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Coisas que não aprendi na escola, mas com os professores. Lembro com carinho, em geral, apenas dos meus professores de português - corrigindo: professoras. Elizete, Maria, Lúcia, Ana Mira. Os professores de redação não contam, não tinham a literatura como aliada, só o jornalismo, que é muito factual e realista para minha cabeça sonhadora e meu coração romântico. Elas viravam minhas confidentes. Em um texto ou outro eu confessava amor pelo colega da mesa de trás, amor pela música, pelo teatro, amor que faltava a mim mesma e depositava em outras coisas. A Elizete, falava baixinho e muito. Seu marido morava na praia, todas as segundas ela tinha muitas novidades para me contar. Acompanhou-me por vários anos, e foi ela a responsável pelos primeiros livros que comprei. Obras de Pedro Bandeira, e o primeiro romance vampiresco. A Maria me sensibilizava, chamada de Maria a Louca, por todos no colégio, eu estudava só para ela ter a quem falar. Na aula, éramos só eu e ela. Meus braços apoiavam minha cabeça na mesa dela, enquanto os demais, brincavam, dançavam pelo resto do espaço da sala. No ensino médio, só uma professora, Lúcia. Acompanhou-me das tristes e fajutas leituras de Paulo Coelho, até as repetidas leituras das crônicas de Rubem Braga. Aproximou-me dos poemas, me fez declamar “Os Sapos” de Manuel Bandeira, poema que marca o rompimento do poeta com o parnasianismo e o meu com toda e qualquer literatura que não fosse coelhística. Abriu-me os olhos esta professora, para os poemas e para o meu primeiro amor correspondido infeliz. As palavras sempre me levaram ao amor. Dividir o livro de português com ele era outro motivo para desejar mais ainda aquela aula.Superada essa fase, agora na faculdade, aulas de língua portuguesa e redação. Decepção pura! Achei que sabia escrever, achei que sabia ler. Medo constante de pegar DP. Meu crescimento como leitora. Chico Buarque, Luis Fernando Veríssimo e por aí vai. Até hoje guardo uma lista de “livros que você precisa ler antes de sair da faculdade”, não li nenhum praticamente, mas tento. Não é que eu não me lembre dos outros professores, como eu poderia esquecer do Walmir, professor de matemática do primeiro ano do Ensino Médio, expulsa da sala, quase reprovada, assistir a aula no chão da quadra para não reprovar não é algo fácil de esquecer. Mas ainda assim, houve naquele jeito de se impor, um quê de amor professor-aluna, que eu não poderia substituir por uma mágoa sem propósito. “Passei professor, o senhor não terá mais de me agüentar ano que vem.” – Que pena, com quem mais eu vou discutir minha autoridade? E um sorriso, brando como de um pai que diz – Agora que você aprendeu, seja feliz. Há uma semana, encontrei a Lúcia, na Feira de Livros de Literatura e Jornalismo, como me sinto adolescente de novo perto dela. – Oi professora, tudo bem? Lembra de mim? – pergunta idiota que eu odeio quando me fazem, mas irresistível.- Claro que lembro Luana como está? ( não sei se fico feliz por ser lembrada, professora só lembra ou de aluno muito bom, ou de aluno que deu muito trabalho e olhando minhas notas realmente não sei qual é o meu caso). Naquela conversa suas últimas palavras foram: “Não desista da arte. Eu te apoio na sua decisão. Só a arte vale a pena. Vá enfrente.” Coisas que aprendi na escola, paroxítonas, oração subordinada adjetiva, objeto indireto, crase, vírgula, sujeito, verbo... Coisas que não aprendi na escola, mas aprendi com as professoras, amor, amor, amor e respeito. Aprendi não só a ler, escrever, ouvir. Aprendi a amar aquilo que faria parte de mim por toda a vida, as palavras. Aprendi a dar importância a elas, as palavras e as pessoas. Inclusive a mim mesma. Não aprendi na escola, mas aprendi com os professores que o amor supera todas as dificuldades. Porque o amor não é só uma palavra é uma atitude de compreensão além do que pode definir os conceitos de coesão e coerência. O amor é autoexplicativo, não é coeso nem coerente. Só amor a profissão explica a continuidade do brilho nos olhos apesar de todos os problemas que a cerca. Só o amor.
Luana Gabriela
15/10/2009
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