por Fabrício Carpinejar -

O apaixonado é o último a acreditar que está apaixonado. O apaixonado não respeita sinais de trânsito. Dentro de si, um engarrafamento interminável. Passa o dia inteiro entre a primeira e a segunda marcha, entre a primeira e a segunda pessoa do singular. O apaixonado entra na relação independente e autônomo, afinal já passou por relacionamentos anteriores e pretende usar sua experiência. Finalmente vai colocar em prática o breviário da sedução e exercitar os conselhos dados aos amigos. No começo, parecerá implacável, seguro e confiante. Criou uma fortaleza de dar medo. Depois de alguns beijos e de entortar o pé sem perceber, sacrificará as táticas e será sincero como nunca na vida. Falará dos seus medos, confessará segredos que nunca ousou contar, irá se declarar de modo precoce contrariando sua idéia de que não poderia fazer isso. É necessário colar o adesivo de "frágil" no apaixonado, não sobrevive de um endereço a outro, de uma certeza a outra. É um corpo em mudança. Vontade de conversar com você mais do que tive de me conhecer. Vontade de respirar sua respiração, pensar ter falado e não falar. Vontade de não ter existido antes para não me contradizer. O apaixonado é um feriado. Ele se perde no trabalho porque está concentrado na falta. Ele é a própria falta. Preste atenção no jeito de um apaixonado sentar, torto e desajeitado, ele não ocupa toda a cadeira, é como se dividisse seu canto com alguém imaginário.

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