou não come mais. Duro? Sim, mas por que ser maleável com a vida dos outros se a minha nunca foi? Macio em mim só a pela e à base de muito hidratante comprado com meu dinheirinho suado. Dá pra entender? Essas olheiras que disfarço com base e pó de uma linha de maquiagem cara (friso meu), são de trabalhar mais de 18 horas por dia, enquanto você fica aí com a pele boa, curtindo um bom papo no MSN o dia inteiro. Sem preocupação, sem rugas. Essas unhas tão perfeitinhas então, são de quem não entende nada de música, que não tem os dedos calejados pelas cordas do baixo e do violão, unhas enormes de quem não gasta seu tempo fazendo nada além de...nada!



Ah! São nestes dias que eu me permito andar pelas ruas fazendo muito barulho com salto agulha, com a cara feia de quem diz pro vento: Que foi, nunca me viu? Mas também é preciso ser realista. O sol pode sair amanhã, e aí eu vou ver tudo mais claro, e por dentro eu volto a ficar escura e nublada, quem sabe até a chover. Depende da direção do vento, depende do que ele soprar em meu ouvido.



Luana Gabriela
21/092010
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