[ um olhar e um abraço ]

Ninguém jamais me olhou como ele olhou naquela noite de fevereiro. Ninguém antes havia prestado tanta atenção em mim, bom, pelo menos não que eu soubesse. Parecia que ele via em mim algo além do que eu mesma via, e me despertava uma alegria por tê-lo conhecido. Não posso negar eu jamais o esqueci desde o primeiro dia que conversamos. Naquele dia eu fui eu completamente. Sem tentar me fazer parecer o que eu não era e talvez nunca seja. Fui simpática, comunicativa, no meio da noite eu estava cansada de tanto barulho ( irritada) e queria dormir encostar a cabeça num ombro amigo e descansar. Fui também grossa e esquecida. Voltando pra casa, meu amigo me levando até a entrada do condomínio, eu fui falando sobre a minha paixão na época, mas não poderia negar talvez houvesse sim alguém melhor pra eu amar e talvez eu o tivesse conhecido naquela noite. Daquele jeito. Não posso precisar exatamente a ordem cronológica dos fatos, mas ele foi conquistando minha atenção e meu coração aos poucos, a cada dia. Até que eu me dei conta de que ele poderia ser aquele alguém pra vida toda, todo dia, o dia todo. Ainda que fosse só no pensamento. Eu fui abrindo espaços, concedendo tempo, e eu fui gostando dele, de quem eu era quando pensava, falava e estava com ele. E de repente o doce virou amargo, porque eu o queria pra mim. “Eu sei é um doce te amar, o amargo é querer-te pra mim”. Não em encontros esporádicos, nem em conversas de janelas e letras pré-definidas, queria por perto. A voz no ouvido, sem um telefone no meio. Um abraço de verdade, como o que eu tantas vezes tive receio de pedir e tantas vezes precisei para me curar das dores do dia, para aumentar as alegrias vividas, como aquele que eu sonhei um dia. Um abraço que me protegia. Que me envolvia por inteira e nada me pedia. E os dias foram passando e os contatos rareando e eu fui sentindo a falta dele. E eu fui me acostumando a não ter, o que na verdade eu nunca havia tido, ele. Tenho algumas teorias a respeito do porque ele apareceu no meu caminho. Hoje eu sonhei com ele de novo. Mas talvez tudo isso não tenha passado mesmo, de um bom e lindo sonho. E talvez eu tenha entendido que aquele olhar, de fevereiro, tenha sido algo diferente sim. Mas um olhar de admiração, nem amor, nem paixão, nem amizade. Era um olhar de quem admira quem eu sou por dentro. A minha alma está transparente pra ele. Só eu não via.
Luana Gabriela
28/09/2009
Trilha: Um amor puro - Djavan
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