De pernas para o ar

Cinema nacional: Palavrão/ sexo/ violência/ homem e mulher trocando de corpo. Este é um resumo e tanto do cinema nacional, alguns podem dizer. Contudo, é possível ter gratas surpresas. Abril despedaçado é uma delas. Sem violência, sem favela, sem muito palavrão, um dos filmes nacionais que eu mais gostei, dos que eu já vi, claro. E isso que gosto de violência - entram na minha lista de filmes nacionais "queridos" O bicho de sete cabeças, Carandiru e Tropa de Elite II. Mas a grata surpresa da semana é um filme bem menos pretensioso, ou não. 

Informação importante: Não sou crítica de cinema, e nem pretendo. Tudo que ler aqui são impressões em mim despertadas após assistir ao tal filme. Que filme? De pernas pro ar. Já no nome abre brechas para reflexões, talvez nem tão profundas, talvez sim. O título pode fazer referência tanto a inversão de papéis entre homem e mulher numa relação amorosa, quanto ao ato físico: pernas pro ar. No longa, o marido reclama que a mulher não lhe dá atenção, e a mulher é quem só pensa em trabalho. Deixando claro: não era esse o filme que eu queria ver, mas não me arrependi. 

A protagonista Marcela, trabalha em uma loja de brinquedos no departamento de marketing tem um relacionamento "seguro", um filho, e nas palavras dela: viajamos duas vezes por ano ao exterior, tenho uma vida ótima. Até que ela recebe uma indicação para ser promovida na empresa, o marido sai de casa e por um erro é demitida. A vida de pernas pro ar. Encontra uma vizinha com ares bem diferentes do dela.  Com o tempo, após julgamento mútuo de ambas, elas tornam-se amigas. Mas os pontos que me parecem interessantes são: Mulher bem sucedida perde um pouco da feminilidade (relacionada diretamente à emoção); liberação sexual feminina (ainda não muito aceita pelos homens) e o clichê "é impossível ser feliz sozinho". 

Todos os pontos são verdade socialmente difundidas. Conheço mulheres de 40 anos, empresárias, bem sucedidas nos seus respectivos campos de atuação, só uma delas tem realmente um jeito mais duro, menos emocional. As outras deixam-se aflorar. Cantam enquanto trabalham, separam horários para ser mulher, mãe. Não sei se coicidentemente, mas esta menos emocional também é a única solteira. Não que as outras sejam casadas. Mas aí vou pular para o terceiro ponto. As outras que não são solteiras submetem-se à situações desagradabilíssimas só para ter alguém. Não que elas amem seus companheiros, amor é palavra forte e mal empregada. Em geral eles são menos cultos e ganham menos que elas. Me atirem pedras, mas considero isso importante. Igualdade, estabilidade. A questão é que eles não contribuem em nada para a vida delas, e sei que elas estariam melhor sem eles, como já estiveram. 

A ampla reverberação do "é impossível ser feliz sozinho", faz com que mulheres bem sucedidas, bonitas, inteligentes, cultas, divertidas exponham-se a ter menos do que merecem só para não ficar sem nada. Toda mulher sonha mesmo em ter filhos, marido, casa para cuidar? (Não sou contra, tenho às vezes essas ideias também), mas precisamos generalizar? Para ser boa no trabalho, tem de se negligenciar a família? Para cuidar bem da família é preciso deixar de trabalhar? E para ter um homem ao seu lado - mesmo que só para não estar só - é necessário diminuir-se? Acho que não! E por final o último assunto: a liberação sexual feminina. Após ser demitida Marcela - a protagonista- torna-se sócia da vizinha em uma loja de sex shop. Ela tem temor de contar isso ao marido. Ele acaba encontrando a mulher em uma feira erótica, divulgando seu negócio. Ela aparece com brinquedinhos, ele estranha. Se fosse ele, tudo bem!

Uma das últimas frases do filme (adaptada conforme minha memória): Talvez sucesso não seja conquistar grandes prêmios, mas ter alguém com quem compartilhar as conquistas. A mulher já conseguiu se libertar de muita coisa, já conquistou muitos direitos. Acho que tá na hora de se libertar do mito de ser um ser incompleto que precisa de outro para ser feliz e mais tá na hora de conquistar o direito de escolher ser feliz sozinha, ou com alguém, o direito de escolher e ponto.

Luana Gabriela
Fevereiro 2011

5 marginálias:

  1. Oi,sou eu, a Nira. O link antigo do meu blog deu problema.
    O link novo é
    http://meussentimentoscoisasminhas.blogspot.com/
    Depois passo aqui com mais calma e leio seu post como ele merece ser lido e comentado, ok? É que agora tô avisando o resto do pessoal pois vou precisar restringir o blog.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. Luuana querida, concordo e assino embaixo: não precisamos necessáriamente de alguém para ser feliz. Claro que é um ponto importante, porque devemos ter nossa vida pessoal, principalmente aquela que é contruida ao lado de quem nos faz bem, mas não necessariamente que NECESSITAMOS de tal pessoa para ser feliz. Acho que tuo é questão de se complementar/somar em determinado momento da vida - estudo + trabalho + amor + lazer = escolhas. Tudo é questão de escolha de acrescentar.
    Adorei, vou ver o filme e depois te conto o que achei.
    Beijos =*

    ResponderExcluir
  3. Eu vi o filme e concordo com você com o ponto de que 'a mulher tem de ter alguém', acredito que ser feliz é uma escolha, então, daí vai do desejo de cada um e a sua necessidade. bjssss

    ResponderExcluir
  4. Muitas pessoas associam o fato de ser bem sucedida na carreira com o fato de ser uma mulher só, sem um relacionamento a dois, sem filhos, sem família. Eu, particulamente, acredito, que o sucesso profissional só vem se, primeiro, a pessoa obtiver sucesso emocional. Se a pessoa não é segura emocionalmente, não tiver um suporte famíliar, um porto seguro em casa, não há como suportar toda a pressão do mundo profissional.

    E dá sim pra aliar os dois, é só querer e persistir no caminho da sua felicidade. Afinal, cada um tem seu conceito de 'ser feliz'.

    Beijos!

    ResponderExcluir
  5. acredito que niguém pode ser feliz sozinho. isso é uma condição humana.
    como você mesma disse: "Talvez sucesso não seja conquistar grandes prêmios, mas ter alguém com quem compartilhar as conquistas".
    acredito nisso. sucesso na vida é ter com quem compartilhar. acho que essa é a escolha que devemos fazer: com quem devemos compartilhar a nossa vida? namorado(a), amigos, família, marido ou mulher?
    não precisamos de alguém que nos complete porque somos inteiros, mas é necessário dividir com os outros aquilo que somos.
    grande abraço

    porque não há como escapar dessa verdade: é impossível ser feliz sozinho.

    ResponderExcluir

Faltou açúcar? Quer um verso de creme?

<< >>