Surpresas

Acabo de assistir a um vídeo de declaração de amor do noivo a uma noiva no momento do casamento. Ele diz que esperava uma mulher que o aceitasse como ele era, e aí ele a conheceu, e ela não era assim. A partir disso ele fez considerações sobre a vida deles juntos e sobre como ele mudou, pra melhor.
Aí pensei em você.

Lembrei de como mudei desde quando te conheci, mudei muito. Amadureci. E você também. Fui abrindo a guarda, fui rindo ao teu ouvido, chorando em teu peito, dividindo noites contigo. Ontem mesmo descobri uma mania sua, a organização das blusas no guarda-roupa. Fui procurar uma pra mim. Pela primeira vez. E foi nessa descoberta, depois de três anos, meu Deus, três anos, que percebi que você ainda me surpreende.
Também ontem falei tão firme contigo que depois de falar meu coração disparou, fiquei esperando uma resposta rude sua, e uma discussão que seria cortada por mim por não querer levá-la adiante, mas não. Você calou, ponderou. Esperou um pouco mais. E argumentou pacificamente. E eu te amei naquele momento. 

Depois da pizza chegar e de matarmos a fome, rolamos de um lado pro outro tentando espantar a insônia, as baterias acabando e a preguiça de conectá-las nos fez conversar por horas como há muito não fazíamos. A luz da tv iluminava seu sorriso e entre uns fatos e outros, você decidiu desligar a tv e deixar um som rolando. 

Discutimos sobre o baixo nas bandas de hardcore e metal melódico, até que aquela nossa música começou e eu não pensava nela como nossa. Soaram os primeiros acordes, eu levanto a cabeça, abro um sorriso e começo a cantar, você me acompanha. É nossa música.

Você dormiu primeiro, mais uma novidade sua. Continuei revirando na cama, pensei em ir pra sala pra poder te deixar dormir em paz, já que cedo você deveria levantar pra trabalhar e eu poderia descansar. Não levantei, te queria por perto, mesmo você estando ausente. No silêncio daquela noite surpreendente eu amei você como nunca antes.

Te amei ciente da verdade de ser amada também. Não importa onde vamos chegar, importa que nos encontramos nas esquinas escuras da vida e hoje trilhamos nosso caminho juntos.
Te amei porque me transformou numa pessoa melhor, você foi mudando, eu fui mudando também. Somos muito melhores juntos, não tem como negar, nem esconder.

Você me acalma. Você me fez perder os medos. Gostar de animais. Cuidar de mim. Voltar a amar.

Você acordou, era quase 4 da manhã, abriu os olhos e eu o coração, então eu disse sem medo: Eu amo você.  E tudo agora é paz. 

Cheio de amanhã

Eu poderia ficar horas olhando pra você. Observado, a noite toda, seu peito descer e subir, acompanhando o ritmo da sua respiração, e sentindo a paz que você me traz. Até que eu pire e sinta que estou dependente demais, e comece a fazer coisas estúpidas, pra que você pense em ir embora, e eu fale que você pode ir, que se você não for eu vou. Aí eu balanço a cabeça, olho pro céu e desejo muito, que dessa vez seja diferente. Desejo sentir aquele amor sem medo do qual eu tanto já ouvi falar. 

Te deixo dormindo, preparo um café, abro o livro, aquele que você me deu "Um erro emocional", do Tezza. Uma narrativa em fluxo de consciência, que narra o encontro de um escritor e sua leitora. Grande parte da história se passa na cabeça dos personagens, e eu desejo muito que não seja assim com a gente.

A gente. Usei pela primeira vez esse termo, juntando eu e você, num falso pronome, e que não seja sinal de que não somos um realmente. Me afundo nos meus pensamentos exatamente como os personagens e me perco. Deixo o livro sobre a mesa. Acho que sou a única mulher do mundo que deseja que o (Como rotular você? Amigo? Amor? Refúgio? Cúmplice? ) ronque. Se você roncasse eu te saberia presente em qualquer cômodo da casa. Sinto sua falta, mesmo estando apenas na cozinha. Meu medo me faz voltar pro quarto. 

Eu me apaixonei pelos teus braços, que me abraçam inteira, que me seguram quando eu quero ir. Que me prendem às vezes tão suavemente que eu tenho medo de escorregar, e aí você percebe que eu estou escapando e me aperta, como se disso dependesse minha vida, e às vezes eu acho que depende mesmo. 

 Sua respiração tão calma, aquieta meu coração. Decido aproveitar esse momento, me ajeito em teu peito, tua paz me embala. E isso não tem fim. 

"Quando chove na cidadeEu lembro de vocêDaquela vez que caiu o céuE eu te coloquei debaixo de mimDa primeira vez que você chorouDeitada no meu peito o coraçãoQuente de dor e amor, quente de dorDemorou pra serMas agora é" Demorou pra ser - Vanguart
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