O exercício do desamor

O amor vem fácil. Ou pelo menos o que se acredita ser o amor. Se amar é um exercício, o desamar também. Eu sei amar, mas desamar é uma matéria, que apesar de eu ter experiência, ainda não sei lidar direito. Ele foi o primeiro, e até agora único, a quem eu decidi dar uma chance, e por mais pretensioso que isso pareça, não é bem assim. Se você permite, eu me corrijo. Foi ao lado dele que eu resolvi me dar uma chance. Nos gostávamos. Mas não deu certo, pelo menos não por muito tempo. Mas de qualquer forma aqueles foram os melhores e também piores dias da minha “vida amorosa”. Não que ele não se esforçasse em me agradar, e que eu também não fizesse o mesmo por ele. Mas havia algo de errado, ou não havia. Porque hoje eu vejo, faltou entrega, ficamos ambos muito cheios de "armaduras". Tentar amá-lo não foi fácil, mas pior foi desamá-lo. E permita-me a exaustiva repetição do termo, até então, possivelmente não existente em seu vocabulário. Se há algo que me faz sofrer é a prática do exercício do desamor. Amar é fácil. Enalteça as qualidades, diminua os defeitos, crie situações em sua mente e pronto, estará amando. – vamos fingir que isso é um processo racional – Mas desamar é dolorido, tanto para quem pratica quanto para quem será desamado. Dói porque é necessário desconstruir aquela pessoa até então perfeita, mas que você não quer mais amar (ignore os motivos que te levaram a querer isso). Apegue-se a um defeito, (aí está a dificuldade, a pessoa era perfeita pra você), torne-o grande. Pode ser a pouca idade, a imaturidade apesar da idade, o modo como ri, ou o modo como é querido por todos – o que antes era qualidade pode virar defeito. Mas essa não é a pior parte. Dói ainda mais você negar todo o carinho que queria dar aquela pessoa. Dói calar o elogio. Ignorar o olhar. Fechar o sorriso. Chorei por querer abraçá-lo e não querer ao mesmo tempo. Dói calar uma preocupação antes tão presente. “Porque será que ele está assim, tão quieto e distante?” “Será que resolveu o problema do trabalho?” “E a vó dele será que melhorou?”. Dói porque as minhas palavras não serão mais doces, serão rudes, breves e indiferentes. Estou exercitando o desamor. Ao agir assim eu estou pedindo: “Por Favor, me ignore. Não olhe para mim, não fale comigo. Eu preciso parar de te amar”. Mas parece que a incompreensão faz o efeito ao contrário. “O que está acontecendo? O que eu te fiz. Eu não suporto ver você agir assim”. Obrigando-me a ser ainda mais rude, e a magoá-lo além do que mesma suportaria. Pedi que ele me deixasse em paz, que a presença dele me incomodava. Foi a pior coisa que eu poderia ter feito, e justo para ele que tanto quis me fazer feliz. Ele cantava: “Eu vou tentar fazer você feliz, nem que seja pela última vez”. Nunca pensei que poderia fazer alguém triste como eu o fiz. E pior foi perceber que nada disso mudou o que ele sentia. Ele respeitou meus pedidos. Mas não resistia a me presentear no aniversário, ou simplesmente quando encontrava algo que o fazia lembrar de mim. Ele teve outras nesse período de dois anos, que tudo aconteceu, e hoje está bem com sua nova namorada. Estou realmente feliz por ele. Com o tempo, eu fui me reaproximando. “Fico feliz que tudo esteja voltando ao normal”, ele me disse. E continuou: “Senti muita falta da sua amizade nesse período, precisei muito de você”. E ali estava eu, no papel da amiga compreensiva novamente. Hoje tomo todo o cuidado do mundo pra não magoar quem eu gosto, não quero cometer aqueles mesmos erros. Dessa vez eu quero fazer tudo certo. A começar pela “escolha” da pessoa. E assim não mais ter de desamar.
Luana Gabriela 21/09/2009

3 marginálias:

  1. Amor é tão facil d achar né?! mais eu acredito q não seja amor d verdade, hj o ''te amo'' ficou banalizado! todo mundo ama todo mundo!
    beijos

    Adorei o blog!

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  2. "Amar é fácil. Enalteça as qualidades, diminua os defeitos, crie situações em sua mente e pronto, estará amando. – vamos fingir que isso é um processo racional – Mas desamar é dolorido, tanto para quem pratica quanto para quem será desamado. Dói porque é necessário desconstruir aquela pessoa até então perfeita, mas que você não quer mais amar (ignore os motivos que te levaram a querer isso). Apegue-se a um defeito, (aí está a dificuldade, a pessoa era perfeita pra você), torne-o grande. Pode ser a pouca idade, a imaturidade apesar da idade, o modo como ri, ou o modo como é querido por todos – o que antes era qualidade pode virar defeito. Mas essa não é a pior parte. Dói ainda mais você negar todo o carinho que queria dar aquela pessoa. Dói calar o elogio. Ignorar o olhar. Fechar o sorriso. Chorei por querer abraçá-lo e não querer ao mesmo tempo. Dói calar uma preocupação antes tão presente."


    aaaaaah como eu acho incrivel que quando eu passei por isso, e admito q ainda passo de vez em quando, eu não imaginava que isso acontecia com muita gente também. Querendo ou não, foi através disso que amadureci.

    Beeeijooos

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  3. Pois é... parece que o "desamor" tem a mesma cor pra todo mundo!

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