Não amo ninguém

“Se todo alguém que ama Ama pra ser correspondido Se todo alguém que eu amo É como amar a lua inacessível É que eu não amo ninguém Não amo ninguém Eu não amo ninguém, parece incrível Não amo ninguém E é só amor que eu respiro” Não amo ninguém - Cazuza.

Um dia ele me ligou, contou que havia encontrado enfim. Disse com estas palavras: essa mina, é a mulher da minha vida. Não pude me conter. Um sorriso enorme se abriu em meu rosto e ficou em mim aquela coisa de – não acredito no que estou ouvindo. Conhecendo-o como conheço, sabia que não era brincadeira. Sabia o quanto ele havia pensado e analisado os fatos antes de assumir isso para ele mesmo, e logo depois para mim. Olhar aquele menino, no riso, nas brincadeiras, homem nos sonhos e nas responsabilidades, totalmente apaixonado me fez sorrir. Embora, claro, como melhores amigos que somos, ele soubesse que a minha realidade era outra. No fim da conversa, que deixou o café esfriando, ele disse que estava muito feliz, mas que para a felicidade dele ser completa ele queria me ver feliz também. Não houve de mim nem um sorriso, nem uma lágrima, como resposta. Ele sabe o que eu digo no silêncio, mesmo quando abaixo a cabeça, tomo o resto do café frio, pego a bolsa e sugiro: Vamos embora? Claro que ele sabia que só aquela afirmação dele, verdadeira, me acalmava. Ele adivinhava quando eu precisava dele, mas também sabia quando eu precisava de espaço e silêncio. Partimos dali, me deixou em casa, foi para casa dele. Quando eu olho o rosto dele, o modo como a descreve, não consigo deixar de desejar que isso dure para sempre. Que haja sempre compreensão da parte dela, respeito da parte dele. Hoje, de verdade eu não amo ninguém. Sem dúvidas, sem ter de optar pelo mais velho ou pelo mais novo. Sem ter de escolher entre um que me quer e não tem nada que eu quero, e entre outro que eu quero e não me quer. Porque não amo ninguém. Durante muito tempo fui substituindo amores. Mas faz algum tempo que sinto um vento soprando, como brisa leve dentro de mim. Levando a poeira dos antigos amores e das dores de antes embora. Porque todos os meus amores foram como a lua, eu podia ver, mas não tocar. E tocar em amplos sentidos, na pele e por dentro. E minha mão controlava-se para não ser impulsiva e tocar aqueles cabelos, que meu rosto chegou tão perto, mas desviava daquele beijo. E por dentro deles eu nunca soube o que havia. Nunca toquei um coração. Mas também hoje é o dia do silêncio, dia da distância. Eu vejo o amor de longe, de fora. E dizem que quem está de fora vê melhor. Vejo esse amor (do meu amigo e sua namorada), e todos os outros dos abraços apressados antes do ônibus partir, dos telefonemas saudosos quando um deles não pôde sair, das mãos dadas nas ruas, das alianças reluzentes, e acho lindo. Porque já não me causa dor. É que eu não amo ninguém, mas é só amor que eu respiro. Acho lindo quando tudo exala amor, mas quando ele está fora e não em mim. É preciso entender que o amor não é o último suspiro. O amor é o ar. E estamos eu e ele fluindo.

Luana Gabriela 09/01/2010

Participação Postagem Coletiva.

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Vento com Som de Riso