Faltava que ele dissesse que não conseguiria ficar sem ela, que ao menos sentia saudades. Ela praguejou escondida, suportou as olheiras, encabulou meses de convívio, tentou ser forte, mudou de planos, pensou que enlouqueceria caso não se abrisse para alguém, não se abriu e enlouqueceu, arrebentou-se em segredo para sofrer sem que ele visse que sofria. Na última semana, ela se reencontrou novamente com o ex. Num ônibus, entre passageiros que nada tinham com isso, ele finalmente declarou sua paixão e expressou todas as palavras que ela queria ouvir. Todas. Até aquelas que não ouviria, pois era vaidade demais imaginá-las. Perguntou inclusive se ela continuava usando o mesmo perfume. Ela riu: "Sim, eu não mudei de perfume." Talvez tenha mudado de corpo, de perfume não. Ele riu, acreditou que ainda era tempo, que ela o aceitaria de volta. Ela afastou os braços dele dos seus ombros. Com ternura. Uma ternura de quem soube avançar pelos espinhos e enxerga a vida da copa das árvores, com mais altura do que o vento. Com mais discernimento. Um amor atrasado não é amor. Um amor atrasado é amizade depois de um amor que não aconteceu. Fabrício Carpinejar PS: Não desejo um novo amor atrasado, nem de oito nem de cinco anos. Não desejo que se atrase nenhum minuto.

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