A outra metade não importa muito.


Me deixou como um recuerdo uma falta de gosto pelas pessoas & coisas.. Trata-se de uma decepção diferente: não penso obsessivamente, não tenho vontade nenhuma de ligar nem de escrever cartas, não tenho ódio nem vontade de chorar. Em compensação também não tenho vontade de mais nada. Uma grande, uma enorme, uma devastadora falta de saco para qualquer pessoa.

...

Não consigo escrever, não tenho tentado. Fico me enganando. Tenho pensado numas coisas muito cruéis a respeito. Sempre pensei que literatura justificava minha vida. Começo a perceber que. Não sei que começo a perceber. Tenho medo de não escrever nunca mais. Escorregar cada vez mais fundo nesse esvaziamento.
Deixa pra lá.

...
Carta queixosa, depressiva. 50% é astral de gripe. A outra metade não importa muito.

Caio F. à Maria Clara (80/82)

4 marginálias:

  1. Desistência consciente! amo textos e falas assim. Bjs moça.

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  2. todo mundo sente isso um dia... uns lutam contra e seguem escrevendo, outros se rendem e depois se arrependem.
    bjs

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  3. pra mim o problema nunca foi a raiva...sempre foi a não vontade de sentir raiva...o sentir nada!

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  4. Sempre há de surgir uma leve fraqueza. Na caminhada tão longa que temos, é natural que haja uma desistência gradual, como uma assimilação da realidade vivida.

    Todo mundo sente o que nos faz fraquejar. É difícil conter. Principalmente se render...

    Beijos

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